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Editorial – 08.04.2021

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Eu tenho falado pouco aqui nesse espaço editorial a respeito da tragédia que é a Covid-19 no país. Já ultrapassamos a marca de 340 mil óbitos pela doença desde o início da pandemia, com o Brasil colocado como fator de risco para a estratégia mundial de contenção da doença, já que boa parte das mais de 3 mil mortes diárias por aqui se dão por conta da variante brasileira do vírus, reconhecidamente mais contagiosa.

 

Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro voltou a rechaçar a possibilidade de um lockdown no país. Para piorar, o Congresso abre caminho para que a iniciativa privada dê de ombros para a vacinação dos grupos prioritários para a Covid-19 e adquira doses por conta própria para imunizar seus funcionários e familiares. A própria Organização Mundial da Saúde condenou esse tipo de prática, que parece que é adotada só aqui no Brasil, mais uma vez uma vergonha em escala global.

 

Eu vou fazer a leitura de um artigo do jornalista Leonardo Sakamoto, publicado pelo site UOL, onde ele mostra o absurdo que é essa decisão. O título do texto é “Câmara decide que empresário rico é grupo prioritário na fila da vacinação”:

 

A vida do rico vale mais do que a do pobre no Brasil. É assim como a parte tacanha de nossas elites política e econômica sempre viram as coisas. Não seria diferente em uma pandemia assassina global.

 

Quando uma política pública se choca com essa pedra fundamental da nação, ela precisa ser removida. E é isso o que fez a maioria da Câmara dos Deputados, nesta terça (6), ao flexibilizar a compra de vacinas para covid-19 por empresas para imunizar sócios e empregados. Na prática, uma bizarra furada de fila.

 

Vamos começar com o básico do básico: o Brasil não sofre com falta de vacinas por não ter dinheiro para compra-las, mas por que o governo Bolsonaro foi negligente e não quis encomendar imunizantes em quantidade suficiente no ano passado.

 

Além disso, o atraso na vacinação não se deve a uma deficiência na infraestrutura de saúde. O glorioso SUS é capaz de imunizar mais de 2 milhões de pessoas por dia – se tivéssemos vacinas, claro.

 

E ninguém em sã consciência é contra a ajuda da iniciativa privada. Há muita coisa que empresários que se dizem patriotas poderiam fazer, de doar comida aos mais necessitados até distribuir máscaras N95/PFF2 para evitar que trabalhadores se infectem no transporte público lotado.

 

O problema são os egoístas, que quando a vacina é pouca, pensam no seu braço primeiro.

 

O projeto aprovado na Câmara altera lei de março que permitiu à iniciativa privada adquirir vacinas autorizadas ou registradas pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Mas teriam que doar todas as doses ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) até que se encerrasse o calendário dos grupos prioritários. Depois disso, precisariam repassar 50%.

 

A nova proposta acaba com a necessidade dos 100% ao SUS, permite comprar vacinas que não tenham sido registradas no Brasil desde que aprovadas pelo equivalente à Anvisa de outros países. Como o poder público não conta com esse benefício, teremos um mercado reservado apenas aos empresários ricos. O PL demanda apenas que a mesma quantidade de imunizantes seja doada ao governo.

 

Os defensores do projeto dizem que a empresa terá que seguir o critério de grupos prioritários, mas sabemos que isso é conversa para boi dormir. Alguém duvida que isso criará uma fila dupla de vacinação, com quem tem dinheiro passando na frente de quem não tem? Se com as doses na mão do SUS, aqui e ali dá se um jeito para passar por cima dos critérios, imagina sem esse controle.

 

Mesmo ilegal, formaram-se filas de abonados em uma garagem de ônibus, em Belo Horizonte, para tomar uma dose de soro fisiológico. Imagine então quando isso tiver o timbre do Congresso Nacional. Vai ser a festa do caqui, passando por cima da fila do PNI.

 

E olha que havia um bode na sala da proposta fura-fila. Parlamentares chegaram a analisar a possibilidade de autorizar às empresas o abatimento do valor gasto com a compra de vacinas do Imposto de Renda. É isso mesmo que você leu. O que significaria transferir para todos nós o custo do cambalacho.

 

A cara de pau é tanta que há empresário defendendo que, diante da dificuldade de laboratórios venderem imunizantes a empresas, uma vez que a prioridade são governos, a compra seja intermediada por entidades públicas. Falta vacina, mas falta também óleo de peroba no país.

 

 O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), apadrinhou o cambalacho. A proposta encampada por bolsonaristas também tem o apoio do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O texto será analisado pelo Senado, que pode nos lembrar que é uma câmara revisora ou se confirmará que é apenas um carimbador de atentados contra a ética e o bom senso.

 

O fato de estarmos discutindo isso neste momento em que o país registra 4.211 mortes em 24 horas por covid ao invés de arregimentar bilionários e grandes empresas para ajudar a sociedade a sair do atoleiro como um todo, apoiando o SUS e não dando um passa-moleque no sistema, mostra que no fundo do poço tem um alçapão.

 

 E lá dentro se encontra o Brasil, gritando ‘é cada um por si e Deus acima de todos’”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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