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Editorial – 13.02.2019

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O governo Bolsonaro tem quatro eixos de sustentação política:

 

1)         no terreno dos costumes, o conservadorismo, encabeçado pelas igrejas de negócios, voltadas para explorar a fé de pessoas pobres e enriquecer picaretas travestidos em bispos e pastores;

2)         no plano da política, os ataques aos direitos democráticos, com apoio de setores militares que ressuscitam um surrado discurso anticomunista e antiesquerda, enterrado desde os tempos da Guerra Fria;

3)         No plano internacional, o entreguismo exacerbado, com o abandono de um projeto nacional de desenvolvimento e de inserção no cenário mundial e a submissão integral aos ditames dos Estados Unidos;

4)         no plano econômico, o ultraneoliberalismo, que radicalizou as propostas de Fernando Henrique Cardoso e de Michel Temer, no sentido do enfraquecimento do Estado, do ataque aos direitos dos trabalhadores e da defesa radical das privatizações.

 

Este último eixo, a política econômica, tem como principal intérprete o ministro da Economia Paulo Guedes, o Posto Ipiranga do presidente, já que Bolsonaro admite ser analfabeto nesse terreno.

 

Guedes está longe de ser alguém especialmente preparado para a função que exerce. Sua experiência é outra: ganhar dinheiro na especulação financeira. Mostrou até desconhecer coisas primárias, como o fato de que o Orçamento da União para um ano tem que ser aprovado no ano anterior. É impressionante.

 

Pois bem, no afã de pavimentar o terreno para novas privatizações e tentando desmerecer as estatais brasileiras, Guedes afirmou sexta-feira passada que elas são como “filhos drogados que fogem dos pais”.

 

Deixando de lado o lamentável preconceito presente na afirmação, vamos discutir o ministro diz sobre as estatais.

 

Pelo pouco tempo que temos, vamos dar apenas de dois exemplos para demonstrar que determinadas atividades não podem ficar à mercê da busca do lucro, objetivo de qualquer empresa privada.

 

Primeiro: o fornecimento de água à população. Digamos que um pai de família esteja desempregado e sem condições de pagar suas contas, dentre elas a de fornecimento de água e coleta de esgoto (serviços que, pelo menos no Brasil, são operados por uma mesma empresa). O que propõe Guedes nesse caso? Que a família tenha cortado o fornecimento de água para sua casa? É isso? Afinal, os defensores das empresas privadas não se cansam de dizer que elas não têm por que fazer filantropia. Por isso, vendem os serviços que prestam e têm o lucro como objetivo.

 

Um segundo exemplo: há atividades econômicas em que as possibilidades de lucro a curto prazo podem eventualmente se chocar com os interesses do país a médio ou longo prazo. Por exemplo, a extração do petróleo. O que fazer se, do ponto de vista dos lucros imediatos, for mais interessante aumentar o ritmo de extração para aproveitar uma conjuntura de preços altos no mercado, mas, para os interesses gerais do país, for conveniente seguir o caminho contrário, poupando um produto que, em algumas décadas, vai acabar? O que vai prevalecer? Os interesses imediatos da empresa ou os interesses mais gerais do país? Se a empresa for privada, a busca do lucro vai nortear suas decisões. E ninguém poderia reclamar.

 

O que foi dito sobre o petróleo pode ser estendido para qualquer mineral de interesse estratégico para o país. O que vai determinar a política no setor, a busca do lucro imediato ou o interesse do país a longo prazo?

 

Esse debate tem que ser feito.

 

O velho e surrado discurso de que empresas privadas têm mais eficiência e são geridas de forma mais competente – muito difundido pelos entreguistas e por grande parte da mídia – já não se sustenta.

 

Estão aí as tragédias de Brumadinho e Mariana para lembrar que, no prazo de apenas três anos, tivemos demonstrações que desmentem isso.

 

A Vale foi criada em 1942. Em pouco tempo tornou-se uma das maiores empresas de mineração do mundo, sendo a mais importante produtora de minério de ferro e de níquel. Produz ainda manganês, cobre, bauxita, potássio e alumínio, entre outros minerais. Em 1997 foi privatizada pelo governo Fernando Henrique Cardoso numa operação altamente suspeita, devido ao baixo valor pago pelos novos donos.

 

Com o boom das chamadas commodities e a demanda de mais importações pela China, o preço do minério de ferro aumentou muito. Os lucros da Vale também.

 

Mas nos 45 anos em que a empresa foi estatal não conheceu desastres como os de Mariana e Brumadinho. Como não era privada, havia mais cuidado com a segurança, mesmo que os gastos nessa área reduzissem um pouco os lucros.

 

Haveria mil outros exemplos para demostrar que é uma falácia essa história de que a iniciativa privada é mais eficiente na gerência das empresas.

 

Mas algum ouvinte do Faixa Livre viu esse debate travado na mídia? Algum defensor das estatais já foi convidado pela GloboNews para se é verdade essa história de que o privado funciona bem e o estatal funciona mal?

 

Se isso aconteceu, francamente, eu não tive conhecimento.

 

Mas a discussão precisa ser feita.

 

Ouça o comentário de Cid Benjamin:

 

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