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O grande assunto no Rio de Janeiro continua sendo incêndio que matou 10 jovens atletas no centro de treinamento do Flamengo. Nos jornais são páginas e páginas sobre esse assunto e ele começará a ser discutido hoje aqui no programa também. Na guisa de editorial desse comentário inicial que fazemos, vou ler um texto do jornalista Rodrigo Mattos que foi publicado no site UOL. O título é “Flamengo não merece ser linchado, mas precisa começar a responder perguntas”.
“Desde a tragédia da morte dos 10 jovens no Ninho do Urubu, há uma disputa entre um grupo que quer botar o Flamengo no cadafalso de imediato e uma parte de seus torcedores que defende o clube de forma cega. As duas posturas não contribuem para a ponderação necessária para esclarecer os fatos.
Assim como não ajuda em nada a atitude da diretoria rubro-negra que, por enquanto, só faz pronunciamentos e se recusa a responder a perguntas e a se submeter ao escrutínio da sociedade.
Primeiro, vamos fazer uma diferenciação necessária: o Flamengo não é a Vale, principal suspeita de responsabilidade pelo desastre de Brumadinho. A mineradora é uma empresa multinacional que visa ao lucro explorando minério e que não se importa com ninguém além de seus efeitos econômicos, empregos e acionistas.
O clube é uma instituição que não visa ao lucro e cuja importância é social, especialmente para quase um quinto da população brasileira. Não é apenas uma diretoria de engravatados, mas cada um que paga ingresso, torce, se importa, e inclusive os dez jovens que morreram. O mesmo vale para todos os grandes clubes brasileiros.
Talvez exatamente por isso o Flamengo tenha uma responsabilidade social tão grande ou maior do que a mineradora com as vítimas e também com a população em geral. Quando dez jovens morrem em suas dependências, é dever do clube assumir toda a parte que lhe cabe neste latifúndio e se mostrar aberto à sociedade para se explicar.
No primeiro aspecto, o clube, sim, foi célere na condução da assistência às vítimas e tem contribuído para as investigações em torno do caso. Mas, no aspecto da transparência, o Flamengo tem falhado nessas primeiras 48 horas desde a tragédia.
Ao meio-dia de sexta-feira, o presidente Rodolfo Landim fez um pronunciamento rápido, emocionado, e pouco esclarecedor. Havia pouco tempo, mas bastava a ele dizer que não podia responder a uma ou outra questão. À tarde, a prefeitura do Rio já divulgava várias informações de que havia irregularidades em relação ao CT do Ninho do Urubu, como falta de documentação ou dados contraditórios no projeto em relação ao real.
Um dia depois, o CEO do clube, Reinaldo Belotti, admitia, em pronunciamento sem questionamentos, que ainda precisava legalizar o CT e que faltava um dos nove alvarás necessários, sendo este o dos bombeiros. Alegava que isso nada tinha a ver com a tragédia. Como não respondeu perguntas, não foi possível esclarecer diversos pontos.
Aí vão alguns: Como ele pode afirmar que a falta de alvará nada tem a ver com acidentes se os bombeiros não deram aval à instalação? Quem garante que, mesmo na boa fé, o clube não descumpriu normas para prevenir incêndios que podem ter contribuído para o acidente? Já houve alguma vistoria anterior dos bombeiros em alvarás que venceram?
Em relação às posições da prefeitura, novas dúvidas: por que o município afirma que o projeto de licenciamento atual não incluía o alojamento se estava construído ali há anos? Há licenças anteriores que previam a instalação? Por que o estacionamento de profissionais que só funcionaria em 2019 estava previsto na última licença?
Ressalte-se que não é só ao Flamengo que tem faltado explicações: a prefeitura do Rio deu informações sobre falta de licenciamento, alvará e multas, mas ainda não informou como o CT ficou aberto tanto tempo irregular.
O colega Mauro Cezar ajudou a responder a algumas dessas perguntas em seu post. Mas ainda não está claro por que o prefeito Marcelo Crivella tirava fotos ao lado de dirigentes rubro-negros com o CT irregular e, agora após o acidente, denuncia irregularidades que já estavam postas.
Além da coletiva, jornalistas têm procurados os atuais e antigos dirigentes do Flamengo que cuidaram do projeto do CT e têm obtido poucas respostas. O comportamento do clube é um equívoco para quem, diante do ocorrido, tem que se explicar para a seus torcedores, a familiares dos jogadores, à sociedade brasileira. A transparência é uma obrigação de uma entidade social como o Flamengo. É possível que a falta de documentação tenha relação com a tragédia ou não. É possível que o clube tenha cometido falhas que levaram ao acidente ou não. Só a investigação da perícia vai determinar de fato, e o clube arcará com sua responsabilidade. Mas cabe ao clube dar o máximo de esclarecimentos públicos para tornar esse quadro límpido.
É ótimo prestar assistência às vítimas, mas tão essencial quanto é demonstrar que o clube não está preocupado em apenas preservar sua própria imagem e, sim, em contribuir para revelar a verdade independentemente de quem será afetado. O Flamengo já deu diversas amostras dignas em seus 123 anos. É hora de abrir suas portas para honrar os 10 meninos rubro-negros que se foram”.
Ouça o comentário de Cid Benjamin: