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Temos acompanhado nos últimos dias as posturas e declarações criminosas de Jair Bolsonaro contra o necessário isolamento social diante da pandemia do novo coronavírus, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde e de quase todos os líderes mundiais. E o presidente da República não fica apenas nas palavras. Ontem mesmo ele saiu pelas ruas de Brasília cumprimentado apoiadores e provocando pequenas aglomerações, em mais um sinal de desrespeito às indicações da OMS. Até mesmo carreatas de simpatizantes do ex-capitão do Exército foram realizadas pelo país em defesa do fim da quarentena, com o argumento de que o Brasil não pode parar e a economia é mais importante que a vida das pessoas
Em meio ao tiroteio ideológico, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta dá sinais contraditórios. Em alguns momentos defende que as pessoas se mantenham em casa para evitar a proliferação da doença, mas, em outros, adota o discurso presidencial de flexibilização das regras de isolamento. O posicionamento errático do titular da Pasta vem provocando a ira de seus aliados no Congresso, que pressionam por uma resposta firme aos apelos desvairados de Bolsonaro. A respeito dessa influência que o capital hegemônico exerce, o doutor em direito, professor da Universidade Federal do Paraná e membro do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora Wilson Ramos Filho escreveu um artigo bem interessante, que gostaria de dividir com vocês, ouvintes. O título do texto é ‘Nudez’.
“Desde ontem o capitalismo brasileiro ficou nu. Em muitas cidades houve carreatas repetindo a homicida exortação de que o Brasil não pode parar.
Os burgueses, protegidos dentro dos carrões, exigem que seus empregados voltem a trabalhar para gerar riqueza.
Bingo! Epifania! Revelação! O que gera riqueza não é o capital. É o trabalho!
A burguesia enfim percebeu que o capital imobilizado em máquinas, equipamentos, estoques e sistemas de computador não gera riqueza. Sem o trabalho dos empregados o capital é inútil. Tanto quanto os capitalistas, essa classe parasitária que – sem nada produzir – vive da exploração dos trabalhadores.
Só há riqueza porque houve exploração do trabalho de alguém. O que gera o acúmulo de capital é a parcela não paga sobre o trabalho humano. Essa parte não remunerada do trabalho dos empregados (mais-valia) é acumulada pelos empregadores sob a forma de capital.
Os que desfilaram buzinando fizeram verdadeiro striptease ideológico. Descortinaram para todos como funciona o capitalismo. Exigiram que os governos assegurem e garantam o que entendem ser seu direito, o direito a explorar, o direito a ficar com a mais-valia produzida por seus empregados.
Morrerão milhares de pessoas? Certamente sim. Mas isso está dentro das regras de um jogo chamado capitalismo. Existe um exército de reserva a ser mobilizado para ocupar as vagas dos que fenecerem. O que não admitem – vampiros – é que seus lucros e capital sejam comprometidos por decisões estatais que imponham o isolamento social. Entendem ter o direito de sugar até a última gota de sangue dos trabalhadores, antes que morram ou se tornem inúteis para a exploração.
Para a parcela da burguesia que nelas buzinou histericamente ou que apoiou as carreatas, os trabalhadores são descartáveis, substituíveis, como peças de uma diabólica máquina de moer pessoas, para gerar excedentes financeiros a quem os explora. O Brasil não pode parar, assim, constitui-se em eufemismo para a exploração do trabalho humano, prestado sob subordinação, que não poderia ser interrompida.
O capitalismo brasileiro está nu. Uma feia, obscena, depravada, nudez. Necrófilos buzinaram, perversos, excitados – e não foram poucos – em defesa de seus privilégios, de seus interesses de classe. São classe exploradora em-si e para-si. Desnudaram-se, deixaram à mostra, impudicos, suas obesidades, reais e metafóricas, em defesa do direito a explorar o trabalho alheio. Pretendem que os trabalhadores se apinhem nos insalubres transportes coletivos, contaminando-se, para produzir os excedentes que engordarão ainda mais o capitalismo brasileiro. Os flácidos organizadores das carreatas orientaram os participantes a não saírem de seus veículos. Não são bestas. Temiam a contaminação. Mas não se importam se seus empregados se expuserem. O nome do jogo é capitalismo.
Ficou evidente, com as carreatas, o desejo dos proprietários dos meios de produção e da quase-classe que, sem deles ser proprietária (a classe média), de apoiar o sistema de exploração vigente. Esperemos que a classe trabalhadora, estarrecida com a nua desfaçatez dos exploradores tome consciência do poder que por óbvio tem, durante e, principalmente, depois de controlada a pandemia”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: