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Editorial – 04.11.2020

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Em meio a tantos acontecimentos difíceis no nosso cenário político e social, não apenas no Brasil, como também no mundo, eu gostaria de abrir espaço no nosso editorial de hoje a um pouco de reflexão a respeito daquilo que tem provocado as enormes dificuldades que as gerações atuais têm enfrentado: a cultura do ódio.

 

Para isso, eu quero aproveitar para fazer a leitura de um belo texto escrito pelo professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon) Lincoln de Abreu Penna, que leva o título de “O Culto ao Ódio”:

 

O ódio é uma manifestação tosca, baseado na intolerância e que tem como substrato a ignorância. O ódio está umbilicalmente vinculado à recusa da diferença, que expressa a incapacidade de aceitação do outro nas relações sociais.

 

Quando essa manifestação é vocalizada na política, a sua capacidade de contágio ganha dimensões epidêmicas, capaz de alcançar indiscriminadamente a todos, já que a exemplo dos vírus costuma se reproduzir sem controle, até que uma vacina o contenha a imunizar sua proliferação em cadeia. E a vacina mais eficaz é aquela que mantenha o ser gregário que está nas nossas origens.

 

Tal como um vírus, o ódio é sinuoso. Exerce seu mal através do senso comum tornando suas vítimas condutoras desse mal socialmente instalado, ultrapassando muitas vezes a barreira da sensatez. E é aí que se junta a ignorância aliada ingênua, mas em condições de espalhar os efeitos perversos do ódio, mesmo que seu portador não se dê conta de que está sendo um mero transmissor.

 

O paralelo do ódio disseminado em massa pelos condutores do governo instalado em Brasília, com a atual pandemia, faz sentido porque provoca uma sensação de impotência em virtude de um estado de perplexidade. Ninguém racionalmente consegue conceber essa realidade num mundo onde a ciência, a tecnologia e a massificação da cultura e da educação formadora de cidadania alcançaram níveis tão elevados e sofisticados, mesmo com a permanência de muitas desigualdades sociais.

 

As razões da atual pandemia tem sido objeto de estudos a partir de evidências científicas, mas outras ondas epidêmicas são previstas, caso a humanidade não tome decisões políticas imediatas. Pelo menos para atenuar os seus efeitos perversos.

 

Mas no campo político, no qual as decisões devem ser adotadas, a situação parece também sujeita a tratamentos preventivos para que a presença dessa onda de ódio aliada à ignorância venha a ser disseminada sem que contra sua expansão não se adotem medidas que impeçam sua proliferação.

 

O pior do ódio instalado no governo é que ele lança mão de valores e símbolos existenciais e universais de modo a cativar as pessoas desinformadas e receptivas ao discurso movido pelo ódio. Este cultivo do ódio passa como sendo necessário para que os tais valores manipulados pelos agentes supostamente defensores da humanidade façam minar as resistências do bom senso.

 

Dentre os valores mais disseminados estão os da defesa da família, da segurança dos indivíduos, da liberdade e da democracia, para mencionar os mais eficazes condutores desse vírus poderoso de penetração junto às populações indiscriminadamente, de maneira a atrair a inocência de ricos e pobres em comunhão. A questão não se encontra no uso desses valores, mas na sua forma de concebê-los como se fossem imutáveis, uma vez que sua configuração obedece aos tempos e modos de vida.

 

Assim, ingenuamente são assimilados os conteúdos ideológicos das mensagens pelos responsáveis por essa política de extrema direita que tanto mal tem feito aos povos dos países afetados por esses discursos. Equivocam-se os que sustentam essas teses conservacionistas, pois o ser humano sempre buscou inventar e recriar criativamente seu modo de vida. Ousou sempre e assim tem feito. Conservar as tradições é uma coisa, jamais as práticas sociais, que devem atender a novas necessidades.

 

É no embate entre o conservacionismo, visando cristalizar as relações sociais dominantes no âmbito do capitalismo e as que buscam a direção de novas experiências comunitárias, que se insere o divisor de águas da humanidade. Para isso é preciso estar atento e forte, como diz o poeta, e cerrar fileiras na tribo dos indignados em face dos resignados, alheios à sorte dos desvalidos e oprimidos. Por isso, estejamos unidos rumo à sociedade inclusiva e solidária.

 

Recolher os ensinamentos de experiências malogradas do passado remoto ou recente, mas cujo legado indiscutível para os que delas se beneficiaram, é algo que não pode ser desprezado. Até porque a construção de uma sociedade de iguais, fraternalmente constituída e plenamente integrada num destino comum exige todos os recursos e todos os sentimentos do mundo, salvo o ódio e a intolerância”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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