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Debate: As denúncias do The Intercept Brasil

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No grego, ética significa caráter, costume, hábito. Na filosofia, o conceito é o estudo do conjunto de valores morais de um grupo ou indivíduo. Para os apoiadores da Lava Jato, ética era representada por Sérgio Moro. Era. As revelações do site The Intercept Brasil das trocas de mensagens suspeitas entre o ex-juiz e agora ministro da Justiça e os procuradores da operação anticorrupção colocaram em xeque a até então ilibada carreira do homem que condenou o ex-presidente Lula e parte da credibilidade da força-tarefa.

 

Para debater os efeitos da divulgação das conversas para o futuro – e o passado – da Lava Jato e para os rumos do governo de Jair Bolsonaro, que tem o ex-magistrado como um de seus homens fortes, o Faixa Livre convidou três jornalistas: Cid Benjamin, Henrique Acker e Gustavo Gindre, do coletivo Intervozes.

Cid Benjamin

Cid Benjamin

 

A denúncia do site criado por Glenn Greenwald, além de colocar uma nuvem de desconfiança sobre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, famoso pelo Powerpoint ligando o petista aos casos de corrupção na Petrobras, acende o sinal amarelo no Palácio do Planalto.

 

Não bastassem as dificuldades já existentes na articulação da gestão do ex-capitão do Exército com o Congresso Nacional e da mobilização popular contra as pautas regressivas, um novo ingrediente foi adicionado na última quinta-feira (13), com a queda de um integrante do núcleo militar.

 

“O governo não vive seus melhores dias. São quatro elementos de crise que se superpõe: a questão da Previdência, em que há claras dificuldades para aprovar o projeto, o problema do Moro com Dallagnol, mostrando uma prática pouco republicana, a resistência do movimento de massas, hoje é dia de greve geral, e por fim há um quarto elemento que contribui para tornar mais complicada a situação que é a demissão do general Santos Cruz”, lembrou Cid.

 

As primeiras mensagens reveladas dos principais nomes da força-tarefa de Curitiba indicam que houve uma espécie de conluio entre eles para acelerar o processo judicial do ex-presidente Lula e impedi-lo de disputar as eleições presidenciais do ano passado. Esse tipo de contato entre julgador e acusador é proibido e pode ocasionar a anulação dos inquéritos em que há suspeita.

 

Em outro trecho divulgado pelo The Intercept, em diálogo de abril de 2016, Dallagnol menciona o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, dizendo que o magistrado teria declarado apoio a Moro em um ‘queda de braço’ com o também ministro Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em 2017 e então relator da Lava Jato na Corte.

 

As revelações advindas por intermédio de um grupo de comunicação como o site criado pelo jornalista estadunidense mostra a falta de comprometimento da mídia dominante do país com a investigação de casos que atendem a certos interesses políticos.

 

Gustavo Gindre

Gustavo Gindre

“O fato é que nós estamos no quinto ano dessa operação Lava Jato, e foi preciso um site, uma empresa de pequeno porte, um jornalista que sequer é brasileiro, para que alguns fatos, evidências, fossem levadas a público a partir da confiança de alguém que soltou essas informações todas. Há uma crise muito grande na mídia brasileira e as reações são as piores possíveis”, citou Acker.

 

Parte dos grandes veículos nacionais, em especial os das Organizações Globo, preferiram dar destaque à forma como aconteceram os vazamentos – supostamente através do ataque de hackers – ao conteúdo divulgado nas trocas de mensagens pelo aplicativo Telegram.

 

As críticas de partidarização da Lava Jato, antes originadas nas legendas do campo progressista, começam a ganhar eco em outras vozes. Para Gustavo Gindre, não há dúvidas do caráter ilegal do direcionamento das investigações. Outro aspecto, referente a um dos Poderes da República, foi relatado pelo jornalista.

 

“Está evidente que o processo foi orientado politicamente. Isso já havia suspeitas e as gravações deixam claro, e ainda revelam outra questão que estamos chocados. Esse é um caso mais excepcional, até porque esses caras se imbuíram de um caráter quase que messiânico, ou seja, podiam fazer tudo pois eram os portadores da verdade, mas, na verdade, a Justiça brasileira é isso, esse poder pouco transparente, essas decisões autocráticas, monocráticas, onde as pessoas não precisam prestar contas a ninguém”, avaliou.

 

Em entrevista recente ao Faixa Livre, Glenn declarou que os dados revelados até agora são apenas a ‘ponta do iceberg’. Há a expectativa de que empresas de comunicação e outros magistrados da Suprema Corte sejam envolvidos na polêmica.

 

Há, no entanto, quem desconfie dos interesses do Intercept em divulgar os dados vazados. O jornalista Pepe Escobar, correspondente brasileiro no exterior, acredita que a exposição do panorama no Brasil seria passível de interferência da Rússia, o que poderia favorecer aspirações bolsonaristas na estigmatização de entes considerados socialistas.

 

Henrique Acker

Henrique Acker

“Acho isso uma maluquice. Diante de um fato jornalístico você não tem de se preocupar qual é a intenção, é um fato. Eu posso perguntar qual é a intenção do Pepe Escobar em escrever isso, será também aliviar o Moro a essa altura da vida? Não vou fazer essa pergunta porque não tenho elementos para desconfiar do Pepe Escobar, mas tenho elementos para confiar no Intercept. A trajetória do Glenn é muito positiva do ponto de vista do jornalismo. Ele comprou um barulho com o governo americano, com a CIA, o NSA, as maiores agência de inteligência do mundo com o episódio Snowden”, confiou Cid.

 

Ele se refere ao ex-administrador de sistemas da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) Edward Snowden, que tornou públicos dados secretos, sendo acusado de roubo de propriedade do governo. O caso Moro-Dallagnol traz à tona a discussão sobre o papel do jornalismo no país.

 

“Se o jornalista tem o material, se é comprovado, confiável em termos de publicação, ele tem de tornar público, essa é a nossa função. O debate é da sociedade, agora há uma inversão de valores. Hoje em dia você liga a televisão e não tem fato, só tem comentário, versão. O tempo inteiro as equipes de especialistas pegam um palito de fósforo e tentam transformar aquilo em uma floresta amazônica”, criticou Acker.

 

Ouça o debate na íntegra:

 

 

Debate em 14.06.2019

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