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Editorial – 05.08.2019

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Na verdade, farei hoje, na abertura do nosso programa Faixa Livre, dois comentários. O primeiro diz respeito a esse aumento do endividamento das famílias, a matéria é a principal de hoje no jornal Valor Econômico, assinada pela jornalista Ana Conceição e pelo jornalista Hugo Passarelli, e diz o seguinte: “Depois de um longo processo de redução de débitos pós-recessão, o endividamento das famílias brasileiras voltou a crescer e agora alcançou o maior nível em três anos, segundo dados do Banco Central.

 

Em maio, a taxa de endividamento em relação à renda acumulada em 12 meses subiu para 44,04%, o maior nível desde abril de 2016. Em maio do ano passado, essa taxa era de 41,9%, e no auge da crise, em abril de 2015, chegou a 46,8%”. Outra pesquisa, da Confederação Nacional do Comércio, também mostra aumento do número de famílias que se declaram endividadas. Elas eram 64,1% do total em julho, maior percentual desde maio de 2013, 64,3%.

 

Isso é uma consequência direta do processo de recessão seguido de um longo período de estagnação da economia brasileira, isso tudo em meio à política econômica que, desde 2015, vem pregando um controle muito forte sobre os gastos públicos, isso em um momento onde a atividade econômica está rastejando, o que podemos dizer, é uma medida econômica que acaba dando um tiro no próprio pé da economia. Temos alertado sobre isso. Outro comentário que faço diz respeito a essas discussões sobre a mudança no comando do Coaf.

 

O Coaf é aquele Conselho de Controle de Atividades Financeiras que teve, logo no início do governo Bolsonaro, nomeado para o seu comando um homem de confiança de Sergio Moro. Só que esse dirigente acabou fazendo coro com as críticas que foram feitas a respeito, inclusive, das dificuldades, da impossibilidade do Coaf transferir informações consideradas relevantes para o processo investigatório feito principalmente pelo Ministério Público. Isso levou a insatisfações do próprio Bolsonaro.

 

Hoje o jornal Folha de S. Paulo aponta que o Bolsonaro diz não ver problemas se Paulo Guedes mudar o chefe do Coaf, tudo isso por conta de informações onde o Palácio do Planalto estaria pressionando o Paulo Guedes, que é ministro da Economia, a demitir esse aliado do Sergio Moro. É importante destacar que esse Coaf inicialmente tinha ficado sob comando do Ministério da Justiça, tendo à frente o Sergio Moro, mas as alterações na Medida Provisória que orientou essas mudanças administrativas no governo Bolsonaro acabaram não sendo aprovadas e o Coaf fica sob responsabilidade do Paulo Guedes.

 

Portanto, a pressão no Palácio do Planalto se volta para o Paulo Guedes, para essa mudança, e ele teria de comprar uma briga com Sergio Moro. Tudo isso mostra, a rigor, que há uma disputa política em torno dessa questão do chamado combate à corrupção por que nós sabemos, inclusive a operação Lava Jato deixa isso muito claro, as revelações do Intercept Brasil também, que essas investigações sempre são seletivas e, mais do que isso, o furor da Justiça depende de quem está sendo investigado.

 

O próprio Supremo Tribunal Federal já entrou nessa bola dividida, vocês observaram, demos ampla cobertura que logo no início dos seus trabalhos agora no segundo semestre, o Supremo tomou medidas muito duras que foram consideradas como ações em retaliação à própria equipe da Lava Jato, que agora está exposta por essas revelações do Intercept Brasil, e todos brigam pela paternidade do melhor no combate à corrupção.

 

A rigor, temos há alguns anos no país, isso foi uma das consequências dos governos do PT, um aprimoramento institucional que levou, por um lado, a essa autonomia da Polícia Federal, do Ministério Público, e, por outro lado, houve um avanço em termos legais, esse adjetivo da minha parte não significa necessariamente que eu apoie isso, tenho muitas dúvidas com relação especialmente ao corpo legal que foi construído nos governos de Lula e Dilma e que deram muito poder de investigação, inclusive com todos esses institutos como a delação premiada.

 

Parece que muita gente hoje passa a ter um ponto de vista um pouco mais prudente em relação a essas prerrogativas que foram conferidas a órgãos de investigação do Estado brasileiro porque, ao fim e ao cabo, nós observamos que isso acabou sendo apropriado por segmentos do Poder Judiciário, do Ministério Público, como instrumento de luta política e ela continua, essa discussão, esses debates, essas pressões que dizem existir do Palácio do Planalto em relação ao comando do Coaf mostram muito bem isso.

 

Acima de tudo esses institutos, esse aprimoramento legal, tudo isso serviu para azeitar a própria luta política entre as diversas frações que disputam a hegemonia da política brasileira e onde a questão da corrupção, que tem muita repercussão junto à opinião pública, passou a ser um móvel de disputa muito aberto entre esses grupos. A grande questão é a seguinte, em que medida esse dito combate à corrupção poderá de fato fazer com que esse país descubra os caminhos para o seu desenvolvimento real, o desenvolvimento que faça com que milhares de pessoas, trabalhadores, principalmente, não padeçam de péssimas condições como vem se caracterizando a vida aqui de milhões de brasileiros, especialmente os pobres e oprimidos.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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