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A tragédia humana do rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho, Minas Gerais, pode ser maior do que a Vale, empresa que controla a exploração no local, vem divulgando em seus veículos institucionais.
A jornalista do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração Kátia Visentainer destacou que alguns sindicatos de profissionais atuantes na cidade mineira garantem que as listas apresentadas pela Vale desconsideram nomes de trabalhadores em atividade na região no momento do desastre.
“Há muitos questionamentos de sindicatos que estão em Brumadinho de que a lista de trabalhadores desaparecidos é muito maior do que a Vale fala em público. Então tem de se ver quem realmente estava trabalhando no momento e também como será o trabalho com as famílias. A Vale marcou uma reunião com esse sindicatos na tarde de ontem, para as pessoas se deslocaram de Belo Horizonte para lá, e faltando cinco minutos para a reunião, a empresa cancelou”, acusou.
Na última atualização dos números, a mineradora confirma a ocorrência de 65 mortes e 279 pessoas que ainda não foram localizadas. Em Bento Rodrigues, distrito do município de Mariana, também em Minas Gerais, houve a perda de 19 vidas humanas após o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em 2015.
Aliás, o episódio que provocou o maior desastre ambiental do país, com o vazamento de pouco mais de 47 milhões de m³ de lama tóxica, não deixou ensinamentos para as autoridades que fazem a fiscalização das barragens de rejeitos de minério Brasil afora.
“Quando aconteceu a tragédia de Mariana, nós acreditamos que se aprenderiam as lições que vieram, que mudariam coisas, que as mineradoras pensariam a estruturar sua segurança, mas de fato não acontece. Em termos de tragédia humana essa é proporcionalmente absurda, o maior acidente de trabalho do mundo. Acredito, no saldo disso tudo, é que estamos tendo uma punição imediata, coisa que não aconteceu no caso de Mariana. Até hoje ninguém foi preso ou responsabilizado por aquelas mortes”, lembrou Kátia.
As diferentes instâncias da Justiça bloquearam cerca de R$ 11 bilhões da Vale para garantir o ressarcimento das vítimas da tragédia e cobrir os danos ambientais causados. Além disso, a empresa recebeu duas multas – Ibama e Governo de Minas Gerais – que totalizam R$ 349 milhões.
Nesta terça-feira, cinco pessoas foram presas suspeitas de ter responsabilidade no rompimento da barragem de Brumadinho: em São Paulo, dois engenheiros da empresa TÜV SÜD, que prestava serviços para a Vale, e três funcionários da mineradora, em Minas Gerais.
“Estamos vendo nesse momento com essa tragédia, além de uma mobilização social, temos uma diferença brutal desse discurso. Mudanças têm de acontecer no modelo minerário brasileiro. É totalmente absurdo imaginar mais que uma empresa possa ter o poder de fazer as coisas da forma como bem entende, que o Estado seja convivente com tudo isso e que 300 vidas se percam”, declarou.
Ouça a entrevista de Kátia Visentainer para o Faixa Livre:
Entrevista em 29.01.2019