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Editorial – 23.11.2018

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Vamos falar um pouco sobre economia a partir das decisões tomadas ontem por Paulo Guedes, futuro ministro da economia, a respeito dos seus principais parceiros na equipe econômica que está formando. Ontem, Paulo Guedes definiu os nomes dos futuros presidentes do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do Ipea. O economista Rubem Novaes, PhD pela Universidade de Chicago, será o presidente do Banco do Brasil. O economista Pedro Guimarães, PhD pela Universidade de Rochester, assumirá a Caixa Econômica Federal, e o economista que já trabalhou inclusive no governo Sarney, Carlos Von Doellinger, vai para a presidência do Ipea. Isso nos permite claramente definir uma orientação liberal privatista para o futuro governo de Bolsonaro e joga também por terra toda e qualquer ideia de que haveria um setor nacionalista dentro das Forças Armadas, principalmente no Exército, que poderia ser um anteparo aos arroubos privatistas que parecem voltar com toda força no governo futuro.

 

A grande questão que se coloca é que essa hegemonia privatista sempre esteve presente, inclusive ao longo dos governos do PT. É verdade que tanto Lula, como Dilma, procuraram de alguma maneira congelar boa parte das iniciativas de interesse maior do sistema financeiro, mas, ao mesmo tempo, mantiveram durante todos os 13 anos dos seus governos uma influência muito grande desse pensamento liberal. Isso inclusive pode ser demonstrado tanto pela longa gestão de Henrique Meirelles à frente do Banco Central, como também no momento de crise econômica e política do governo Dilma, quando ela convocou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.

 

O fato é que após a deposição de Dilma Rousseff, ficou claro que o governo de Temer iria privilegiar uma tentativa de saída para crise econômica a partir de um maior controle sobre o orçamento público em prol das despesas de natureza financeira. Ao mesmo tempo, o objetivo de se reduzir o custo do trabalho no Brasil e principalmente a ideia, sob o ponto de vista dos novos negócios, de se abrir oportunidades de investimentos através da concessão de serviços públicos e também dos leilões do petróleo do pré-sal. Agora com Guedes, parece que esse programa adquire muito maior consistência sob o ponto de vista privatista. Em primeiro lugar, existe claramente uma prioridade que já estava presente no governo de Temer da efetivação de novas mudanças nas regras previdenciárias.

 

Essa medida é funcional tanto para o maior controle sobre orçamento público, a ideia é reduzir as despesas com previdência social, como também se liga a um negócio muito importante que é o da previdência privada. Quando se ataca mais uma vez A previdência social pública, o objetivo é claro: deslocar a poupança previdenciária dos trabalhadores maior renda para o setor privado. Os ataques que são feitos ao sistema de repartição, que é o que sustenta a previdência pública, têm esse objetivo. Fazer com que através do regime de capitalização gerido por empresas privadas, bancos principalmente, possam administrar os recursos dos trabalhadores de maior renda e que passam cada vez mais a contar não com a previdência social pública, mas com os planos de previdência privada para poder, no futuro, garantir um pouco de segurança a cada um.

 

Esse é o grande segredo dessa pressão sobre a previdência social pública e essa defesa apaixonada do regime de capitalização onde todo argumento vale, e, principalmente, esse alegado envelhecimento da população brasileira. Na verdade, nesse momento, nós, ao contrário de estarmos enfrentando como questão central o envelhecimento da população brasileira, o que teríamos de chamar atenção é que potencialmente o número de trabalhadores em idade ativa vai se expandindo e era o momento de se fortalecer o regime de repartição. Mas isso não interessa aos empresários financeiros, aos especuladores que têm olho grande nessa poupança previdenciária, eu repito, daquele segmento de trabalhadores que possui renda, porque a grande maioria dos trabalhadores brasileiros, na verdade, não têm renda para bancar uma previdência no sistema privado.

 

Essa é a verdadeira questão, mas a grande novidade que talvez se coloque no plano da equipe econômica do Paulo Guedes é a retomada de um forte programa de privatizações. Hoje está na alça de mira, sabemos, as empresas do sistema Telebrás, as empresas do sistema Petrobras e, acima de tudo, um conjunto de participações que o Estado possui em empresas privadas. Tudo indica que a nova equipe do Paulo Guedes, um misto entre Universidade de Chicago e a Fundação Getúlio Vargas, irá deslanchar um vigoroso processo de privatizações e isso tem impacto muito forte em relação ao nosso futuro.

 

A rigor, nós, aceitando esse tipo de programa econômico, estaremos abolindo um conjunto de instrumentos importantíssimos do Estado brasileiro para que possamos construir um processo próprio de desenvolvimento econômico onde os centros endógenos estejam dentro do Brasil, e onde, principalmente, o Estado brasileiro tenha condições de estar à frente de um novo ciclo de expansão da economia, induzindo um desenvolvimento que venha a ser inclusivo, essa é a grande questão que se coloca como desafio econômico e social para o Brasil. Precisamos incluir uma massa de trabalhadores que precisa ser melhor qualificada, melhor remunerada e melhor empregada, mas para isso é necessário investimentos.

 

Investimentos que devem ser estimulados e induzidos pelo Estado. Com esse conjunto de medidas que se coloca no nosso horizonte, a rigor, estamos golpeando justamente essa perspectiva, de uma economia brasileira que seja independente soberana e, acima de tudo, que responda aos imensos desafios da nossa população que é pobre, miserável, mal instruída e, principalmente, mal empregada. Estamos indo muito mal nessa perspectiva de Bolsonaro e Paulo Guedes.

 

Ouça abaixo o comentário de Paulo Passarinho:

 

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