Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:

Editorial – 03.06.2022

Compartilhe:
editorial_1170x530

Os números da mais recente pesquisa de intenções de voto para a Presidência da República, divulgados pelo Datafolha na última semana, seguem dando o que falar, especialmente no chamado núcleo duro do bolsonarismo. A jornalista Malu Gaspar trouxe na sua coluna de ontem no jornal O Globo uma importante análise desses dados e seus efeitos. O título do texto é “Cheque em branco de Lula contra Bolsonaro não dura até outubro”. A Malu escreveu o seguinte:
Os resultados da última pesquisa Datafolha produziram efeitos importantes sobre a corrida eleitoral. Um deles foi a desorientação do núcleo político de Jair Bolsonaro.

 

Antes de o levantamento mostrar que, se as eleições fossem hoje, Luiz Inácio Lula da Silva poderia ganhar no primeiro turno, Ciro Nogueira, Arthur Lira e Paulo Guedes marchavam juntos para trocar a direção da Petrobras, estabelecer um teto para o ICMS dos combustíveis e ter uma desculpa para dizer, nos palanques, que fizeram todo o possível para derrubar a inflação.

 

Nos bastidores, Guedes comemorava a adesão dos chefes do Congresso a sua proposta de lidar com a crise sem ter de recorrer a subsídios do Tesouro. Veio o Datafolha, e o jogo virou. Lira, Nogueira e outros líderes do Centrão agora informam que a estratégia do ministro da Economia está errada e que, se ele continuar nessa toada, acabará ajudando a eleger Lula.

 

Ao mesmo tempo, Bolsonaro passou a dizer que não vai aos debates no primeiro turno, numa demonstração de que não vê vantagem em se expor à discussão pública sobre o próprio governo. Seria esperado se estivesse na frente nas pesquisas, e não num distante segundo lugar.

 

Esses movimentos facilitam o jogo para Lula, que se sente à vontade para também não expor a própria proposta. Numa entrevista na terça-feira aos jornalistas Sérgio Stock e Guilherme Macalossi, da Rádio Bandeirantes de Porto Alegre, o petista foi questionado diversas vezes sobre seu plano econômico.

 

Embora tenha arriscado um ou outro palpite — ao dizer, por exemplo, que pretende buscar uma fórmula para “abrasileirar” o preço dos combustíveis —, o tom geral da conversa pode ser resumido por esta resposta:

 

“Depois que ganhar, nós vamos começar a dizer o que vai acontecer nesse país. Tem que ter muita previsibilidade. Ninguém vai ser pego de calça curta no meu governo. Os banqueiros sabem disso, o agronegócio sabe disso, o pequeno comerciante sabe disso”.

 

Diante do comentário de que ele parecia querer um cheque em branco para governar, Lula refutou. “Eu não preciso ficar fazendo promessas. Eu só tenho que mostrar o que nós já fizemos”.

 

Guardadas as nuances entre uma entrevista de rádio e uma conversa em reunião fechada, o conteúdo é muito parecido com o que empresários, banqueiros e agentes do mercado financeiro vêm ouvindo dos emissários do ex-presidente: não anteciparemos nada sobre economia; vocês conhecem o Lula, confiem nele. Ele é a garantia.

 

Do ponto de vista eleitoral, a estratégia faz sentido. Para que o líder nas pesquisas vai se jogar na fogueira dos combustíveis, se pode assistir de camarote ao calvário de Bolsonaro? Também não é despropositado que ele recorra a seu histórico de governo para pedir que lhe deem mais uma chance.

 

Tudo certo, não fossem algumas questões nada desprezíveis. O legado de Lula e do PT não traz apenas a lembrança do combate à fome e do crescimento econômico dos primeiros anos.

 

Traz também a memória da recessão do governo Dilma e da corrupção na Petrobras. Foi o próprio Lula quem disse, na discussão com os jornalistas da Band, que o que aconteceu na Petrobras “não foi falta de dinheiro, foi falta de decência na direção”.

 

Quem se incomoda com esse aspecto do legado petista é justamente a fatia do eleitorado que as pesquisas mostram ainda reticente com a ideia de votar em Lula para tirar Bolsonaro do poder.

 

Portanto, mesmo que queira interditar o debate, sob o argumento de que só ele pode reconstruir nossa democracia, ainda assim Lula terá de explicar o que pretende repetir do passado e o que fará diferente, porque disso podem depender votos decisivos.

 

Além disso, por mais desafiador que seja o cenário para a democracia brasileira, tanto lulistas quanto bolsonaristas reconhecem que a economia é que decidirá a disputa presidencial. Todos os levantamentos internos das campanhas mostram que, em outubro, o eleitor escolherá quem puder resolver os problemas do país.

 

No atual estágio da campanha, o discurso de Lula tem sido suficiente para passar essa imagem de resolvedor. Mas o país hoje é muito diferente do que Lula encontrou em 2003.

O eleitor sabe disso.

 

Acreditar que será possível se manter assim até outubro demonstra excesso ou de autoconfiança ou de ingenuidade. Lula pode estar acometido da primeira, mas nunca se poderá acusá-lo da última”.

 

Ouça o comentário de Anderson Gomes:

 

Deixe seu comentário:

Apoie o Faixa Livre:

Apoie o Faixa Livre:

Baixe nosso App

Baixe nosso App

Programas anteriores