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Editorial – 23.08.2021

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Os acontecimentos da última semana, com as ações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal para desarticular essa verdadeira quadrilha que dissemina ameaças à democracia no nosso país, tiveram como reação esse anunciado e inusitado pedido de impeachment pelo presidente Jair Bolsonaro, que ampliou o panorama de imprevisibilidade institucional no nosso país.

 

Só que o clã bolsonarista parece mais preocupado com o avanço das investigações dessa milícia digital que propaga fake news e discursos de ódio no país, como mostra o jornalista Bernardo Mello Franco na sua coluna publicada no último domingo (22) pelo jornal O Globo, que tem o título “O fantasma da cadeia”:

 

Na noite de quinta-feira, Eduardo Bolsonaro expôs o fantasma que apavora a família presidencial. O deputado reclamava do cerco a aliados que ameaçam a democracia e conspiram contra a eleição de 2022. Em tom de desabafo, questionou: “Qual seria o próximo passo? Prender o presidente? Prender um dos filhos?”.

 

Depois do sincericídio, o Zero Três ainda tentou se corrigir. “A gente não tem medo de prisão”, disse. Mas suas três perguntas já haviam escancarado o pânico do clã.

 

O Judiciário deu novos passos para desmontar a máquina de ódio e desinformação que sustenta o bolsonarismo. Na segunda-feira, o Tribunal Superior Eleitoral bloqueou o financiamento de sites especializados em notícias fraudulentas. Quatro dias depois, a Polícia Federal fez buscas contra aliados do presidente que organizam atos golpistas.

 

A operação da manhã de sexta foi autorizada por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. No fim da tarde, Jair Bolsonaro apresentou um pedido de impeachment contra o ministro.

 

Na família presidencial, o vereador Carlos Bolsonaro é o mais assustado com o avanço das investigações. Quando o TSE fechou a torneira dos sites de fake news, o Zero Dois acusou o golpe e reclamou de “censura”. Na semana anterior, ele havia protestado contra a prisão de Roberto Jefferson, que classificou como “injusta”.

 

“Qualquer inocente sabe que sua prisão é preocupante não somente a um, mas a todos os brasileiros”, tuitou o vereador. Sua preocupação parece menos ligada ao ex-deputado do que ao próprio destino.

 

O patriarca do clã também ganhou novos motivos para temer a cadeia. No início do mês, ele foi incluído na lista de investigados no inquérito das fake news. Na decisão, Moraes anotou que o presidente pode ter cometido onze crimes em seus seguidos ataques ao sistema eleitoral.

 

Bolsonaro sabe que o Senado barrará qualquer tentativa de cassar ministros do Supremo. Seu objetivo é inflamar a militância de extrema direita antes dos atos governistas de Sete de Setembro. O factoide também alimenta a campanha para minar a confiança popular no voto eletrônico. Moraes assumirá o comando do TSE em agosto do ano que vem, às vésperas das eleições.

 

A ofensiva contra o Supremo é um novo alerta a quem ainda se ilude com a ideia de que Bolsonaro possa se moderar. Em queda nas pesquisas, o presidente fará de tudo para manter os eleitores mais radicais a seu lado. Por isso, tende a aumentar os ataques às instituições e as ameaças de golpe.

 

A disputa de 2022 definirá mais que o futuro inquilino do Planalto. Para a família Bolsonaro, será uma questão de vida ou morte. Se perder o cargo, o capitão também perderá a blindagem judicial. Seu antecessor, Michel Temer, sabe bem o que isso significa. Ele foi preso em 21 de março de 2019, apenas 79 dias depois de deixar o poder”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

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