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Editorial – 12.02.2020

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A execução do ex-capitão Adriano, ex-capitão do Bope, na Bahia, continua envolta em mistério, e sem o mínimo de explicações adequadas por parte das autoridades. Ontem conversamos aqui com o delegado Vinícius George, que expôs seu ponto de vista técnico, mas sob o ponto de vista da política me parece que as coisas precisam ser muito mais explicadas, e sob o ponto de vista da própria realidade.

 

Na segunda-feira também comentamos uma modificação da própria nota que o PSOL soltou logo após a divulgação da morte de Adriano, ou da suposta morte de Adriano, porque uma das coisas que precisam ser esclarecidas é com relação à perícia que foi feita e, especialmente, ao laudo cadavérico de Adriano. O Instituto Médico Legal da Bahia se recusou a prestar informações pelo menos para uma equipe da TV Globo, que na segunda-feira buscou informações.

 

Houve a alegação de que o caso permanece em sigilo e há também esse mistério que agora surge principalmente através de denúncias nas redes digitais a respeito do paradeiro do corpo do senhor Adriano. São muitas questões que precisariam ser levantadas, mas em relação à nota do PSOL, houve um recuo, Em uma primeira versão claramente se associava Adriano como um dos suspeitos da morte de Marielle, isso me parece que foi objeto de uma revisão por parte dos dirigentes do PSOL, que agora simplesmente apontam que existem claros indícios da relação de Adriano com a família de Bolsonaro, mas não necessariamente como um suspeito do assassinato da ex-vereadora Marielle.

 

Bem, como eu não seu político em exercício de mandato e nem policial, vou me basear nas especulações de um dos jornalistas mais respeitados do país, o Élio Gaspari. Ele hoje na sua coluna publicada no jornal Folha de S. Paulo e no jornal O Globo abre seu texto falando o seguinte:

 

Ganha um fim de semana em Rio das Pedras quem conseguir montar um cenário plausível para a seguinte situação:

 

Setenta policiais participam de uma operação para a captura do “Capitão Adriano”, foragido desde o ano passado. Suspeitando que ele se escondeu na chácara do vereador Gilsinho de Dedé (PSL), alguns deles formam um triângulo e cercam a casa. Tratava-se de uma área rural, sem vizinhos.

 

Segundo a versão da polícia baiana, ratificada pelo governador Wilson Witzel (Harvard Fake ‘15), “chegamos ao local do crime para prender mas, infelizmente, o bandido (Medalha Tiradentes ‘05) que ali estava não quis se entregar, trocou tiros com a polícia e infelizmente faleceu”.

 

Conta outra, doutor. Ou, pelo menos, conta essa direito. Adriano da Nóbrega estava cercado. O bordão “trocou tiros” é um recurso gasto. Antes da chegada da polícia, o miliciano já fugira da casa onde estava com a família, na Costa do Sauípe, e do esconderijo onde se abrigara, numa fazenda próxima à chácara.

 

Os policiais podiam ficar a quilômetros da casa e o bandido poderia atirar o quanto quisesse, mas continuaria cercado. Se a intenção fosse capturá-lo vivo, isso seria apenas uma questão de tempo. Três dias depois da operação, as informações divulgadas pelas polícias foram genéricas e insuficientes para entender o que aconteceu.

 

Na melhor da hipóteses, os policiais foram incompetentes. Na pior, prevaleceu o protocolo de silêncio seguido pelo ex-PM Fabrício Queiroz, chevalier servant da família Bolsonaro e administrador da “rachadinha” de seus gabinetes parlamentares, onde estiveram aninhadas a mãe e a mulher de Adriano. O silêncio de Queiroz é voluntário, o do miliciano foi inevitável. Fica no ar um trecho da fala triunfalista de Witzel, no qual ele disse que a operação “obteve o resultado que se esperava.

 

O jornalista continua seu texto, mas agora o comentário é por minha conta. A rigor é evidente que isso precisa ser melhor esclarecida. Com relação à troca de tiros, é importante assinalar que pelo menos de acordo com o exame pericial apresentado pelos jornais, há apenas a informação de que houve um tiro de dentro para fora da casa e não há nenhum tipo de sinal de tiros que foram dados de fora para dentro da casa. Portanto, há muitas questões a serem esclarecidas, mas a principal delas é justamente essa relação indiscutível entre um assassino profissional e a família de Bolsonaro.

 

Dizem que nossas instituições estão funcionando, mas é muito difícil acreditar com todos esses indícios, inclusive as homenagens que a família Bolsonaro já fez a esse capitão Adriano, que não haja muito mais coisas a serem exploradas nesse caso, inclusive em relação ao assassinato de Marielle, que curiosamente existe um cuidado tremendo por parte do PSOL, pelo menos, para não vincular necessariamente uma coisa com a outra. Portanto, além das autoridades, há muita gente que precisa dar melhores explicações.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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