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Como era esperado e para o alívio do presidente Jair Bolsonaro, o procurador-geral da República Augusto Aras foi reconduzido à chefia do Ministério Público Federal ontem (24), após passar por sabatina no Senado e ser aprovado pelos parlamentares em votação secreta no plenário da Casa.
Em seu discurso inicial à Comissão de Constituição e Justiça da Casa, Aras tentou passar a imagem de imparcialidade na sua atuação à frente do MPF, minimizando as críticas que recebe dos seus pares. Além disso, o PGR fez questão de defender a classe política ao criticar a atuação da operação Lava Jato e também seu antecessor no cargo, o ex-procurador Rodrigo Janot, ressaltando que “poderia distribuir flechadas, criminalizando a política”, em referência à célebre frase de Janot “enquanto tem bambu, tem flecha”.
Questionado sobre seu alinhamento ao chefe do Executivo, em decisões que protegem o ex-capitão e o livram de responsabilidades sobre determinados temas, especialmente os relacionados à pandemia de Covid-19, Aras afirmou que não é “censor” de autoridades e que age de forma técnica no comando da Procuradoria, na fiscalização de eventuais irregularidades cometidas por outros poderes.
É impressionante a cara de pau desse senhor, imaginem se ele fosse omisso. O país pegando fogo, sob a ameaça de um presidente autoritário, com quase 600 mil brasileiros mortos por uma pandemia, e o Procurador desconsidera a influência das fake news, diz que não existe orçamento secreto no Governo para favorecer sua base, fala em liberdade de expressão para justificar ameaças, avalia que não há provas científicas sobre a eficácia do uso de máscaras contra o coronavírus.
Agora, o que chamou a atenção durante a sabatina foi a passividade e a conivência dos senadores diante de Augusto Aras, alguém que vem assinando embaixo a escalada autoritária que Jair Bolsonaro estabelece no nosso país. Um dos poucos a fugir dessa lógica foi Jorge Kajuru (Podemos-GO), que chamou o postulante à recondução na PGR de “engavetador geral” e lembrou que há um golpe em curso no país.
Outro aceno que Aras fez aos parlamentares, além de condenar a operação anticorrupção que tinha como QG a cidade de Curitiba, foi ressaltar que ele não fez espetáculos midiáticos das operações autorizadas pelo Ministério Público, ao contrário do que era visto em gestões anteriores.
Enfim, a grande questão é que, apesar de ter garantido mais dois anos no comando da PGR, Aras pode deixar o posto logo, pois ele é tido como plano B de Jair Bolsonaro caso a indicação de André Mendonça para uma vaga no Supremo Tribunal Federal não vingue, algo que está no radar após o presidente irritar os senadores com o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes. Vale lembrar que também são os parlamentares que ratificam o postulante ao STF.
O que cabe ao Procurador-Geral da República, e isso nós fazemos questão de citar sempre aqui no programa, é ser um fiscal do Poder Executivo e dar cumprimento ao que rege o texto constitucional no que diz respeito aos crimes cometidos pelo presidente da República, e Jair Bolsonaro já cometeu inúmeros. Muitos outros serão demonstrados pelo relatório final da CPI da Pandemia, que deve ser finalizado até meados do mês que vem e ficará a cargo da análise de Aras para que o ex-capitão possa ser julgado.
A sociedade brasileira precisa cobrar o senhor Augusto Aras para que ele faça jus ao cargo que volta a ocupar e dê prosseguimento às denúncias que virão da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre as responsabilidades de Jair Bolsonaro neste morticínio, bem como encerrar, de uma vez por todas, esse governo que tem no autoritarismo e nas ameaças à democracia sua palavra de ordem.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: