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Editorial – 26.01.2021

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O anúncio do pedido de demissão do presidente da Eletrobras Wilson Ferreira, mantido no cargo desde o governo de Michel Temer com a única missão de preparar as bases para a privatização da estatal, caiu como uma bomba entre os ultraliberais. Apesar de os efeitos não terem se refletido na Bolsa, já que o feriado em São Paulo no dia de ontem deixou a Bovespa fechada, já há analistas de mercado dizendo que esse movimento significa o fim da agenda liberal da gestão Bolsonaro.

 

A própria Miriam Leitão, uma das principais porta-vozes do capital hegemônico, adotou esse discurso em sua coluna no jornal O Globo. É muito evidente que há uma série de forças no Congresso que resistem à privatização da companhia energética por diversos motivos, mas eu confesso duvidar que a saída de Wilson Ferreira da Presidência da estatal simbolize o enterro das pautas entreguistas do governo.

 

Ainda que Bolsonaro tenha se colocado contra o fechamento de agências do Banco do Brasil recentemente, pedindo a cabeça do presidente da instituição, André Brandão, tudo me parece jogo de cena. Bolsonaro não pensa na soberania nacional, o cálculo dele é estritamente político no ano que antecede as eleições presidenciais. Privatizar essas empresas agora pode trazer ainda mais prejuízos ao ex-capitão na tentativa de renovar o cargo em 2022, visto que a popularidade do chefe do Executivo, que nunca foi lá muito alta, desabou nos últimos tempos por sua estratégia genocida diante da pandemia.

 

Eu gostaria também de comentar rapidamente a entrevista que a deputada federal Luiza Erundina nos deu ontem aqui ao programa. A parlamentar claramente procurou se defender das inúmeras pressões que têm recebido, inclusive de dentro do seu partido, o PSOL, para abrir mão da sua candidatura à Presidência da Câmara e eu fiz questão de deixá-la falar o tempo que ela quisesse para expor seus argumentos.

 

A respeito dessa questão, eu quero fazer duas observações: por mais que haja boas intenções dos parlamentares das legendas progressistas em apoiar o golpista Baleia Rossi (MDB), talvez haja um grau elevado de ingenuidade de determinadas pessoas em acreditar ser possível fazer acordos de ‘redução de danos’ com esse pessoal. A plutocracia não vai abrir mão tão facilmente assim de aprovar as reformas ou mesmo de seguir com as privatizações por um acordo com a minoria. Na essência, Baleia Rossi e Arthur Lira defendem os mesmos interesses. O próprio ex-presidente Michel Temer já deixou isso claro em uma ligação que fez ao Jair Bolsonaro, que o emedebista seria um aliado do governo.

 

Outra coisa é que a candidatura de Erundina não influencia o resultado da eleição em primeiro turno. Qualquer candidato precisa ter 257 votos, no mínimo, para se sagrar vencedor sem a necessidade de segundo turno, e por mais que a deputada do PSOL possa dividir parte dos votos de Baleia Rossi, isso não levaria mais deputados a votarem no bolsonarista Lira. Neste momento de enormes dificuldades é preciso equilíbrio e respeito às diferentes táticas no tabuleiro político. As animosidades só servem para dividir ainda mais uma esquerda que há tempos está longe de uma necessária e urgente unidade.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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