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Amigos, este fim de semana jogou-se uma cartada muito importante na Venezuela. Os Estados Unidos pilotaram uma ação junto com o autoproclamado presidente Juan Guaidó e a Colômbia para criar uma comoção na Venezuela em torno de uma suposta ajuda humanitária. É interessante que os Estados Unidos bloqueiam os recursos da Venezuela que estão depositados em bancos americanos em um valor altíssimo e acenam com uma ajuda humanitária de alimentos e remédios que não estão podendo ser comprados porque o dinheiro está bloqueado.
Eu tinha redigido um editorial para ler hoje, mas ontem à noite, nas redes sociais, li um artigo do amigo, companheiro e colaborador da Faixa Livre Gilberto Maringoni e pensei ‘é do mesmo assunto e está melhor do que eu fiz’. Então aposentei o meu editorial e vou ler o texto do Maringoni, é sobre o que aconteceu nesse fim de semana e o Maringoni já esteve na Venezuela várias vezes, inclusive havia mais elementos no texto dele do que no meu, o meu era mais movido pela indignação com mais essa “ajuda humanitária” que já arrebentou tantos países mundo afora com os Estados Unidos afirmando agir em defesa da democracia e dos direitos humanos, logo quem. Mas diz o texto do Maringoni:
“É PRECISO DIZER COM todas as letras: Nicolás Maduro obteve uma vitória incontestável e espetacular contra a tentativa de derrubá-lo através da entrada forçada de uma torta “ajuda humanitária”, articulada pelo Departamento de Estado, com auxílio da Colômbia e do Brasil. Inquestionável e espetacular, não menos que isso
Os Estados Unidos demoraram a encontrar uma tática para retirar Maduro do poder que fosse palatável à opinião pública global. Quando Donald Trump declarou, na ONU em 26 de setembro do ano passado, que “Todas as opções estão na mesa, todas. As mais e menos fortes. E já sabem o que quero dizer com forte”, estava se referindo a uma intervenção militar direta. Mariners e boinas verdes marchariam sobre Caracas.
NÃO É FÁCIL, MESMO PARA UM IMPÉRIO, materializar uma ação desse tipo. É preciso um mínimo de consenso internacional, do suporte da maioria da opinião pública de seu país e de legitimidade dentro do país invadido. Os Estados Unidos já realizaram intervenções diretas na América Central, no Oriente Médio e na Ásia. Mas nunca na América do Sul.
Aqui valeu sempre a terceirização de ações. Ou seja, alianças com o empresariado, as forças armadas, os meios de comunicação, a Igreja católica e parcelas da opinião pública. Foi o que se viu no Brasil (1964), no Chile (1973) e na Argentina (1976).
Trump se animou ao ver a correlação de forças regional mudar em 2018, com a vitória dos direitistas Ivan Duque, na Colômbia (junho) e Jair Bolsonaro, no Brasil (outubro). Não se sabia como uma iniciativa “forte” seria recebida na sociedade Venezuelana. Havia – e há – forte crise econômica e dificuldades materiais pesadas para a população pobre.
AS INCERTEZAS QUANTO A APOIOS INTERNOS na Venezuela seriam assim compensados por uma sólida frente externa, que envolveria Sebastian Piñera (Chile) e Maurício Macri (Argentina). Havia dúvidas sobre a unanimidade na União Europeia, pela posição ainda equidistante de Portugal e Espanha, nos últimos meses do ano. Mas França, Inglaterra, Itália e Alemanha se somariam à articulação da Casa Branca, o que logo arrastou todo o Velho Mundo.
As articulações dentro da Venezuela se voltaram para o poder unilateralmente anulado pela Constituinte convocada por Maduro, em junho de 2017. Trata-se da Assembleia Nacional (AN), que seria o ponto de apoio de todas as movimentações sediciosas.
Em 11 de janeiro deste ano, dia seguinte à posse de Maduro, Juán Guaidó, até então um obscuro parlamentar em primeiro mandato que assumira a presidência do Legislativo, se dirigiu a um protesto em Caracas e chamou o sucessor de Chávez de “usurpador”. Ato contínuo, convocou o Exército, o povo e a comunidade internacional a apoiar os esforços da AN para tirá-lo do poder. E se colocou à disposição para assumir interinamente a presidência do país.
IMEDIATAMENTE, A MÍDIA INTERNACIONAL traçou perfis para lá de favoráveis de Guaidó, que seria um líder moderno, carismático e democrático. O troféu babaovo ficou para um colunista da Folha de S. Paulo, que atentou para suas semelhanças gestuais com Barack Obama.
Foi o que bastou para cerca de 50 países – a começar por Estados Unidos e Brasil – reconhecerem Guaidó como líder de um governo de facto. Construiu-se um empate catastrófico, uma dualidade de poderes que levou a Venezuela a um impasse aparentemente insolúvel. Guaidó chegou a designar embaixadores, receber verbas internacionais e passou a ser saudado como chefe de Estado.
MADURO RECEBEU APOIOS quando China e Rússia – além de México, Uruguai, Bolívia e outros – literalmente trancaram a rota de uma unanimidade internacional (e no Conselho de Segurança da ONU, para onde a questão ameaçou ser levada). No início de fevereiro, o secretário-geral da Organização, António Guterres, afirmou ser Maduro o presidente legítimo do país.
O DEPARTAMENTO DE ESTADO deve ter percebido que o desenho de uma intervenção direta seria extremamente arriscado diante do quadro internacional. E projetou uma solução híbrida: reforçaria os dutos de dinheiro a Guaidó, convocaria as forças armadas do Brasil e da Colômbia a participarem do show midiático marcado para 23 de janeiro, quando toneladas e toneladas de “ajuda humanitária” entrariam por bem ou por mal na Venezuela, e açulou seus mais fiéis cães de guarda, Iván Duque e Jair Bolsonaro.
Deu errado.
O que falhou e como Maduro obteve sua vitória espetacular?
Algumas hipóteses:
Um ponto a mais deve ser levantado. Tirando a vitória de Manuel López Obrador, no México em julho passado, a esquerda latinoamericana não tinha boa notícia assim há anos.
Não é pouca coisa, gente…”
Ouça o comentário de Cid Benjamin: