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O momento é bastante tenso na Bolívia. A escalada com que a direita contestou o resultado das eleições presidenciais naquele país parece que surtiu efeito. A OEA concluiu um processo de auditoria, levantou questionamentos sobre essas eleições, Morales claramente recuou, optou pela realização de uma nova eleição, mas a rebelião policial já estava nas ruas, essa é a grande questão. A partir dessa rebelião policial, o que houve foi uma ofensiva de setores da direita boliviana conta as instituições e, particularmente, contra lideranças populares.
Foi criado um clima de terror, de muita insegurança e violência contra essas lideranças, incluindo as lideranças do Congresso boliviano, bem como as do Movimento ao Socialismo, o movimento político de Evo Morales, que acabou por levar, sob pressão dos comandantes militares, Evo Morales ontem a anunciar sua renúncia. Os desdobramentos ainda são imprevisíveis naquele país, iremos dedicar uma parte da nossa edição de hoje a discutir toda essa situação que é gerada aqui na nossa América do Sul a partir desse golpe cívico-militar, nas palavras de Evo Morales.
Mas a grande questão desse final de semana é o retorno de Lula à atividade política a pleno vapor. Lula foi claro, anunciou que está de volta e bateu de frente principalmente com a política econômica de Bolsonaro. Ele classificou Paulo Guedes como o “demolidor de sonhos, empregos e empresas”, e foi muito duro com relação àqueles setores que patrocinaram o impeachment contra Dilma Rousseff, bem como o próprio processo que levou à sua condenação e sua prisão. Lula não poupou Sérgio Moro, não poupou os procuradores de Curitiba e denunciou claramente essas relações de Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro.
Para Lula, Bolsonaro foi eleito para governar o país e não para atender a essas milícias, o que é um brado muito importante nesse momento onde cresce a influência das milícias não somente aqui no Rio de Janeiro, onde essas milícias já têm um poder político eleitoral muito forte, as milícias cresce no Brasil como um todo em meio a essa ofensiva bolsonarista, onde o atual presidente da República tem relações privilegiadas com essa turma, inclusive com um conjunto de iniciativas legais visando a flexibilização do porte e da posse de armas aqui no nosso país.
De fato, é uma situação muito grave. Agora, Lula também, ao bater de frente com Bolsonaro e os bolsonaristas, claramente chama o conflito político no Brasil para a polarização que talvez interesse aos setores da direita, e quando me refiro aos setores da direita, não é propriamente o bolsonarismo, é toda essa ampla gama de forças que apoiam essa agenda irresponsável de privatizações, de ataque aos direitos sociais dos trabalhadores e, principalmente, de liquidação do pouco que nos resta de soberania nacional.
Essa é uma questão que deve ser refletida porque, ao incentivar esse tipo de polarização, algumas questões passam ao largo, principalmente esse sentimento que hoje existe na sociedade brasileira contra o próprio Lula e o PT, identificando essa turma justamente com aqueles que patrocinam, patrocinaram e incentivam a corrupção no país. Essa é uma questão muito grave porque a esquerda, ao longo da sua história, já foi acusada de tudo quanto é tipo de erro, mas esse carimbo de uma esquerda corrupta, na verdade, nunca foi carimbado na esquerda, e agora infelizmente essa mancha existe.
Se Lula quer realmente aguçar essa polarização com os setores bolsonaristas, evidentemente ele deverá, e o PT como um todo, responder às questões muito graves que acabaram por macular o partido, os governos tanto do PT, quanto da Dilma, e criar esse sentimento anti-PT que pode se confundir com o sentimento anti-esquerda. É uma questão muito importante. Por um lado, é importante Lula avançar nas críticas com relação ao modelo econômico que temos, a política econômica em curso, mas é necessário também responder àquelas questões que hoje colocam uma mácula em torno da imagem do PT e, porque não dizer, da esquerda como um todo.
Esse é um grande desafio que temos e haverá de se ter, eu pelo menos tenho essa expectativa de que os dirigentes do PT enfrentem essa questão. Não dá para passar por cima de um conjunto de equívocos muito graves que foram cometidos, inclusive envolvendo alianças políticas muito perigosas e que acabaram por comprometer a experiência do PT no Governo Federal.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: