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A ala mais fiel da base de apoio do bolsonarismo aos poucos vai perdendo espaço na cúpula do Executivo. Eu me refiro, evidentemente, àquela turma mais ideologizada, que já perdeu os ministros Abraham Weintraub, da Educação, Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e agora está na iminência de ver deixar o governo o titular da Pasta do Meio Ambiente Ricardo Salles.
A situação dessa figura abjeta, que já vinha recebendo inúmeras pressões para deixar o cargo, ficou quase insustentável depois que o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, enviou ao Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra ele, apontando a possibilidade de ocorrência dos crimes de advocacia administrativa, organização criminosa e o crime de “obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais”, em referência à apreensão, no ano passado, pela Operação Handroanthus, de mais de 200 mil m³ de madeira, no Pará, considerada a maior da história do país.
O ministro, além do senador Telmário Mota (Pros-RR), outro imputado, defenderam a liberação da madeira, alegando que ela estaria legalizada, ao contrário do que afirma a Polícia Federal. Salles disse que ouviu dos empresários que a madeira tinha sido derrubada dentro da lei e pediu pressa na análise da PF. A acusação de que o titular do Meio Ambiente teria se aliado aos madeireiros para atrapalhar a apuração dos crimes caiu como uma bomba no Palácio do Planalto, mas o governo ainda resiste em afastar um dos principais representantes da ala ideológica.
O novo diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Maiurino, substituiu Alexandre Saraiva na Superintendência no Amazonas para atender as pressões do governo. O novo titular passa a ser o delegado Leandro Almada. O temor era de que a atuação independente de Saraiva no órgão dificultasse os planos da gestão Bolsonaro. O próprio Salles já avisou, naquela fatídica reunião ministerial quase um ano atrás, que a intenção seria ‘passar a boiada’, alterando regras ligadas à proteção ambiental.
Outro fator que pode pesar nessa balança em relação à continuidade de Salles no cargo é a realização da cúpula do clima, organizada pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden e que terá a participação de Jair Bolsonaro na próxima semana. O Democrata é um dos defensores da retórica de combate ao desmatamento da Amazônia para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Alguns govenadores de estados brasileiros já até articulam o chamado movimento pelo clima, em carta que será encaminhada ao líder estadunidense.
É muito evidente que Ricardo Salles precisa deixar imediatamente o Ministério do Meio Ambiente. Caso o governo ceda às pressões nacionais e internacionais, só restaria na gestão Bolsonaro a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves como integrante do núcleo duro do bolsonarismo, formado lá no início do mandato, em 2019. Vamos aguardar e pressionar a gestão federal para que os nossos biomas deixem de sofrer nas mãos deste que já deu incontáveis demonstrações de que está aliado com o que há de pior no comércio ilegal de madeira no nosso país.
Eu gostaria de comentar também, rapidamente, essa decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal que confirmou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar os casos envolvendo o ex-presidente Lula na operação Lava Jato, só resta definir para onde os processos serão remetidos, para a Justiça do Distrito Federal ou de São Paulo. Por 8 a 3, apenas Nunes Marques, Marco Aurélio Mello e Luiz Fux votaram a favor do ex-juiz Sergio Moro, os magistrados reafirmaram o direito do petista de ter um julgamento justo. Ainda resta a análise em plenário da suspeição de Moro, esse sim um tema que deve dividir o Supremo.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: