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Editorial – 16.07.2019

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O avanço de um chamado bolsonarismo nas estruturas institucionais vem corroendo não apenas os direitos conquistados pela população brasileira com suor e sangue durante décadas, como a seguridade social, a legislação trabalhista e a educação pública e gratuita, ou mesmo a saúde daqueles que não têm acesso a produtos livres dos mais de 200 agrotóxicos liberados pelo novo governo.

 

O discurso odioso do presidente da República contamina uma parte da sociedade, que alguns denominam de extrema-direita e talvez estivesse às sombras até aqui após o período pós-ditatorial. Exemplos não faltam. Antes mesmo da vitória eleitoral do ex-capitão do Exército, um grupo de militantes se dizendo em nome de Bolsonaro atacou uma comitiva do ex-presidente Lula no sul do país durante sua caravana. Ou mesmo o próprio candidato à época apoiando o “extermínio da petralhada”.

 

O episódio mais recente protagonizado pela parcela raivosa da massa se deu no último fim de semana, durante a Flipei, que é a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes, evento que ocorre paralelamente à Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, no Rio de Janeiro.

 

O barco onde ocorria uma palestra do jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept Brasil, responsável por revelar as tenebrosas transações da operação Lava Jato, e do humorista Gregório Duvivier, foi alvo de lançamento de rojões promovido por um grupo de cerca de 30 bolsonaristas que se aglomeravam no entorno. Além disso, os manifestantes tocavam em volume altíssimo o hino do Brasil, evocando um suposto nacionalismo torto, que não enxerga adiante os ideais de um ex-juiz partidarizado.

 

“Paraty não será um antro comunista”, diziam uns. “O que ele faz não é jornalismo”, bradavam outros. Fato é que a demonstração de ódio e desrespeito à liberdade de informação e expressão levou pavor às aproximadamente mil pessoas que acompanhavam a palestra.

 

Curiosamente, o tema da mesa era “Os desafios do jornalismo em tempos de Lava Jato”. Mas quais são os nossos desafios enquanto sociedade? Pela ordem democrática, como entender um político eleito pelo voto direto, mas que frequentemente dá declarações ameaçadoras aos Poderes instituídos? Na lógica religiosa, para quem crê, como conceber a ideia de um personagem que se diz cristão e apela para todas as práticas que o evangelho condena?

 

O combate deve ser feito utilizando a arma mais nobre àqueles que ostentam a racionalidade: o argumento. Não raro militantes ditos progressistas adotam estratégia semelhante, exibindo paus e pedras para ameaçar seus opositores ideológicos.

 

A disputa retórica faz-se urgente para neutralizar o discurso midiático dominante que impõe como salvação ao país, por exemplo, a revisão das regras de aposentadoria. Até mesmo alguns setores da esquerda parecem conformados com a recente derrota retumbante na Câmara a respeito Proposta de Emenda Constitucional 6.

 

Enquanto não houver entendimento coletivo de que as estruturas de poder estão construídas para a manutenção das desigualdades, continuaremos governados por uma velha elite avessa ao ideal democrático verbalizado pela Carta Magna de 1988.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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