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Editorial – 31.07.2019

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O cerco ao presidente Jair Bolsonaro por conta das declarações criminosas a respeito do desaparecimento de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (ABI) Felipe Santa Cruz, durante a ditadura militar vai se fechando. Uma série de personalidades, políticos das mais diferentes matizes ideológicas – até João Doria pulou do barco -, entidades da sociedade civil, instituições de defesa dos direitos humanos em todo mundo e até órgãos de Estado do país vêm adotando posições de repúdio ao que disse o mandatário brasileiro.

 

Ontem foi a vez da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, que é vinculada ao Ministério Público Federal, emitir nota fazendo críticas contundentes à retórica do presidente e destacando a necessidade de Bolsonaro dizer o que sabe a respeito do sumiço de Fernando Santa Cruz. Um dos trechos da nota assinada pelos procuradores Deborah Duprat e Marlon Weichert diz o seguinte: “Qualquer autoridade pública, civil ou militar, e especialmente o Presidente da República, é obrigada a revelar quaisquer informações que possua sobre as circunstâncias de um desaparecimento forçado ou o paradeiro da vítima”.

 

Quem também fez questão de se posicionar a respeito do caso foram os ex-militantes da Ação Popular Marxista-Leninista, acusada de maneira mentirosa pelo ex-capitão do Exército de terem sido os executores do pai do presidente da ABI. O manifesto, assinado por 15 ex-integrantes do grupo de esquerda, declara:

 

Nós abaixo-assinados, antigos militantes de Ação Popular Marxista-Leninista – APML, repudiamos as mentiras proferidas e os atos de terrorismo psicológico cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro ao comentar o sequestro, a prisão, a tortura e o assassinato do nosso companheiro Fernando Santa Cruz, militante de APML, cometidos pelos órgãos de repressão da ditadura militar, em 1974.

 

A APML visava a transformação socialista do Brasil e priorizava a luta pela derrubada do regime militar e pela conquista das liberdades democráticas. Buscava conscientizar, mobilizar e organizar estudantes, trabalhadores e demais setores populares e não recorreu à luta armada, muito menos a atos sanguinolentos e terroristas. Estes sim seguidamente cometidos pela ditadura contra seus opositores dos mais distintos matizes ideológicos.

 

O presidente Bolsonaro, visando atingir o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, num ato de requinte de crueldade, além de mentir sobre a natureza da luta pela qual seu pai, Fernando Santa Cruz deu a vida, acusa a própria APML pelo crime cometido pelo regime militar.  Inconcebíveis sob quaisquer circunstâncias, tais mentiras e atos de violência devem ser repudiados com veemência por todos, mais ainda quando cometidos pelo próprio presidente da República”.

 

Quando Bolsonaro faz este tipo de declaração irresponsável e cruel, não está atentando apenas contra a liturgia do cargo que ocupa. Ele atenta contra a memória daqueles que entregaram a vida pelo restabelecimento da democracia no país, contra a declaração universal dos direitos humanos, contra o trabalho da Comissão da Verdade, que se debruçou sobre a história para tentar trazer a verdade nos casos de desaparecimentos nos porões da ditadura.

 

Aliás, Bolsonaro classificou ontem os documentos produzidos pela Comissão da Verdade como “balela”, por terem sido elaborados durante o governo de Dilma Rousseff, outra perseguida pelos militares nos anos de chumbo. O que o político do PSL não cita é que a comissão não é um órgão de governo, mas sim de Estado, que contou, na sua elaboração, com a participação de diversas entidades da sociedade civil, inclusive das Forças Armadas.

 

Que a comoção provocada pelas declarações desumanas do presidente sobre o pai de Felipe Santa Cruz seja o motor definitivo para sua queda do cargo máximo da República. Não dá mais. São sete meses de entreguismo, de desmonte do Estado nacional, de desrespeito à dignidade humana, ao conhecimento, à natureza, de caos quase irreversível em diversos setores da administração pública.

 

Que os responsáveis por essa tragédia eleitoral ao menos assumam sua culpa e se retratem. Chega.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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