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Editorial – 06.07.2020

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A última sexta-feira foi pródiga de notícias que desnudaram uma série de situações que nós já denunciávamos há tempos aqui no programa. Primeiro esse envolvimento de agentes do FBI na operação Lava Jato, divulgado pelo site The Intercept Brasil e pela Agência Pública. A respeito desse tema, o jornalista Luís Nassif vai conversar conosco no programa de hoje. Eu gostaria de ler no nosso espaço editorial a coluna do jornalista Bernardo Mello Franco publicada no jornal O Globo de ontem sobre essa chegada da própria Lava Jato ao berço do tucanato no Brasil, em São Paulo, com essa ação contra o senador e ex-governador José Serra. O título do texto é “A derrocada de Serra e o declínio do PSDB”:

 

Demorou seis anos, mas aconteceu. Na sexta-feira, a Lava-Jato denunciou o primeiro figurão do PSDB de São Paulo. O senador José Serra foi acusado de receber propina da Odebrecht durante as obras do Rodoanel. Os repasses somaram R$ 191 milhões em valores atualizados, informou o Ministério Público Federal.

 

Os procuradores dizem ter identificado crimes de corrupção, fraude a licitação e formação de cartel. Como a investigação andou a passo de tartaruga, a maior parte das acusações prescreveu. Mesmo assim, Serra e a filha Verônica foram denunciados por lavagem de dinheiro transnacional.

 

Também na sexta, a Polícia Federal fez buscas em endereços do senador e do ex-deputado Ronaldo Cezar Coelho, que já admitiu ter recebido caixa dois na Suíça. A operação recebeu o nome de Revoada. Homenagem singela ao tucano, símbolo do partido que governou o país entre 1995 e 2002.

 

Ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, Serra foi quase tudo, menos o que sempre quis ser. Chegou ao segundo turno de duas eleições presidenciais, mas foi derrotado por Lula e Dilma Rousseff. Sua derrocada abre um novo capítulo na história de declínio do PSDB. O partido passou incólume pela Lava-Jato enquanto pontificava na oposição. Consumado o impeachment, viu sua blindagem desmoronar.

 

Candidato ao Planalto em 2014, Aécio Neves escapou por pouco da cadeia. Os ex-governadores Beto Richa e Marconi Perillo não tiveram a mesma sorte. Até Eduardo Azeredo, precursor do valerioduto, acabou em cana. Ele havia se tornado um símbolo da impunidade: denunciado por crimes na campanha de 1998, conseguiu adiar por duas décadas o encontro com o xadrez.

 

Os escândalos derreteram a imagem da sigla que liderava o coro contra os desmandos do PT. Desiludido, o eleitor que confiou na pureza dos tucanos bateu asas e pousou no ombro de Jair Bolsonaro. Em 2018, Geraldo Alckmin teve míseros 4% dos votos. Foi o pior resultado do PSDB em oito corridas presidenciais.

 

Depois do massacre nas urnas, o que restou do partido caiu no colo de um preposto de João Doria. O governador de São Paulo sonha com o Planalto, mas esbarra na pecha de elitista. Há dois dias, sua mulher disse que não se deve doar marmita aos desabrigados porque eles “gostam de ficar na rua” e precisam “se conscientizar”.

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não disfarça a antipatia pelo casal. Prefere inflar o balão de Luciano Huck, animador de auditório e aspirante a salvador da pátria.

 

O PSDB de Doria tem pouco a ver com o partido social-democrata de Covas, Montoro e FH. Para marcar a guinada à direita, o governador mudou até o logotipo da sigla. Saiu o tucano e entrou a bandeira verde e amarela, emblema dos seguidores do capitão. Ele ainda franqueou a legenda a dissidentes do bolsonarismo, como o deputado Alexandre Frota e o empresário Paulo Marinho.

 

Em 2022, essa turma enfrentará uma raia congestionada. Apesar de todos os pesares, a direita brucutu se mantém fiel ao Mito. Correndo por fora, o ex-juiz Sergio Moro ameaça dividir ainda mais o campo conservador”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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