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A carta divulgada no último domingo (21) e assinada por cerca de 500 economistas, empresários e representantes do mercado financeiro, onde eles defendem ações imediatas do Governo Federal no combate à pandemia, com alteração da estratégia adotada pelo Executivo até agora, foi interpretada como um recado contundente de uma parcela dos ultraliberais ao presidente Jair Bolsonaro.
Como signatários do documento há nomes como os dos banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, os dos ex-presidentes do Banco Central Affonso Celso Pastore, no governo de João Figueiredo, e Ilan Goldfajn, na gestão de Michel Temer, bem como o do economista Luis Stuhlberger, que ajudou na formulação do programa econômico do PSOL.
Esse aparente descolamento de parte do mercado de Jair Bolsonaro veio com a comprovação daquilo que está claro há tempos, a incapacidade do governo em manter a economia girando em um cenário de crise generalizada. Em um dos trechos, onde defendem o isolamento social imediato, os subscritores dizem “a consequente redução da atividade pela demora em adotar políticas públicas mais adequadas custou uma perda tributária de R$ 58 bilhões só no âmbito federal, enquanto o atraso da vacinação irá custar R$ 131,4 bilhões aos cofres públicos em 2021 em termos de produto ou renda não gerada e supondo uma recuperação retardatária em dois trimestres”. Ou seja, eles percebem que ainda há muito para se cavar nesse buraco em que o país está enfiado.
O problema é que boa parte desses irresponsáveis que hoje reclamam ao verem seus ganhos financeiros sucumbirem com a má gestão do Palácio do Planalto em relação à pandemia são os mesmos que se aliaram ao ex-capitão lá em 2018, movidos por um sentimento antipetista e com a esperança de que, por mais ignorante e incompetente que o político fosse, eles seriam afiançados pelas decisões de Paulo Guedes no comando da economia. Só não esperavam uma pandemia e um Jair Bolsonaro indomesticável, que só se dirige aos seus apoiadores e se equilibra na corda bamba que é o apoio do Centrão no Congresso.
Enquanto as demandas do baixo clero estiverem na ordem do dia, nada ocorrerá ao presidente. O problema é que já há alguns focos de insatisfação especialmente na Câmara dos Deputados, já que, além de muitos parlamentares representarem os interesses expressos pela carta dos banqueiros que eu citei, o presidente da Casa Arthur Lira, eleito com o apoio explícito do bolsonarismo, não gostou nada de não ver o nome que ele indicou no Ministério da Saúde, que seria o da médica Ludhmila Hajjar. A chegada de Marcelo Queiroga ao comando da Pasta, ele que ainda nem tomou posse oficialmente, foi vista com desconfiança, em um sinal de desprestígio ao Parlamento.
Agora, a grande questão é que um desembarque do Centrão do governo de Bolsonaro, ainda que improvável, desencadearia uma reação extrema do chefe do Executivo. Não são raras as vezes em que Bolsonaro ameaça atentar contra a democracia caso haja uma tentativa de afastá-lo do cargo, seja pelas vias que forem.
No final de semana, a situação se repetiu, quando o ex-capitão, durante as comemorações do seu aniversário de 66 anos, no domingo, se dirigiu a seus apoiadores aglomerados em frente ao Palácio da Alvorada dizendo que eles podem contar com as Forças Armadas na defesa da democracia e da liberdade, em uma referência aos decretos de prefeitos e governadores restringindo as atividades comerciais para reduzir a proliferação do novo coronavírus.
Na semana passada, o presidente já havia falado em “estado de sítio”, que chegaria o momento de “tomar medidas mais duras” contra os gestores que ordenem o fechamento do comércio. Bolsonaro estica a corda em uma tentativa clara de intimidar os demais Poderes, em especial o Judiciário. Só que, no Supremo, a expectativa é pela manutenção das decisões de gestores locais, frustrando os planos do presidente, que entrou com uma ação de inconstitucionalidade na Corte para derrubar os decretos.
Resta saber até que ponto as ameaças do ex-capitão são meras bravatas ou se ele está decidido em levar à frente sua aventura autoritária. Tudo isso vai depender do apoio que ele tem na cúpula das Forças Armadas. Nós seguimos atentos e na denúncia de qualquer tentativa de golpe engendrada pelo bolsonarismo e esperamos que os brasileiros reafirmem seu compromisso com o mínimo de democracia que o país ainda conserva.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: