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Em meio à maior crise econômica que o nosso país já viveu, com estagnação profunda em 2015 e 2016, e seguido de um processo de estagnação que vem até os dias de hoje, um relatório do Banco Central aponta que os bancos, entre julho do ano passado e junho deste ano, lucraram R$ 109 bilhões. É um resultado superior em 18,4% ao registrado nos 12 meses anteriores e mostra muito bem a quem a política econômica em curso beneficia. Temos chamado atenção aqui que, apesar da crise econômica, há setores que têm lucrado muito mais do que outros
E o campeão entre esses setores que no meio da crise acabam se beneficiando é justamente os bancos. Esse relatório aponta também que esse é o maior lucro nominal, sem considerar a inflação, portanto, em 25 anos, desde o lançamento do Plano Real, em 1994. Essa situação evidentemente coloca luz a respeito daqueles que se beneficiam da atual política econômica e, principalmente, apostam nessas chamadas reformas, verdadeiras contrarreformas em relação à soberania nacional, a direitos sociais e, principalmente, em relação ao direito dos trabalhadores.
Em meio à crise, o grande instrumento desses setores dominantes é apelar para uma política que, em última instância, visa reduzir custos do trabalho e custos dentro do orçamento público que possam acarretar transferência de algum tipo de benefício para os setores mais empobrecidos da sociedade brasileira. Já temos uma estrutura tributária, uma política de taxação de impostos, taxas, contribuições etc, que alivia em muito principalmente os mais ricos.
Esses mais ricos, por exemplo, a maior parte de sua renda advém da apropriação de lucros e dividendos. Pois bem, lucros e dividendos no Brasil são isentos de tributação. Enquanto um trabalhador a partir de um recurso minimamente significante do seu trabalho já é taxado em 15%, 27,5%, que é a alíquota máxima, os rendimentos oriundos da apropriação de lucros e dividendos são isentos. Além disso, temos por si só uma estrutura tributária que já apena de forma muito grave trabalhadores assalariados e principalmente os pobres.
Tudo isso porque a maior parte da nossa carga de impostos advém da taxação indireta, essa taxação onde os impostos estão embutidos no preço das mercadorias. Isso significa que uma família que gasta todo seu rendimento na compra de bens essenciais, por exemplo, acaba pagando muito mais imposto proporcionalmente a uma família muito rica, que tenha não somente poupança, como muitas vezes pode ter consumo de determinados bens que são também isentos de taxação, bens de luxo, por exemplo, como lanchas e helicópteros
Isso tudo compõe um cenário no Brasil onde frente à pretensa crise fiscal que estamos vivendo, porque esse é o diagnóstico principal dos liberais, estamos vivendo uma crise fiscal, o Estado gasta mais do que arrecada e, portanto, temos, tal como uma dona de casa, reduzir, cortar despesas. Isto é falso. Na verdade, de 1999 a 2013, tivemos significativos superávits primários. Lembra disso, desse noticiário que todo mês dava que o superávit primário no país ia muito bem, obrigado?
Superávit primário é uma espécie de “economia” de gastos que os liberais defendem para poder abater uma parte da dívida, mas, qual o quê, de 1999 a 2013 essa dívida pública interna em títulos somente fez crescer. Ela aumentou de algo insignificante para algo acima de R$ 5 trilhões. Por isso, todos esses diagnósticos que são apresentados diuturnamente na nossa mídia dominante, basta ligar uma estação de rádio ou, principalmente, uma emissora de TV, vocês vão observar sempre a mesma cantilena.
Os nossos problemas econômicos estão relacionados a um desequilíbrio das contas do governo e esse desequilíbrio, em geral, é apontado como responsável por ele as contas da Previdência, por exemplo, que beneficiam a mais de 30 milhões de brasileiros com pagamento de benefícios de aposentadorias, auxílios-doença, de um conjunto de benefícios que, na verdade, apenas atenua a miséria e a pobreza da nossa imensa maioria da população.
Mas, entretanto, o discurso oficial desses bancos, que lucram R$ 109 bilhões em 12 meses, é o contrário, é aquele que apela para maiores sacrifícios, maiores cortes de gastos do nosso orçamento, em geral de áreas sociais e, principalmente, apelam permanentemente pela necessidade de se reduzir o custo do trabalho, custo de contratações aqui no nosso país.
Isso é um tiro no pé. Na verdade o que precisamos é distribuição de renda e riqueza para poder fazer com que os brasileiros tenham uma vida digna e consumam de acordo com as suas necessidades. Fora disso, o que continuaremos a assistir nas rádios e televisões é a demagogia dos bancos que esconde apenas essa ganância que se traduz nesses números assombrosos no meio da miséria, o lucro que não para de crescer desses bancos.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: