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Continua repercutindo em todo o país aquela live realizada na última quinta-feira (28) pelo presidente Jair Bolsonaro, onde ele cansou de criar factoides a respeito de uma suposta fraude nas eleições presidenciais de 2018. Ministros e ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral divulgaram ontem uma nota conjunta onde condenam os ataques do chefe do Executivo à democracia e reafirmam a lisura do processo eleitoral brasileiro, destacando que as urnas eletrônicas são inteiramente confiáveis e auditáveis.
Quem também se posicionou a respeito desse episódio foi o cientista político Celso Rocha de Barros, em sua ótima coluna publicada no último domingo (01) pelo jornal Folha de S. Paulo, que tem o título “Bolsonaro não salvou a democracia”:
“Na live presidencial da última quinta-feira, Jair Bolsonaro voltou a ameaçar a democracia brasileira. Incapaz de arcar com o ônus da prova, resolveu sacar provas do ânus e mentiu que há risco de fraude nas eleições. Bolsonaro mente para dar um golpe. Quer dar um golpe para fugir da cadeia.
Isso aconteceu durante uma nova rodada de circulação do argumento ‘o centrão vai moderar Bolsonaro’. A nova rodada foi iniciada com a indicação de Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Nogueira é um dos chefes do centrão.
Na última quinta-feira, a Folha publicou um artigo do jornalista Mario Rosa dizendo que ‘Bolsonaro não pode ser acusado de fascista, golpista, antidemocrata e, ao mesmo tempo, ao atrair um político experiente e presidente de um partido tradicional, receber a pecha de ‘contraditório’, ‘velha política’’.
Rosa está errado.
Não há qualquer contradição entre ser golpista e ladrão, muito pelo contrário. Pode ter havido uma ou outra ditadura honesta na história do mundo, mas a regra é que a turma sempre dá golpe para roubar, para roubar coisa grande. Sempre foi assim no Brasil, continua sendo.
A tese do “moderado pelo centrão” não é, vejam bem, absurda desde sempre. Os bolsonaristas querem dar golpe para roubar. Se pudessem roubar sem correr o risco de morrer durante um golpe fracassado, talvez o “Bolcentrão” nos levasse à moderação. Não era impossível que o centrão moderasse Bolsonaro.
Mas já faz mais de um ano que a aproximação de Bolsonaro com o centrão começou. É hora de julgar a estratégia pelos resultados.
Eles são claros: até agora, o centrão não moderou o golpismo de Bolsonaro. O plano de melar a eleição de 2022 é cada vez mais claro, os ataques às instituições são diários, a maioria parlamentar cooptada não é utilizada para aprovar qualquer agenda de governo. Até agora, Bolsonaro só pediu ao centrão que evite o impeachment enquanto o Planalto articula o golpe.
O centrão entregou a mercadoria que lhe foi solicitada. Graças ao acordão de 2020, Bolsonaro não caiu enquanto se recusava a comprar vacina que viesse sem suborno. Morreram, até agora, 550 mil brasileiros.
Às vezes a tese ‘o centrão vai moderar’ aparece casada com uma outra, a de que o Congresso não aprovou as pautas autoritárias de Bolsonaro, como os projetos da extremista Bia Kicis (PSL-DF) que aposentariam compulsoriamente ministros do STF.
Seria, entretanto, absurdo atribuir essa resistência do Congresso à constituição do “Bolcentrão”. Um Congresso não cooptado teria feito mais coisas que Bolsonaro queria?
O que a experiência internacional sugere é que as pautas autoritárias não passaram no Congresso porque Bolsonaro, ao contrário, por exemplo, do húngaro Viktor Orbán, não conseguiu montar um partido fascista poderoso no Congresso.
O trato implícito na ideia ‘o centrão vai moderar’ era que a turma roubaria, mas impediria o golpe. Estão roubando: na compra de vacinas, no “Orçamento paralelo”, na expansão sem justificativa razoável do fundo eleitoral. Mas os ataques à democracia continuam.
Se o centrão não castrar definitivamente o golpismo bolsonarista, será o caso de nos perguntarmos se essa rapaziada estava mesmo moderando Bolsonaro ou se só utilizou a ameaça golpista do presidente para roubar nosso dinheiro”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: