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Editorial – 01.04.2020

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Pode parecer pegadinha de primeiro de abril, mas a piada de mau gosto que ocupa a Presidência da República segue em seu discurso de relativizar a pandemia do novo coronavírus, que já matou milhares de pessoas em todo o mundo, e exaltar a necessidade de que os brasileiros voltem ao trabalho para movimentar a roda da economia. Em pronunciamento em rede nacional na noite de ontem, ainda que em tom mais moderado, Jair Bolsonaro voltou a defender o fim do isolamento social ao dizer que os efeitos das medidas adotadas pelo governo para combater a Covid-19 não podem ser piores que a própria doença.

 

Além disso, como já havia feito mais cedo, ele citou o discurso do diretor da Organização Mundial da Saúde Tedros Adhanom dizendo que a população mais vulnerável precisa retornar às suas atividades laborais. Pela manhã, Bolsonaro havia omitido um trecho da declaração do dirigente da OMS na última segunda-feira, onde defendeu que os governos devem auxiliar os trabalhadores informais em dificuldade financeira. A declaração do presidente motivou uma reposta de Adhanom exaltando, mais uma vez, a necessidade de proteção dos Estados nacionais aos mais pobres que ficarão sem renda por conta da pandemia.

 

O ex-capitão do Exército é a única liderança mundial a adotar tal postura irresponsável. Nem mesmo seu guru Donald Trump segue essa linha, ao admitir a necessidade de isolamento social horizontal quando viu os casos da Covid-19 se multiplicarem nos Estados Unidos. Bolsonaro deixou de ser uma ameaça ao Brasil para virar um problema de alcance internacional.

 

Até os administradores das principais redes digitais censuraram o ex-capitão do Exército, que teve postagens suas defendendo o fim do isolamento apagadas pelo Facebook, Twitter e Instagram sob o argumento de que ‘criaram desinformação que pode render danos reais às pessoas diante da pandemia’.

 

Parece claro que o presidente brasileiro abandona a racionalidade para inflar seus apoiadores, apostando no aprofundamento do caos social que leve à imposição da força em um novo regime ditatorial. Nada mais simbólico que aproveitar o aniversário do golpe civil-militar para deixar nas entrelinhas, em rede nacional, suas intenções autoritárias.

 

A demora para sancionar a medida aprovada pelo Congresso na última segunda-feira, que estipula o pagamento do insuficiente auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores informais e desempregados, é outro episódio que pode indicar seus planos ocultos.

 

A grande questão que se coloca é se Bolsonaro terá apoio institucional para o recrudescimento do quadro. O isolamento político do presidente se amplia na mesma velocidade em que a população do país adota o autoconfinamento. Apenas a ala militar que ocupa cargos no Executivo e chancelou sua eleição em 2018 ainda se mantém em sua defesa. No alto comando das Forças Armadas já há vozes dissonantes, como a do comandante do Exército, o general Edson Pujol, o que amplia o quadro de incertezas.

 

Em uma clara tentativa de enquadrar o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, defensor das medidas que visam proteger a saúde da população, a gestão federal alterou o formato da entrevista coletiva diária que anuncia os números do avanço da Covid-19 no país. Saíram os técnicos do Ministério e entraram os nomes até então de confiança de Bolsonaro, liderados pelo próprio Chefe da Casa Civil Braga Neto.

 

No entanto, até os superministros Sérgio Moro e Paulo Guedes se mostram reticentes em tutelar o discurso do presidente e sinalizam pular do barco para se juntar aos opositores, liderados pela Rede Globo, mas que contam com a absoluta maioria das entidades da sociedade civil, prefeitos, governadores, além de parcelas expressivas dos Poderes Judiciário e Legislativo. Resta saber quem seguirá na aventura do Bolsonarismo rumo ao precipício.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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