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O momento é extremamente delicado. As forças bolsonaristas convocam manifestações através das redes sociais em apoio ao governo Bolsonaro, manifestações essas endossadas, inclusive, pelo Clube Militar nesse momento. Mas, ao mesmo tempo, as próprias forças bolsonaristas encontram-se absolutamente divididas com algumas divergências públicas explodindo e mostrando como a forma que Jair Bolsonaro conduz o país e, principalmente, a sua própria estratégia política, se é que podemos assim chamá-la, divide seus próprios aliados.
Ontem, por exemplo, Bolsonaro em meio às mil dificuldades que o governo enfrenta dentro do Congresso para fazer valer seus projetos, tanto criticou os políticos em solenidade aqui no Rio de Janeiro, junto aos empresários da Firjan, como, ao mesmo tempo, voltou a acenar com negociações dentro do próprio Congresso. Isso mostra muito bem essa posição errática do governo que vai produzindo os rachas, inclusive na sua própria base. Já há divergências públicas entre as suas lideranças dentro do Congresso e até mesmo entre figuras bolsonaristas de primeira linha e primeira hora, como é o caso dessa deputada estadual de São Paulo Janaína Paschoal, que pontificou durante o processo de impeachment como uma das principais defensores do afastamento de Dilma Rousseff.
Hoje especula-se que ela pode largar o partido do Bolsonaro, o PSL, pelo qual foi eleita, mas tudo isso mostra como um governo sem uma estratégia clara para enfrentar os problemas cruciais que estamos tendo, relativos inclusive às medidas que estão sendo tomadas no país na área econômica desde 2015, quando Joaquim Levy assumiu o comando do Ministério da Fazenda, ainda no governo de Dilma Rousseff, e deu início a um conjunto de medidas que levaram o país à sua mais grave recessão em 2015 e 2016, e ao longo de 2017, 2018 e desse ano de 2019, simplesmente produz uma estagnação que novamente aponta para um processo recessivo.
O número de desempregados é gigantesco, o país padece cada vez mais de condições mínimas de funcionamento para o serviço público, que deveria, no momento de crise, estar funcionando a pleno vapor para, de alguma maneira, atenuar os efeitos dessa crise no dia-a-dia dos trabalhadores, mas o que observamos é cada vez mais arrocho. Ontem, o governo lançou sua campanha oficial a favor da contrarreforma da Previdência, esse conjunto de medidas que em última instância irá liquidar de vez não somente a Previdência Social pública no país, mas o próprio conceito de seguridade social consagrado na Constituição de 1988, e o lançamento dessa campanha oficial da proposta para a área da Previdência por parte do governo se dá em meio a esse massacre midiático promovido pela mídia empresarial, pela mídia dominante, diuturnamente a favor da reforma.
Eu me espanto muito porque, até o momento, nenhum partido de oposição tenha ingressado com uma ação, uma medida, uma campanha que seja para que as redes nacionais de televisão, que são concessões públicas, abram um debate franco a respeito de todas as consequências que estão por vir caso essa contrarreforma da Previdência seja aprovada. Na verdade, essas redes nacionais de televisão, concessões públicas, se comportam como um partido das hostes bolsonaristas e investem todos os seus esforços, analistas, comentários, para justificar o injustificável, inclusive com muitas mentiras.
É nesse sentido que o mínimo que poderíamos esperar é que essas redes nacionais abram um debate franco a respeito de tudo aquilo que a reforma da Previdência, ou a contrarreforma da Previdência, pode produzir no nosso dia-a-dia, mas não é isso que estamos assistindo. Junto agora com essa campanha oficial promovida pelo Palácio do Planalto, teremos mais do mesmo, e onde as questões centrais, que dizem respeito ao interesse dos trabalhadores, são deixadas de lado.
Esse é o Brasil que vivemos hoje, um Brasil que vive um processo de excepcionalidade institucional como eu denomino tudo aquilo que vem acontecendo aqui no país desde a abertura do impeachment contra Dilma Rousseff e pode nos levar, a qualquer momento, a um aprofundamento da crise, inclusive com essas manifestações dos bolsonaristas e essa estreita ligação que essa turma tem, e hoje isso cada vez fica mais provado, com milícias poderosíssimas pelo menos aqui no Rio de Janeiro. Esse é o quadro que temos a partir de uma situação gerada pelo próprio Poder Judiciário, que permitiu uma série de processos muito questionáveis desde esse impedimento da Dilma Rousseff.
O destino do nosso país nesses próximos dias, semanas, poderá nos influenciar por décadas e é por isso que temos de estar absolutamente atentos, especialmente quando a gente observa que essas manifestações marcadas para o próximo domingo cada vez mais contam com apoios nas redes sociais, mas, ao mesmo tempo, com muita preocupação, inclusive dessa própria mídia dominante que joga todos os seus esforços para fazer avançar no Brasil esse projeto liberal, que é justamente o responsável maior pela crise econômica que estamos vivendo. Em suma, estamos em péssimos momentos e, principalmente, necessitando de oposições que sejam muito mais contundentes no combate a um governo que pode nos levar a um desastre total.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: