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O Ibama demitiu esta semana o servidor José Olímpio Augusto Morelli. A razão? Em 2012, ele autuou o então deputado Jair Bolsonaro, que acabou multado em R$ 10 mil por pescar em área protegida.
No exercício de suas funções, Morelli, que era funcionário concursado, assinou o auto de infração e o relatório do flagrante de Bolsonaro. Foi também o autor da foto na qual Bolsonaro aparece num barco, de sunga branca, tendo ao fundo uma vara de pescar. Ele esteve na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ), área protegida e em que não é permitida a presença de pessoas e, muito menos, a pesca.
O caso se arrastou durante sete anos sem que Bolsonaro pagasse a multa. Depois de sua posse na Presidência, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, veio publicamente em sua defesa com uma tese capaz de corar um frade de pedra. Disse que o fato de o presidente estar num barco, dentro do mar, com uma vara de pescar não era evidência suficiente para a autuação.
“Ele foi multado porque estava com uma vara de pesca. O fiscal presumiu que ele estava pescando”, afirmou o ministro.
É inacreditável. O que Bolsonaro estaria fazendo então com os apetrechos de pescaria?
Este foi um caso pouco relevante, a não ser pelo seu simbolismo. O funcionário foi, agora, demitido por ter cumprido seu dever profissional e ousado multar o então deputado, hoje presidente.
Lamentavelmente, não foi o único exemplo envolvendo o presidente e sua família que serve para mostrar mostra que os critérios republicanos não se aplicam a eles. Em apenas três meses de governo se multiplicaram os casos assim.
O ex-PM Queiroz – amigo, laranja, faz-tudo e sabe-se lá mais o quê de Bolsonaro – debochou do Ministério Público ao ser chamado para depor, depois de flagrado em transações econômicas suspeitas. Um cidadão comum faria isso sem ser incomodado? Pois Queiroz não foi.
Os filhos de Bolsonaro – que já fizeram jus ao epíteto de Três Patetas – pintam e bordam no governo do papai, sem que tenham qualquer cargo nele e sem que sejam desautorizados.
A cerimônia da posse já tinha antecipado a situação. Um deles, ostensivamente armado, exibindo um jeito cafajeste de ser e fazendo cara de mau, sentou-se na parte de trás do Rolls Royce presidencial, como se fosse um segurança. Assim, participou da cerimônia. Nunca se viu coisa igual.
Outro dos Três Patetas derrubou um ministro que ousou trombar com ele. E era um ministro importante, nada menos que o secretário-geral da Presidência.
Outro filho sapecou na cabeça o boné de campanha de Trump, como se garoto-propaganda fosse, e arvorando-se a chanceler e saiu a fazer articulações internacionais. Chegou até a pregar a invasão militar de um país vizinho.
O terceiro filho participou da primeira reunião ministerial do governo Bolsonaro, que, por natureza, deveria ter a participação vedada a quem não fosse do Ministério. Não satisfeito, desandou a sacar fotos com seu aparelho celular, postando-as nas redes sociais. Deixou claro, com o gesto, que a segurança do Planalto não se atreveu a recolher o seu celular, a exemplo do que fez com os aparelhos de todos os ministros.
Enquanto isso, outro dos três filhos (como se vê, o autor deste artigo os confunde e, sinceramente, já não sabe se está falando do pateta 01, do 02 ou do 03) usa o twitter para agredir o presidente da Câmara e ditar regras sobre todo e qualquer assunto do governo, como se voz oficial tivesse. Não é desautorizado pelo papai. É mais um pimpolho fazendo travessuras.
As flagrantes ligações da família Bolsonaro com as milícias – grupos criminosos da pior espécie – não são investigadas pelo outrora candidato a justiceiro Sérgio Moro. Aliás, o mesmo Moro, agora ministro, elabora um projeto de combate ao crime que não dá a menor importância às milícias. Será que as notórias ligações do presidente com milicianos inibem uma ação do ministro da Justiça?
A verdade é que voltamos ao reino do “sabe com quem está falando.”
O país está diante de gente que pensa ser uma família real, mas não passa de um bando de caipiras autoritários, grosseiros e primários, deslumbrados com o poder, e ignorantes do que significa uma república e o funcionamento de um Estado democrático.
Enfim, estamos diante de um retrocesso civilizatório.
A espantosa demissão do funcionário do Ibama não foi algo isolado. Ela é perfeitamente coerente e se articula com um conjunto de fatos.
Fatos escabrosos, por sinal.
Ouça o comentário de Cid Benjamin: