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Nós praticamente fechamos a última semana com mais um desastre para a cultura do nosso país, aquele incêndio na noite de quinta-feira (28) em um dos galpões da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, que destruiu boa parte do arquivo histórico de produções cinematográficas, documentos importantes, tudo por culpa, mais uma vez, da irresponsabilidade desse governo do senhor Jair Bolsonaro. Por conta disso, eu aproveito para fazer a leitura nesse nosso editorial de mais um belo artigo da jornalista Cristina Serra, publicado no último sábado pelo jornal Folha de S. Paulo, que tem o título “Bolsonaro e as cinzas do Brasil”. A Cristina escreve o seguinte:
“O incêndio no depósito da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, é uma metáfora dramática do Brasil sob Bolsonaro, sufocado por uma nuvem tóxica de cinzas e escuridão. Cultura, arte, passado, presente e futuro devorados na fogueira da ignorância e da vulgaridade que tomou o país de assalto.
O bolsonarismo é mais destruidor que os cupins. Mas a comparação é até injusta com os insetos. Cupins têm papel fundamental nos ciclos ecológicos. Bolsonaro é praga de elevado potencial devastador, com seu cortejo tenebroso de generais, milicianos, pastores de araque, trambiqueiros de vacina, adoradores do nazifascismo, capitães do mato, jagunços no parlamento, capangas infiltrados nas instituições e aduladores do deus “mercado”.
Bolsonaro odeia o Brasil. Por isso essa guerra sem trégua. Censo para conhecer o país e suas necessidades, educação e esporte, estímulo à produção científica, arte e cultura, meio ambiente saudável? Tudo que reafirma nossa dignidade como povo e que nos dá possibilidades de futuro é objeto da violência de terra arrasada, tragicamente representada nos mais de 550 mil mortos na pandemia.
Já fora um prenúncio sua reação ao incêndio do Museu Nacional, no Rio, em setembro de 2018. ‘Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?’ Quantas vezes Bolsonaro reagiu com a mesma indiferença à escalada de mortes na pandemia? ‘E daí?’
O fogo na Cinemateca tem a mesma força simbólica dos ossos que os desesperados de barriga vazia recolhem na fila do açougue, na capital do agronegócio, Cuiabá. Morte, fome, doença e tentativa de extermínio da memória nacional são resultados de uma guerra anunciada.
Assistindo ao incêndio na TV, uma amiga mandou-me mensagem, angustiada: ‘O que vai sobrar deste país?’. Lembrei do samba de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares: ‘O sol há de brilhar mais uma vez’.
Lembrei de Rayssa e Rebeca, em Tóquio. E disse a ela: ‘Nós. Nós estaremos aqui e vamos construir tudo de novo’”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: