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Em mais um dia de depoimentos, a CPI da Pandemia ouviu ontem (09) o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Antônio Élcio Franco, o número 2 do general Eduardo Pazuello na Pasta, e o que se viu foi um novo show de mentiras na comissão do Senado que investiga as responsabilidades em relação à crise da Covid-19 no país.
O ex-secretário criou um novo argumento em relação à demora na aquisição de imunizantes, e relatou que o governo não comprou a Coronavac em 2020 por “incertezas” e medo de que terminasse num “cemitério de vacinas”.
Ele disse também, veja só, que o Ministério comprou cloroquina em enorme quantidade no ano passado para tratamento da malária, e não da Covid. É muita cara de pau. Sobre o gabinete paralelo, o número 2 de Pazuello garantiu que não participava do grupo, tampouco tinha conhecimento do que era tratado. É mais um a tentar livrar a pele do presidente Jair Bolsonaro. Agora, uma importante medida tomada pelos senadores foi a convocação do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), apontado como líder desse tal gabinete paralelo. Ele sim tem muito a explicar na CPI.
Eu gostaria de voltar agora àquela decisão absurda do Exército de absolver o general Eduardo Pazuello e de estabelecer o sigilo por 100 anos em relação a esse episódio da presença do ex-ministro ao lado do presidente em um ato político, no Rio de Janeiro, mas dessa vez à luz de um outro caso, que pode complicar a situação das Forças Armadas e evidenciar a atuação política de militares da ativa. Eu reproduzo, para isso, a análise publicada ontem pela jornalista Thaís Oyama, no site UOL, que tem o título “Exército tenta tapar sol com a peneira, mas caso Luan pode ser incendiário”:
“No que depender do Exército, nenhum ser vivente deverá saber por que motivo seu comandante, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, decidiu não punir o general Eduardo Pazuello por transgressão disciplinar.
No máximo, terão acesso à informação aqueles que hoje engatinham ou começam a comer com talheres, mas esses não estarão nem aí para o caso do general daqui a cem anos, prazo em que a Força quer manter trancado a sete chaves o processo administrativo de que o protegido de Jair Bolsonaro saiu ileso.
O argumento de que a divulgação do processo feriria a intimidade do militar e por isso deverá ficar em sigilo por até um século foi a resposta do comando do Exército ao pedido de acesso aos documentos feito pelo jornal O Globo com base na Lei de Acesso à Informação.
A decisão do sigilo centenário, à que cabe recurso, é uma tentativa de o Exército de impedir que a impunidade do general amigo do presidente abra uma caixa de Pandora a espalhar ventos malignos em suas fileiras.
O esforço tem poucas chances de prosperar.
O terceiro sargento do Exército Luan Freitas Rocha, como revelou o Estadão, participou no mês passado de uma live do deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), aliado fiel de Bolsonaro.
Na transmissão, o militar, dizendo falar em nome das turmas de sargentos de 2013 e 2014, reclamou de mudanças na política de promoções da categoria e pediu a interferência do deputado, que respondeu prometendo falar com o presidente Bolsonaro. “Tudo o que trata do pessoal das Forças Armadas vem do presidente da República”, disse Vitor Hugo. “Posso fazer essa demanda formalmente para ele”, afirmou.
O Estatuto dos Militares veda a militares da ativa, caso do sargento Luan Freitas Rocha, quaisquer “manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político.” A Companhia de Comando da 15º Brigada de Infantaria Mecanizada, a que pertence o sargento, confirmou que ele responde a sindicância para apurar se houve transgressão disciplinar no episódio da live com Vitor Hugo.
No caso de Pazuello, um general quatro estrelas, a decisão sobre a (não) punição foi do comandante do Exército.
No caso do peixe pequeno Luan Freitas Rocha, ela caberá ao comandante da sua Companhia.
O caso está fermentando há dias tanto no alto quanto no baixo oficialato do Exército.
Se o sargento sair ileso, oficiais já revoltados com a impunidade de Pazuello dirão que o Exército virou mesmo a casa da mãe Joana.
Se for punido, a Companhia com sede em Cascavel poderá se tornar o foco de sargentos e praças revoltados com a ideia de que as regras militares só se aplicam ao baixo clero, enquanto deixam impunes o generalato.
Uma saída para a Força, talvez, seja decretar sigilo para toda eternidade também sobre o caso do sargento Luan, hipótese em que, para não abrir a caixa de Pandora, o Exército estará escolhendo se fechar ele mesmo numa tumba”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: