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A crise sanitária que nos atinge ainda nos seus primeiros momentos terá consequências hoje imprevisíveis no plano econômico, social e político.
Trata-se de uma situação absolutamente inédita, onde o sistema de saúde e o sistema econômico como um todo – produção, distribuição, comercialização de bens e serviços e, principalmente, a renda de milhões de trabalhadores – poderão entrar rapidamente em colapso.
É uma situação somente comparável a um quadro de guerra aguda, onde a destruição material, típica das guerras clássicas, é substituída pela destruição de milhares de vidas humanas, a partir da contaminação de milhões de pessoas por um vírus ainda pouco conhecido e ameaçador.
É possível deter essa epidemia já em curso, produzindo as suas primeiras mortes?
Sim. É possível. Na segunda-feira passada (16), já registrava aqui, nesse mesmo editorial, que o comportamento da população era bastante razoável, atendendo aos apelos e à intensa propaganda iniciada pelos meios de comunicação para um recolhimento de todos em suas casas, na medida do possível. Recordei outros momentos em que nosso povo respondeu com força e criatividade ao desafio que se colocava – como o comportamento da população no episódio do chamado apagão energético de 2001, onde os objetivos de uma forte redução no consumo de energia do país foram alcançados.
O problema, entretanto, não se encontra na capacidade do nosso povo em novamente se mobilizar e responder positivamente. A grande incógnita é como um governo como o que temos atualmente poderá responder às tarefas exigidas de forma rápida e eficaz – um governo vocacionado para a destruição ou desmanche da capacidade do Estado brasileiro intervir e agir em nome do interesse público e do interesse nacional.
Frente à prioridade do governo, destacada até mesmo na semana passada, da suposta importância de um pacote destinado a aprofundar um criminoso e irresponsável ajuste fiscal na máquina pública federal e nos estados; frente ao incentivo legal à redução de jornadas de trabalho, com diminuição dos já baixíssimos salários pagos aos trabalhadores; frente à sua inerente e destacada vocação privatista, onde se vende a ilusão do mercado e empresas privadas por si só impulsionarem o desenvolvimento que precisamos; frente à personalidade doentia e notoriamente incapaz do senhor Bolsonaro e de toda a desorganização do seu governo, sequer capaz de, até o momento, exercer um mínimo de controle ou alerta aos passageiros – brasileiros ou estrangeiros – que aqui chegam em nossos aeroportos, vindos do exterior, cabem as perguntas:
– Como essa gente terá condições de mudar inteiramente de direção e enfrentar a necessidade de garantir renda a milhões de trabalhadores condenados à informalidade?
– Como atender às empresas dos mais variados ramos de atividade de produção de bens e de prestação de serviços abruptamente paralisadas?
O governo anunciou algumas medidas – muito tímidas – de concessão de um vale de 200 reais à população mais vulnerável e o Congresso aprovou o pedido do Estado de Calamidade Pública, o que permite contornar os limites fiscais impostos por dispositivos legais criminosos. Mas haverá a disposição desse governo de mascates, insensível ao drama social até mesmo dos nordestinos incluídos no programa Bolsa família, com a sua renda cortada em pleno início da pandemia aqui no Brasil, em encarar o desafio de garantir dinheiro a milhões de brasileiros que subitamente estarão à mingua?
E na área social?
Como mudar o rumo da prosa e investir maciçamente em equipamentos médicos emergenciais e recursos extras para diversos programas que possam minorar o drama estrutural de milhões de famílias?
É evidente que o governo que aí está não terá e não tem nenhuma condição de responder afirmativamente a esses enormes desafios, alterando por completo o seu bizarro diagnóstico sobre a pandemia e as suas equivocadas e interessadas convicções sobre a economia do país.
A maioria da população já percebeu o fim desse governo e agora apenas espera que ele logo se encerre. Os sucessivos panelaços dos últimos dias deixaram claro que, politicamente, o governo Bolsonaro está acabado e desmoralizado. O aberto conflito com diversos governadores também isso evidencia.
A grande incógnita, portanto, será a solução política que será capaz de ser construída para um novo governo – dando fim a esse bando que tomou o Palácio do Planalto a partir de um processo político irregular e ilícito, do impedimento de Dilma às eleições das fake News, e do suspeito decisivo apoio de comandantes militares ao candidato Bolsonaro.
Disso dependerá o nosso futuro frente à peste e ao destino da nossa própria sociedade nesse momento crucial para todos.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: