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Editorial – 30.03.2021

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Brasília viveu ontem um dos dias mais agitados da gestão de Jair Bolsonaro, com o início de uma reforma ministerial que acende o sinal de alerta para o país. Primeiro, no começo da tarde, saiu a notícia do pedido de demissão do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, algo que apenas poupou o ex-capitão de dispensar um dos principais representantes da ala ideológica do governo, já que a saída dele do cargo estava definida por conta das pressões que vinha sofrendo no Congresso, em especial do Senado, algo que se ampliou muito depois da publicação do agora ex-ministro onde ele citava que o interesse pela sua demissão estaria relacionado não às questões diplomáticas em torno das vacinas contra a Covid-19, mas sim com as discussões sobre o banimento ou não da Huawei, empresa chinesa, da implantação da tecnologia 5G no Brasil.

 

Ernesto Araújo chegou a dizer que foi procurado pela presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Kátia Abreu (PP-TO), no início de março, em uma conversa onde “pouco se falou de vacina”. A declaração do chanceler foi prontamente rebatida pela senadora, ao afirmar que o Brasil não poderia ter mais “a face de um marginal”, algo que tornou insustentável a permanência dessa figura indicada ao governo pelo guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho. Na vaga de Araújo, assume o diplomata de carreira que estava na assessoria especial da Presidência da República Carlos Alberto Franco França.

 

No fim da tarde, no entanto, surgiu a informação de que a saída do chanceler seria apenas a primeira de uma série que o presidente promoveria. O ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, que foi chefe do Estado Maior do Exército, enviou sua carta de demissão ao governo, surpreendendo a todos. O que mais chamou a atenção foi um trecho enigmático escrito pelo general no texto, onde ele cita que “nesse período [em que estive no governo], preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”. Ele não cita expressamente que pediu demissão, apenas diz que sai “na certeza da missão cumprida”. A leitura possível dessa mensagem é de que Bolsonaro pode estar aparelhando o Estado com figuras que estejam alinhadas ao seu projeto de autogolpe, algo que já foi debatido algumas vezes aqui no programa.

 

A suspeita se amplia porque quem assume a vaga no Ministério da Defesa é o general Braga Neto, defensor ferrenho do presidente, que liderava a Casa Civil. O também militar Luiz Eduardo Ramos passa a ocupar o lugar de Braga Neto, deixando a Secretaria de Governo, que ficará nas mãos da deputada Flávia Arruda (PL-DF), representante do baixo clero no Parlamento.

 

Mas as mudanças no primeiro escalão do governo não param por aí. O ministro-chefe da Advocacia Geral da União José Levi está deixando o Palácio do Palnalto após desentendimentos com o presidente. Para o seu lugar, volta o antigo ocupante do posto e que estava no Ministério da Justiça e Segurança Pública André Mendonça. Na Pasta que já foi ocupada por Sérgio Moro, o indicado é o delegado Anderson Torres, antigo Secretário de Segurança Pública no Distrito Federal.

 

Essas seis mudanças promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro precisam ter toda a atenção de nós que nos preocupamos com a manutenção da ordem democrática no país. A possibilidade de uma escalada autoritária se coloca de maneira ainda mais evidente. Esperamos que o Judiciário e as forças legalistas estejam muito atentas para essas sinalizações do bolsonarismo. O ex-capitão já deixou claro recentemente a possibilidade de estabelecimento de um estado de sítio por conta do aprofundamento da crise provocada pela pandemia e pelas medidas de restrição de circulação de pessoas impostas por governadores e prefeitos. É hora, mais do que nunca, de a oposição reagir à altura e de maneira firme para que o aniversário do golpe de 1964, que se dará amanhã, não simbolize o início de um novo período sombrio no Brasil.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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