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Depois de quase duas semanas sem depoimentos, a CPI da Pandemia retomou ontem (14) os trabalhos lá no Senado e com uma oitiva das mais esperadas até aqui na comissão. Eu me refiro ao advogado e empresário Marcos Tolentino que, depois de muito fugir de prestar esclarecimentos, falou para os parlamentares. Ele é acusado de ser sócio oculto do tal do FIB Bank, fiador da Precisa Medicamentos na negociação de vacinas do laboratório indiano Bharat Biotech com o Governo Federal.
E, como a maioria dos depoentes tem feito na CPI, o empresário, que é amigo de longa data do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e suspeito de ser o articulador de todo esse suposto esquema de corrupção no Ministério da Saúde, recorreu ao direito de ficar em silêncio diante dos questionamentos, após autorização do Supremo Tribunal Federal. Ele apenas negou ter qualquer participação na sociedade da empresa.
Só para vocês, ouvintes, terem ideia da estirpe dessa figura, que é dono da Rede Brasil de Televisão, a Receita Federal identificou nada mais, nada menos que seis CPF’s no nome desse senhor, sendo quatro já cancelados e dois ainda ativos. É esse tipo de gente que negocia com o Governo Federal.
Evidente que esse pessoal não vai assumir participação nesse escândalo de compra superfaturada de vacinas contra a Covid-19, que acabou não se concretizando por conta das denúncias dos irmãos Miranda, mas os senadores já acumulam provas robustas de que o esquema estava todo desenhado, com participação de uma série de figuras ligadas ao presidente Jair Bolsonaro. Veremos se, ao final da CPI, os denunciados serão realmente processados.
E eu não posso deixar de fazer a leitura nesse editorial de mais um excelente artigo da jornalista Cristina Serra, publicado ontem pelo jornal Folha de S. Paulo, onde ela escancara a anuência de determinadas figuras à frente das tais instituições que, para muitos, seguem em pleno funcionamento e garantem a manutenção da nossa democracia. O título do texto é “Luiz Fux, o guitarrista supremo”. Diz a Cristina:
“Era novembro de 2012, numa festa em homenagem ao recém-empossado presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Lá pelas tantas, o ministro Luiz Fux subiu ao palco e submeteu os presentes a uma exibição dos seus dotes de guitarrista e cantor. Escolheu “Um Dia de Domingo”, do repertório de Tim Maia.
O talento musical não é o forte de Fux, hoje presidente da corte. O decoro que o cargo exige também não. Soube-se por esta Folha que ele participou de um rega-bofe com 20 empresários, em São Paulo, na semana passada. Alguns dos convivas declaram-se abertamente apoiadores de Bolsonaro, agressor da democracia, da legalidade e da Constituição, que o Supremo tem por obrigação defender. Consta que o ambiente estava tão descontraído que Fux cantarolou para deleite dos comensais.
Que a autoridade máxima do Judiciário almoce com empresários, em ambiente restrito, já é bastante complicado. Que alguns convidados sejam apoiadores do chefe do Executivo que acabara de ensaiar um golpe, tendo como mote a invasão e o fechamento do STF, é simplesmente inexplicável.
Em que outro país isso seria considerado normal? Percorri mentalmente os que são citados com frequência nas sessões do STF pelo arcabouço jurídico que conseguiram construir e pelos juristas que são referências para seus pares aqui: Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Reino Unido. Alguém consegue imaginar o presidente do Judiciário de algum desses países em animado convescote com empresários adeptos de um golpista e, vai saber, todos se balançando ao ritmo dos trinados supremos?
Numa sociedade em convulsão, como a brasileira no momento atual, canais de diálogo entre os poderes e a sociedade podem e devem ser desobstruídos. Mas isso deve ser feito de maneira institucional, transparente e com sobriedade. Caso contrário, fica difícil não ouvir o eco da frase premonitória do ex-senador Romero Jucá, no fatídico 2016: ‘Com o Supremo, com tudo’”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: