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Editorial – 29.11.2018

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A operação Lava Jato finalmente chegou a Luiz Fernando Pezão. Pezão é mais um dos agentes públicos suspeitos de intermediar os interesses do mundo dos negócios junto ao Estado, ao Poder Legislativo, ao próprio Poder Executivo e, quem sabe, até mesmo o Poder Judiciário. A grande questão a respeito das operações anticorrupção, particularmente à operação Lava Jato, é que elas desnudaram por completo essa relação promíscua entre o mundo dos negócios e o mundo da política. É disso que se trata.

 

Evidente é importante que agentes públicos como Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral ou quem quer que seja, porque tem muita gente importante da política que encontra-se em prisão, respondendo a processo ou sob investigação, mas a grande questão que interessa é o que permitiu no nosso país essa promiscuidade total entre o mundo dos negócios e o da política. Até porque nós tivemos como consequência desse verdadeiro tsunami que atingiu a política brasileira mudanças substantivas, por exemplo, no quatro da própria política, especialmente nessas últimas eleições.

 

Tivemos a vitória inusitada de Jair Bolsonaro, bem como um conjunto de governadores, que na esteira justamente das repercussões das operações anticorrupção acabaram se colocando como uma alternativa para o que está aí, especialmente uma alternativa que se apresentou como proposta de saneamento da política, de limpeza de todos esses problemas relativos à corrupção, mas será que este é o caminho?

 

Essa é a grande questão, porque nada indica que a nova geração de políticos que ascendeu frente a essa desmoralização da política tradicional possa apresentar, de fato, uma prática diferente, que vão parar com essa captura do mundo dos negócios em relação ao mundo da política. Tivemos a eleição do Bolsonaro e ele monta um super-ministério da Economia tendo à frente Paulo Guedes, um economista, como seu super-ministro, mas o que representa Paulo Guedes?

 

Justamente o mundo dos negócios. A trajetória de Paulo Guedes nada tem a ver com o Estado ou a ideia de bem estar para população. A trajetória de Paulo Guedes tem a ver principalmente com suas espertezas no mundo financeiro. Paulo Guedes construiu uma fortuna a partir de negócios do mundo financeiro que talvez sejam o principal elo com o mundo da política em torno da irresponsabilidade com que é administrada a dívida pública no Brasil, que ao invés de servir como instrumento fundamental do Estado para ampliar sua capacidade de investimentos, de ação na sociedade para melhorar nosso bem estar, muito ao contrário, a dívida pública virou um grande negócio para remunerar os capitais que se recusam a ir para produção, consumo, área de serviço, e simplesmente pretende-se a sua valorização através dos negócios, da compra de títulos públicos com remuneração altíssima, e em relação a eles, quem paga essa conta somos nós.

 

Por isso me parece necessária muita cautela de toda cidadania, especialmente dos trabalhadores, em relação às consequências dessas operações anticorrupção. Não resta dúvida que é importante a prisão de políticos corruptos, mas nós precisaríamos atacar principalmente essa relação do mundo dos negócios com o mundo da política, porque a partir dessa relação é que surgem os políticos corruptos. Os políticos corruptos são apenas uma consequência dessa apropriação, desse controle que o mundo dos negócios exerce sobre o mundo da política.

 

É sobre isso que temos de refletir, porque precisamos de uma política que seja autêntica em relação os interesses dos trabalhadores, e não de capitalistas. Porque aos capitalistas o que interessa é permanentemente a busca pelo lucro incessante e, nesse sentido, se apropriar dos negócios do Estado, comprar políticos, é uma prática recorrente, permanentemente realizada no intuito essencial de manter esse processo de lucratividade, de negócios que dão muita vantagem para grupos privilegiados. Não adianta mudança dos políticos se a vida do Estado, se o controle do Estado e, principalmente, se a ação perniciosa do mundo dos negócios continua em curso. Essa é a nossa preocupação.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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