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Ontem tivemos em todo país o dia da Consciência Negra. A comemoração e, principalmente, as manifestações de resistência porque é disso que hoje estamos falando quando nos referimos aos trabalhadores. Os trabalhadores têm em sua grande maioria, na verdade, pessoas com a cor da pele preta. É isso. O Brasil é um país que foi construído pela escravidão, um país construído através da super exploração dos trabalhadores, um país que tem uma imensa dívida social, política e cultural com essa gente que foi trazida a força da África, debaixo do açoite, e sofreu de forma bárbara para se construir aquilo que se pensava ser uma nação.
Sim, porque estamos ainda em um processo de construção nacional que precisa ser revisto e, principalmente, ter as contas acertadas com o passado. É nesse sentido que o dia da Consciência Negra ganha importância, ainda mais em um momento onde temos um governo eleito que ameaça explicitamente um conjunto de liberdades civis e direitos sociais. Liberdade civis e direitos sociais que vão afetar a imensa maioria dos trabalhadores que são negros, que carregam na história e na sua vida todas as injustiças de um país que se construiu de forma cruel, injusta, com suor e sangue da população negra. Por isso queremos saudar todos aqueles que lutam por um país diferente, por um Brasil que tem liberdade, mas, principalmente, tenha justiça.
Justiça para aqueles que trabalham, justiça para aqueles que desde o século XVI vêm sustentando a chamada vida nacional. O Brasil de uma imensa fazenda de exportação de madeira, de cana de açúcar, se transformou numa enorme senzala e essa herança até hoje está presente entre nós. Basta olhar, por exemplo, os indicadores sociais do nosso país e a forma cruel como esses indicadores revelam injustiças especialmente em relação aos trabalhadores, em sua grande maioria de cor preta ou parda. Isso nos remete necessariamente a políticas que devam enfrentar a discriminação, a injustiça, devam enfrentar, principalmente, a história torta desse país, que precisa se encontrar com a sua população, que precisa valorizar o seu povo e, naturalmente, fazer com que a justiça prevaleça.
Por isso saudamos a todos os lutadores, lutadoras, todos aqueles que constroem o Brasil no seu dia-a-dia a partir do trabalho porque a grande maioria desse povo é de cor preta, é de cor negra, é de cor que se confunde com essa injustiça histórica daqueles que construíram o Brasil para uma minoria, para os egoístas e ricos, e nós queremos inverter esse quadro. Sabemos que as dificuldades são gigantescas especialmente por uma cultura reacionária que vai penetrando e, mais do que isso, adquirindo força entre todos nós. Nós queremos mudanças e, para isso, precisamos de consciência, organização e capacidade de luta, essa luta que vem atravessando séculos para vencer aqueles que exploram pra maioria do povo, os trabalhadores e, no nosso país, explora os negros. Por isso saudamos aos lutadores e queremos um combate dioturno em relação às injustiças e à imensa chaga que representa ainda a escravidão no nosso meio.
A abolição da escravatura no final do século XIX foi apenas uma artimanha dos setores dominantes para se manter a dominação, é isso que temos de enfrentar e reverter a história. Precisamos consagrar a maioria do povo, os trabalhadores como a verdadeira democracia no nosso país. Através da liberdade, da justiça, nós queremos um país diferente, que seja reconhecido acima de tudo como um país onde todos nós brasileiros, independentemente da cor, tenhamos justiça, mas para isso é necessário olhar o nosso passado e enfrentar todas as chagas e problemas que temos no presente, o presente da exploração, da injustiça. É isso que queremos enfrentar e atacar para nunca mais termos um país injusto e desvinculado da maioria da nossa população.
Ouça abaixo o cometário de Paulo Passarinho.