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Ainda sob a comoção da chacina do Jacarezinho, que teve o número oficial de mortos elevado de 25 para 28, e da dor das mães que no dia dedicado a elas tiveram de enterrar seus filhos, eu quero ler alguns trechos de um longo e excelente artigo do professor da Universidade de Brasília Luis Felipe Miguel, em réplica a um texto escrito pelo economista Joel Pinheiro da Fonseca intitulado “Cinco anos depois, não há motivos para se arrepender de impeachment de Dilma”, ambos publicados pelo jornal Folha de S. Paulo.
No artigo, Luis Felipe Miguel mostra, sem pudores, a verdadeira face dessa direita ultraliberal, que derrubou de maneira ilegal a ex-presidente e agora tenta se passar por centro democrático, no momento em que a nau bolsonarista afunda, em meio a denúncias de corrupção e ao genocídio diante da pandemia. Nós vamos disponibilizar o link desse texto nas nossas redes sociais, que tem o título de “Não é possível dissociar golpe contra Dilma, Lava Jato e eleição de Bolsonaro” e começa assim:
“Depois que o STF carimbou sua parcialidade como juiz, Sergio Moro disse ao Brasil: “Não me arrependo de nada”. Joel Pinheiro da Fonseca evita Édith “Piá”, mas, em texto publicado na Ilustríssima, expõe o mesmo sentimento.
É significativo que, hoje, este tipo de explicação se faça necessária. O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) se revela a cada dia mais criminoso e, para muitos à direita, é preciso renegá-lo. Ao mesmo tempo, tentam apagar a linha de continuidade entre o passado bem recente —o golpe de 2016 e a conspiração judicial conhecida como Operação Lava Jato— e a situação dramática que atravessamos hoje.
Fonseca se inclui na “direita moderada” —curiosa definição para alguém que se construiu como vulgarizador de uma versão extrema do fundamentalismo de mercado. É uma doutrina que reduz todos os direitos ao direito de propriedade (ao ponto de achar que a venda de órgãos é uma ideia digna de atenção) e nega que a solidariedade e a justiça social sejam valores legítimos para orientar a organização do mundo social. Em qualquer tipologia razoável das correntes políticas, seu lugar está na ponta direita.
As diferenças em relação a Bolsonaro não são irrelevantes. Aqueles que se definem como direita moderada, quando não centro, condenam a insanidade no combate à pandemia, a apologia aberta da violência e, vários deles, também as demonstrações mais agressivas de racismo, sexismo e homofobia.
Porém, estão à vontade com o retrocesso nos direitos, com o desmonte do Estado social e com a redução do espaço do dissenso. Portanto, as confluências também são importantes.
O que o governo Bolsonaro mostra é que, ainda que separáveis em abstrato, na prática concreta o discurso hidrófobo e as políticas antipovo andam juntos. Mesmo que o golpe de 2016 e a Lava Jato não tenham tido o objetivo de levar o bolsonarismo ao poder, eles promoveram deliberadamente seu crescimento e o aceitaram, primeiro como instrumento, depois como parceiro menor, enfim como mal necessário. A eleição do ex-capitão não estava determinada de antemão, mas chamá-la de consequência imprevisível é simular um desconhecimento total dos fatos”.
O professor segue elencando uma série de argumentos para mostrar as conexões e o arranjo de ocasião entre esses neoliberais e o bolsonarismo, entremeada pelo golpe em 2016, e conclui da seguinte forma:
“Não faltam motivos para condenar Bolsonaro, mas, se um deles inclui o apreço à democracia e ao Estado de Direito, não é possível deixar de condenar igualmente a Operação Lava Jato e o impeachment fraudulento da presidente Dilma Rousseff”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: