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Nós tivemos uma série de acontecimentos importantes no último fim de semana, como esse encontro das principais lideranças de países capitalistas do mundo no Reino Unido, o chamado G-7, que tratou de temas como as mudanças climáticas, a distribuição de vacinas contra a Covid-19 para aqueles países que não conseguem adquirir doses dos imunizantes, na última aparição de Angela Merkel como premier da Alemanha e com a estreia de Joe Biden representando os Estados Unidos.
Houve também mais uma motociata, no sábado (12), liderada pelo presidente Jair Bolsonaro, em São Paulo, onde ele deu mais um show de irresponsabilidade e desafiou as autoridades ao circular sem máscara, o que acabou rendendo a ele uma multa por descumprir um decreto estadual. E eu nem cheguei a citar nas nossas manchetes a morte do miliciano Ecko, o mais procurado do Rio de Janeiro, líder de uma facção que coordena a venda ilegal de serviços na Zona Oeste do Rio de Janeiro, tema que nós trataremos durante essa semana no nosso programa.
Mas eu gostaria de, no nosso editorial de hoje, me dedicar à análise dessa importante movimentação política na nossa esquerda, que foi a saída do deputado federal Marcelo Freixo do PSOL e sua filiação ao PSB, algo que já vinha se desenhando há algum tempo. Para isso, eu passo à leitura de um texto do economista José Luís Fevereiro, publicado nas suas redes sociais, que tem o título “Sobre o ’terrivelmente psolista’ e os ‘feios, sujos e malvados’:
“Marcelo Freixo saiu do PSOL para disputar o governo do estado pelo PSB. As razões alegadas são as diferenças sobre política de alianças. Embora a direção estadual do PSOL já tenha afirmado a sua disposição de abrir uma mesa de diálogo com os partidos da esquerda e centro-esquerda, Marcelo quer ir mais além e trazer para essa aliança partidos da direita liberal (aquela que a grande mídia apelida de centro) e isso certamente não passaria no PSOL.
Freixo avalia que para vencer as eleições no Estado do Rio é necessário ampliar a aliança para esses setores. Vejo alguns problemas nessa avaliação. Sempre que se fala disso surgem os nomes de Rodrigo Maia e de Eduardo Paes como interlocutores. Visto assim, eles até parecem ser a direita limpinha e cheirosinha, mas quando se olha para o Estado, interior e baixada, e se vê qual foi a base de apoio de Eduardo Paes na disputa do governo em 2018, surgem os feios, sujos e malvados.
Falar em aliança com setores da direita liberal significará negociar com vários clãs e oligarquias da baixada e interior ou então não terá eficácia. Estamos falando de Cozzolinos, ou da família ‘do Posto’ em Magé e Guapimirim, estamos falando de Washington Reis ou da família Zito em Caxias, estamos falando em Celso Jacob e Vinicius Farah em Três Rios, estamos falando em escolher uma das oligarquias de Campos.
Marcelo está preparado para isso? Vai conversar sobre o Detran com Vinicius Farah? Tenho muita confiança no Marcelo Freixo, quadro sério, corajoso e que vem literalmente travando uma batalha de vida e morte com as milícias desde 2008. E acho que esse acordo com parcelas da direita liberal não tem como prosperar salvo alguns acertos pontuais. Marcelo não fala o mesmo idioma que esse pessoal.
A segunda razão da saída de Freixo do PSOL é a necessidade de se desvencilhar da imagem de ‘terrivelmente Psolista’ que dificultaria seu dialogo seja com os atores políticos mais conservadores, seja com a parcela do eleitorado que rejeita o PSOL pelo seu protagonismo na polarização política no nosso estado. Aqui no Rio o antipsolismo conservador é mais intenso que o antipetismo, porque o PSOL é o maior partido da esquerda.
Os primeiros movimentos Marcelo já os fez. Segundo se noticiou, o marqueteiro Renato Pereira, que fez as campanhas de Cabral, Pezão, Eduardo Paes e Pedro Paulo, além de ser o idealizador do Pato da Fiesp, teria sido contratado. Certamente não é o único marqueteiro qualificado nem Freixo o achou pelos classificados. Foi escolha política e simbólica. Chamar Raul Jungmann para elaborar o programa de segurança também faz parte desse reposicionamento de imagem. Sai o ‘Se a Cidade Fosse Nossa’ de 2012 e 2016 e entram “técnicos” palatáveis ao establishment político e confiáveis a parcelas das classes médias conservadoras. A reação estridente de parte minoritária do PSOL, ontem, por tuites e notas, criticando duramente essas iniciativas eram o objetivo da ação, concluída com sucesso.
Marcelo Freixo faz uma inflexão política pensada, calculada, e com o objetivo absolutamente nobre de tentar derrotar o Bolsonarismo no seu berço e consequentemente enfrentar as milícias tendo o aparelho de estado do seu lado.
Não creio que tenha chance de sucesso no sentido de viabilizar uma aliança ampla, embora certamente vá conseguir agregar alguma coisa. Mas também perde. A política tem se movido pelos polos e não apenas no Brasil. Não concordo com a sua escolha, e ela de fato não seria possível no PSOL onde teria mínimo ou quase nenhum apoio.
Teremos uma eleição presidencial simultânea onde derrotar o Bolsonarismo e a agenda liberal são imperativos para a esquerda. O Bolsonarismo é a forma truculenta de passar uma agenda de contrarreformas e de destruição de direitos de tal forma cruel que pelos mecanismos tradicionais não prosperaria.
Mas se não concordo com as movimentações táticas de Marcelo Freixo, reconheço que nenhuma política alternativa tem qualquer chance de ser sequer levada em consideração pela base social da esquerda se tentar se construir contra a candidatura dele. Tentar fazer isso é caminhar para o gheto e a desmoralização.
Vivemos tempos difíceis onde todas as escolhas são turvas para quem faz política para além da reafirmação de princípios”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: