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Editorial – 19.02.2020

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O senhor Jair Bolsonaro, que ocupa a Presidência da República, continua na sua escalada de verdadeiros absurdos. Ontem, por exemplo, em relação a essa questão da morte do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega lá na Bahia, uma verdadeira execução, não resta dúvida com relação a isso, apesar de muita gente ter ainda dúvidas a respeito da ação da PM da Bahia.

 

Mas o fato é que Bolsonaro, ontem, no meio das vacilações, no meu ponto de vista, da oposição, declarou que é necessário uma perícia independente no corpo do Adriano e foi mais longe, disse que há de se ter uma averiguação insuspeita nos celulares do capitão do Bope, possivelmente já se preparando para alguma novidade que possa surgir em relação a esses celulares, afinal de contas quem tinha relações intimas com esse matador de aluguel, apontado pela polícia do Rio como chefe de um chamado ‘Escritório do crime’ é a própria família Bolsonaro.

 

Vá lá o que se pode encontrar nesses celulares, mas o senhor Bolsonaro passou dos limites quando se referiu, novamente usando de agressões verbais, insultos, calúnias, à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S, Paulo. A jornalista é responsável por uma série de reportagens que mostraram cabalmente que houve uma ação dirigida para a difusão de fake news nas últimas eleições presidenciais, que inclusive beneficiaram o senhor Bolsonaro e essas fake news foram difundidas por empresas estrangeiras sendo pagas por empresários brasileiros que se utilizavam de caixa dois nas suas respectivas empresas.

 

Tanto uma iniciativa, quanto a outra são consideradas crimes que curiosamente a Justiça brasileira até agora não se debruçou a contento a respeito dos mesmos, mas Bolsonaro ontem, na verdade, repercutiu afirmações caluniosas que já haviam sido feitas por um ex-funcionário de uma das empresas que foram responsáveis pela difusão dessas fake news, e passou dos limites porque, além de usar uma linguagem absolutamente inadequada, grosseira, chula, conforme é o estilo do cavalão, como ele era chamada no Exército, foi um ataque extremamente desrespeitoso e grosseiro.

 

Isso arrancou do jornal Folha de S. Paulo, que foi um dos órgãos de imprensa que mais jogaram lenha na fogueira do impeachment da Dilma, é muito difícil desvincular uma coisa da outra, e acabou por criar as condições para essa eleição que eu considero completamente irregular do Bolsonaro, em 2018, um editorial muito duro, que diz o seguinte:

 

O chefe de Estado comporta-se como chefe de bando. Seus jagunços avançam contra a reputação de quem se anteponha à aventura autoritária. Presidentes da Câmara e do Senado, ministros do Supremo Tribunal Federal, governadores de estado, repórteres e organizações da mídia tornaram-se vítimas constantes de insultos e ameaças.

 

Há método na ofensiva. Os atores agredidos integram o aparato que evita a penetração do veneno do despotismo no organismo institucional. Bolsonaro não tem força no Congresso nem sequer dispõe de um partido. Testemunha a redução de prerrogativas da Presidência, arriscada agora até de perder o pouco que lhe resta de comando orçamentário.

 

Escolhe a tática de tentar minar o sistema de freios e contrapesos. Privilegia militares com verbas, regras e cargos, e o exemplo federal estimula o apetite de policiais nos estados. Governadores são expostos por uma bravata presidencial sobre preços de combustíveis a um embate com caminhoneiros.

 

Pistoleiros digitais, milicianos e uma parte dos militares compõem o contingente dos sonhos do presidente para compensar a sua pequenez, satisfazer a sua índole cesarista e desafiar o rochedo do Estado democrático de Direito.

 

(…)

 

Defender o reemprego de um ato que fechou o Congresso Nacional, como fez o deputado Eduardo Bolsonaro ao invocar o AI-5, não deveria ser considerado deslize menor pelos colegas que vão julgá-lo no Conselho de Ética.

 

As imunidades para o exercício da política não foram pensadas para que mandatários possam difamar, injuriar e caluniar cidadãos desprovidos de poder, como está ocorrendo. Dignidade, honra e decoro são requisitos legais para a função pública. O presidente que os desrespeita comete crime de responsabilidade”.

 

Assim o editorial do jornal Folha de S. Paulo se junta a um conjunto de outras manifestações, de personalidades, políticos e entidades que ontem mesmo se posicionaram contra mais este abuso do senhor Bolsonaro. A grande questão é se esse tal sistema de freios e contrapesos de fato funciona em um país que desde 2016 assiste a verdadeiros absurdos, que são sempre respaldados pelo Supremo Tribunal Federal e, muitas vezes, sob ameaça inclusive do alto comando do Exército.

 

Essa é excepcionalidade institucional que estamos vivendo, e em relação a essa excepcionalidade institucional, que um presidente como Bolsonaro faz o que bem entende. A grande questão é até quando o Brasil irá continuar a se submeter a um verdadeiro irresponsável como esse que ocupa agora o Palácio do Planalto.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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