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Às vezes as coisas parecem simples, mas, quando examinadas com mais atenção, se vê que, no fundo, são mais complicadas. Pode ter ocorrido isso com as prisões de Michel Temer e Moreira Franco, ontem. Aparentemente elas foram apenas a consequência lógica do que os dois personagens plantaram ao longo de suas vidas públicas. Eles estariam, agora, colhendo os frutos.
Mas o embrulho pode ser maior. Nos últimos dias aconteceram episódios que certamente estão vinculados a essas prisões – a não ser que se acredite que os procuradores e juízes da Lava Jato são isentos e não atuam com viés político. Não é o meu caso.
Além de procuradores e juízes envolvidos com a Lava Jato, existem outros personagens presentes em acontecimentos que podem estar relacionados com a prisão: o presidente Jair Bolsonaro, ministros do STF e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Vejamos.
Cena 1. Recente pesquisa mostrou que o capital político de Bolsonaro está se desfazendo rapidamente. Nunca um presidente teve tão pouca aceitação popular apenas três meses depois de assumir o primeiro mandato. São evidentes as dificuldades do governo para aprovar a reforma da Previdência, seu carro-chefe.
Cena 2. Os personagens da Lava-Jato também estavam por baixo, pois sofreram duas derrotas em apenas uma semana: (a) na proposta de criação de uma fundação privada, dirigida por eles, que iria gerir recursos públicos no valor de R$ 2,5 bilhões para combater a corrupção; e (b) na queda-de-braço sobre quem julgaria acusados de caixa 2, se a Justiça comum (e, portanto, o próprio pessoal da Lava Jato, em alguns casos) ou a Justiça Eleitoral.
Cena 3. O ministro Sérgio Moro, alinhado com a turma da Lava Jato, tinha levado um passa-fora público de Rodrigo Maia, ao tentar cobrar do presidente da Câmara maior celeridade na tramitação de seu pacote anticrime, que está sendo protelada por Maia.
Cena 4. As prisões de Michel Temer e Moreira Franco, que é sogro de Maia, e de integrantes de seus esquemas suspeitos podem ser lances dessa disputa.
Cena 5. As prisões parecem ser uma cartada para o grupo da Lava Jato retomar a iniciativa. Ou, ainda, a tentativa de buscar uma pauta positiva para Bolsonaro, dado que as prisões de Michel Temer e Moreira Franco seriam bem recebidas pela sociedade.
Isso posto, é bom deixar claro o seguinte: Michel Temer e Moreira Franco são políticos da pior espécie, são gente contrária ao povo e a favor da entrega do país ao imperialismo. Mostraram isso ao longo de suas vidas políticas. Temer só não teve cassado o mandato de presidente – obtido por um impeachment golpista – por ter comprado parlamentares. Moreira só não tinha sido preso antes por ter sido feito ministro pelo amigo presidente.
Que a Lava Jato e seus protagonistas agem politicamente, isso já ficou demonstrado de forma clara. Embora provavelmente Michel Temer e Moreira sejam culpados de vários crimes, é preciso que suas prisões sejam respaldadas na legalidade e não no simples capricho de procuradores e juízes que já se mostraram pouco confiáveis. Por enquanto não se sabe se é isso.
Por fim, é bom que essas prisões não sirvam de salva-vidas para o governo Bolsonaro, ajudando a que ele recupere parte da popularidade perdida. E nem que desviem o foco da resistência à aprovação de uma proposta de reforma Previdência nefasta que vai crucificar os trabalhadores.
É hora de centrar fogo nas mobilizações de rua e nas pressões sobre os parlamentares para impedir a aprovação de mais esse crime.
Ouça o comentário de Cid Benjamin: