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Editorial – 08.04.2019

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É com muita alegria e saudade que volto para o nosso convívio diário aqui no Faixa Livre. Quero inicialmente agradecer ao Cid Benjamin e ao Álvaro Nascimento por esses dois meses e uma semana que estive afastado. O Cid segurando a barra da apresentação do Faixa Livre por dois trepidantes meses, e o Álvaro, que em um momento inteiramente imprevisto, assumiu com coragem, competência e dedicação a uma tarefa que, sabemos, não é das mais simples. Mas muito além dessa alegria e desses meus agradecimentos, há também muita preocupação.

 

O que sempre chamo de excepcionalidade institucional continua em curso e, pior, se agravando. Depois do questionável impeachment de Dilma, dos desdobramentos da Lava Jato e particularmente em relação aos processos contra Lula, das gritantes irregularidades do processo eleitoral, acabamos por ter na Presidência da República um político escancaradamente despreparado e com posições absurdas sobre história, política ou costumes, verdadeira vergonha internacional, conforme já nos demonstrou em suas recentes viagens aos Estados Unidos e a Israel.

 

Mas, mais grave ainda, a sua mediocridade como político abriga também, agora revelada, estreitas relações com poderosos grupos milicianos, acusados também de patrocinadores de um tal ‘Escritório do crime’. Isso mesmo, um escritório do crime aqui no Rio de Janeiro. Se não bastasse, esse chamado ‘Escritório do crime’ é suspeito pela execução da vereadora Marielle Franco. É importante lembrar que no início do ano passado especulações apontavam a possibilidade da candidatura da então vereadora Marielle ao Senado nas eleições daquele ano.

 

Esse é apenas um detalhe que deveria ser investigado pela polícia, já que o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, também intimamente ligado às milícias, se colocava como aspirante a uma das vagas em disputa justamente para o Senado. Mas o que quero mais uma vez chamar atenção, muito além de detalhes que não podem ser desprezados em uma investigação policial séria, é que nenhum desses efeitos, dessas consequências que temos vivido hoje no Brasil, toda essa excepcionalidade institucional não teria sido possível sem um concurso decisivo de segmentos do Poder Judiciário com o respaldo e a iniciativa do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral e também, pasmem, do alto comando do Exército.

 

O Supremo, o TSE e o alto comando, sob a batuta do general Villas Bôas, foram os grandes fiadores desse processo que nos levou à tragédia da eleição de Bolsonaro. O general Villas Bôas, apenas para avivar nossa memória, era o comandante do Exército dos governos Dilma e Temer. Foi ele também que, às vésperas de um julgamento do Supremo Tribunal Federal a respeito de um possível habeas corpus beneficiando Lula, se manifestou em rede social repudiando a impunidade e alertando que o Exército estava atento às missões institucionais. Foi ele também que recebeu rasgados elogios de Bolsonaro quando o presidente deu posse ao General Fernando Azevedo e Silva como ministro da Defesa.

 

O general Fernando Azevedo e Silva, por sua vez, foi justamente colocado com intervenção direta de Villas Bôas como assessor do presidente do Supremo, o Antônio Toffoli, justamente naqueles momentos tormentosos onde o próprio governo Temer sofria fortes pressões e onde a pressão popular pela liberdade de Lula também crescia. Por isso, mais do que nunca, é importante lembrar que Villas Bôas hoje ocupa uma das salas do Palácio do Planalto como assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional. Portanto, o que quero chamar atenção é que estamos vivendo um altíssimo risco.

 

Vejam bem, a intenção de liquidação das mínimas condições para o Estado brasileiro criar e colocar em marcha um projeto soberano de nação, porque as contrarreformas de Bolsonaro, de Paulo Guedes, representam justamente isso. Tudo isso, portanto, através de um governo presidido por um político despreparado, cercado de milicianos e, pior e incrivelmente, respaldado pelo Supremo e pelo Tribunal Superior Eleitoral, ao mesmo tempo em que reintroduz uma elite militar na alta administração e na política brasileiras.

 

Uma elite militar hoje inteiramente subordinada ideologicamente a uma potência militar estrangeira, os Estados Unidos. Qual é o papel, portanto, das oposições em um quadro como esse? Confesso não considerar que a mera participação em processos eleitorais, cada vez mais controlados por regras que visam manter o status quo, ou a combatividade parlamentar possam dar conta dos desafios que a gravíssima situação nacional nos impõe. Qual é o caminho assim que partidos políticos, movimentos sociais, intelectuais, instituições democráticas e nacionalistas devem tomar? Essa passa a ser, me parece, a questão central que devemos discutir frente à escandalosa e irresponsável excepcionalidade institucional que vivemos, sobre o patrocínio, sejamos claros, de leis e de armas.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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