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Terá início hoje uma reunião de cúpula dos Brics. Os Brics reúnem, além do Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, e essa reunião sediada em Brasília, tendo à frente inclusive Bolsonaro, será bastante peculiar porque o Brasil, nesse momento, encontra-se com posições absolutamente isoladas frente aos demais países do bloco. São questões que vão de polêmicas em relação à reforma da Organização Mundial do Comércio até mesmo a questões relativas ao posicionamento do Brasil frente às posições do governo Trump, muito ofensivas ao chamado multilateralismo que vem sendo curiosamente nesses últimos anos defendido pela China.
É interessante observarmos como irá ser desenrolar essa reunião que ocorre em um momento bastante delicado para a nossa América Latina. Temos uma situação indefinida hoje no Chile. Apesar do aceno de Piñera com relação a uma certa reforma constitucional, a população se mantém nas ruas e pressiona por mudanças muito mais profundas, que deveriam implicar inclusive a convocação de uma Assembleia Constituinte, passando a limpo todo o período de Pinochet, que continua perdurando no país principalmente em função do próprio texto constitucional.
A insatisfação é generalizada. Na Argentina, após a vitória eleitoral de Alberto Fernández, a grande expectativa é quais serão as primeiras medidas do novo governo argentino para retirar o país dessa crise em que Macri o colocou por conta de suas posições alinhadas à subordinação aos Estados Unidos. No Uruguai, caminhamos neste momento para também uma disputa bastante forte entre a frente ampla e a direita do país em torno da disputa do segundo turno presidencial.
E na Bolívia, temos essa situação inusitada onde ontem, uma segunda vice-presidente do Senado, a senhora Jeanine Añez, uma das vice-presidentes do Senado, parece que essa moda vai pegar aqui no nosso subcontinente, se autodeclarou presidente interina do país, isso mesmo sem o aval parlamentar, não havia quórum no Senado para esse tipo de autodeclaração, e com o conflito aberto nas ruas, nas estradas com os partidários de Evo Morales, que ontem chegou ao México depois de uma turbulenta viagem, resistindo ao golpe e ainda com uma posição bastante enigmática da cúpula das Forças Armadas.
Parece que o Alto Comando, especialmente do Exército boliviano, lavou as mãos frente a uma ofensiva que foi organizada por setores da polícia boliviana, bem como por milícias controladas pela extrema-direita. A violência foi ampla, geral e irrestrita contra os militantes, os integrantes, lideranças do Movimento ao Socialismo, o movimento político de Evo Morales, e essa situação acabou por criar um ambiente de total violência e instabilidade no país, que fez inclusive com que o Evo Morales renunciasse.
A situação na Bolívia ainda hoje é indefinida. A rigor, apesar dessa autodeclaração e, inclusive, de o governo Bolsonaro ter se antecipado, se apressado e reconhecido esse novo governo, a situação na Bolívia é absolutamente imprevisível em termos dos seus desdobramentos. Ao mesmo tempo, na Venezuela, em meio a essas situações geradas na nossa América Latina, o governo de Maduro, mais do que nunca, precisa hoje do apoio de potências como a China, a Rússia para se manter de pé, afinal de contas o bloqueio, as sanções econômicas dos Estados Unidos vão de vento em popa e isso evidentemente cria maiores dificuldades ainda para o governo venezuelano.
Esse é o quadro que temos hoje aqui na nossa América Latina nesse momento em que essa reunião dos Brics tem início com essas posições absolutamente singulares do governo Bolsonaro se isolando em meio a um bloco que deveria, evidentemente, ser o foco principal de articulações do Brasil no plano internacional, afinal de contas são países que buscam enfrentar as pressões muito fortes econômicas, políticas do governo dos Estados Unidos e seriam parcerias, alianças fundamentais para pensarmos alternativas de desenvolvimento, de investimento e de parcerias para o Brasil, afinal de contas precisamos, em meio a essa crise que parece que somente se aprofunda, encontrar alternativas. O difícil nesse momento é ter esperanças com o governo que está instalado em Brasília.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: