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Os apoiadores de Bolsonaro atenderam ao seu chamado e foram às ruas ontem por todo Brasil. Foram manifestações variadas, não muito massivas, exceto em algumas capitais, mas mostraram que Bolsonaro e seus filhos, principalmente, hoje possuem um canal direto de interlocução com suas próprias bases que deve preocupar a todos os setores efetivamente democráticos. Bolsonaro, de alguma maneira nessa sua ação, esteve isolado.
Movimentos importantes que apoiaram sua candidatura à Presidência e a sua campanha estiveram fora praticamente e, mais que isso, estabeleceram críticas inclusive à iniciativa de chamar a população para as ruas. Movimentos que foram organizados após as manifestações de 2013, como o Brasil Livre, e outros, como esses deputados de São Paulo que foram eleitos recentemente, estabeleceram críticas à iniciativa do presidente, mas a sua ação acabou resultando em um apoio importante e onde as pautas do governo acabaram reforçadas, ainda que evidentemente possamos questionar o número de pessoas que efetivamente tenham ido às ruas, mas isso é o de menor importância nessa altura do campeonato.
O que mostra é que Bolsonaro e sua turma mais direta de apoio tiveram capacidade sim de se mobilizar e reforçou essas posições em torno das chamadas pautas reformistas, que na verdade são, no nosso ponto de vista, um retrocesso para o país, mas vêm empolgando alguns segmentos, conforme ontem ficou claro. Além disso, Bolsonaro reforça também as suas críticas ao Congresso, ao próprio Supremo Tribunal Federal, e é nesse sentido que talvez a gente possa avaliar o que poderá vir à frente.
O próprio Jair Bolsonaro afirmou que as manifestações foram um recado àqueles que teimam em velhas práticas, uma das organizadoras do ato lá em Fortaleza claramente afirmou que o movimento tem como objetivo criar maiores condições para o Congresso ceder às pressões que vêm do Palácio do Planalto, abandonar suas velhas práticas fisiológicas e ratificar as posições do governo Bolsonaro. Uma das ativistas independentes dentro desse movimento afirma claramente que se o Congresso não fizer o que o povo está pedindo, isso será só o começo.
É lógico que essa ativista procura puxar a brasa para sua sardinha, mas o fato é que existe hoje uma divisão na sociedade, principalmente entre setores organizados e aqueles que atendem a esse chamado direto do presidente Bolsonaro e, principalmente, dos seus filhos. Isso foi registrado inclusive por um senador insuspeito do PSD da Bahia que, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, expressou o seguinte, o senador Otto Alencar: “o que ele está fazendo é chamar para o confronto, só acirra os ânimos”. Ele, evidentemente, é uma referência ao próprio Jair Bolsonaro.
Nesse sentido é muito importante observar qual será de fato a posição da chamada oposição, principalmente a oposição de esquerda porque essa linha direta de Bolsonaro e seus filhos com setores bolsonaristas abre o flanco também para críticas diretas ao modo de se fazer política do próprio Bolsonaro. Bolsonaro e seus filhos têm ligações orgânicas com as milícias aqui do Rio de Janeiro, essa é uma questão que precisa ficar mais clara para a opinião pública, inclusive para os setores bolsonaristas. É a introdução de um elemento explosivo na política, de maneira muito mais explícita do que até hoje esses setores estiveram presentes.
As milícias sempre foram uma espécie de apoio subterrâneo a determinados tipos de políticos. Agora claramente elas aparecem com ligações comprovadas com o clã Bolsonaro e me parece que isso precisa ser muito melhor explorado pelas oposições e particularmente pelo PSOL, por uma questão muito objetiva: cada vez mais reforçam-se as suspeitas de que a família Bolsonaro pode estar por trás do assassinato de Marielle. Porque o partido não cobra de forma mais incisiva esse tipo de investigação e as consequências que poderão advir daí?
De mais a mais, existem ligações concretas da família Bolsonaro, inclusive dentro do gabinete do antigo deputado, hoje senador Flávio Bolsonaro, com figuras de proa da milícia e do próprio ‘Escritório do crime’, escritório esse que presta serviços de assassinatos aqui no Rio de Janeiro. Tudo isso poderia ser muito melhor explorado pela oposição junto, evidentemente, de um maior esclarecimento e uma maior ofensiva em torno do que chama a pauta de reformas, particularmente a questão da Previdência.
Nesse sentido, o grande aliado de Bolsonaro não são as milícias, mas é particularmente a mídia dominante, uma mídia que vive a partir de concessões públicas e onde essa oposição também deveria ser muito mais rigorosa em cobrar o mínimo de imparcialidade na cobertura que temos observado tanto nos noticiários de televisão, quanto de rádio. É necessário abrir o debate a respeito da questão previdenciária, o que está em curso é um verdadeiro crime, acobertado por essa mídia dominante baseada em concessões públicas e onde apenas um lado da questão é apresentado de forma intensiva. Esse lado é o lado do governo, daqueles que querem golpear os pilares da seguridade social no Brasil, estabelecido na Constituição de 1988, e abrir campo para uma farra ainda maior dentro do orçamento público para os gastos financeiros.
Essas duas questões, me parece, emergem nesse momento com muita força, uma ofensiva contra as ligações da família Bolsonaro com as milícias e, ao mesmo tempo, o esclarecimento à opinião pública a respeito de todas as consequências que estão em curso caso a dita contrarreforma da Previdência venha a ser aprovada. Nesse sentido, mais do que nunca, é necessário pressionar os meios de comunicação para uma abertura de um debate efetivamente democrático e que esclareça a nossa população. Nossa sociedade hoje está tanto pressionada por essa presença constante da influência das milícias na política, como também por essa mídia criminosa que se alinha a bancos e multinacionais para retirar ainda mais direitos do povo trabalhador brasileiro.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: