Estamos de volta depois da nossa interrupção de final de ano e desse início de 2019. Retornamos ao nosso convívio diário do programa Faixa Livre onde procuramos esclarecer, discutir, debater as questões do nosso tempo, as questões contemporâneas, as questões do nosso Brasil e também do mundo, e em um momento muito peculiar: sabemos que a eleição de Bolsonaro abre no nosso país um novo quadro político. Isso não é uma novidade, e nem uma surpresa.

As primeiras declarações tanto de Bolsonaro, como de seus ministros deixam claro que nós teremos muito o que debater. É verdade também que junto com muita propaganda, propaganda às vezes grosseira, na verdade o governo Bolsonaro tem um imenso desafio pela frente. A sociedade brasileira talvez nunca esteve em uma situação tão débil, em uma crise econômica com altíssimos níveis de desemprego.

Existe um problema muito sério em relação aos próprios rumos do desenvolvimento econômico brasileiro, que vem sendo marcado por muitas indefinições depois de um longo período de recessão que nos atingiu por dois anos consecutivos e, após esses dois anos, 2015 e 2016, estamos patinando, não encontramos ainda um caminho de recuperação desse crescimento econômico com todos os problemas que essa história de crescimento econômico na verdade apresenta no nosso Brasil.

Em geral, o crescimento econômico é associado ao bem-estar, mas aqui, pelo menos para a grande maioria da população, os períodos em que tivemos fortes aumentos do produto, crescimento econômico relevante, não necessariamente se refletiram em bem-estar para a população. O resultado disso é que em um momento como esse, onde após um período recessivo temos um longo período de estagnação, os efeitos sociais são terríveis. A degradação dos serviços públicos e da segurança pública, por exemplo, são dois elementos que apontamos como muito graves e que os nossos governantes, não somente o Governo Federal através de Bolsonaro, mas principalmente os governos estaduais, terão de enfrentar e essa é a grande questão: como enfrentar esses problemas?

Há na verdade uma crise de projeto no Brasil, uma crise de rumos e nós apenas constatamos que o governo Bolsonaro de alguma maneira aprofunda essas questões. A última semana inclusive, especialmente a última sexta-feira, foi bastante sintomática dessas dificuldades que atingem a proa do governo Bolsonaro. O disse-me-disse foi amplo, geral e irrestrito. Começou com Bolsonaro prometendo e, principalmente, declarando inovações na área fiscal, que depois foram simplesmente desmentidas pelos seus assessores tanto da Receita Federal, como o chefe da Casa Civil.

Enquanto isso, o super ministro da Economia, o senhor Paulo Guedes, sintomaticamente desapareceu. Isso mostra muito bem como as indefinições na área econômica ainda são uma marca do governo Bolsonaro apesar de ele ter assumido reafirmando a sua prioridade em torno das mudanças nas regras previdenciárias. Essa é uma pressão muito forte dos setores dominantes da economia. Eles querem, na verdade, uma margem maior de manobra dentro do orçamento público, e, para isso, querem reduzir as despesas previdenciárias e principalmente pensar também, e isso já foi objeto de declarações de Paulo Guedes, em desvincular toda e qualquer receita do orçamento de despesas predeterminadas, especialmente na área da saúde, da educação ou em outras áreas sociais.

Portanto, teremos muita batalha pela frente e é nesse sentido que quero destacar a importância da imprensa e particularmente de programas como o Faixa Livre. Teremos de estar muito vigilantes. Temos observado que os poderes constituídos estão profundamente comprometidos com uma política antinacional, antissoberania, antipovo e, principalmente, antidemocracia, porque se o povo não é atendido nas suas demandas, se o povo não é atendido pelo Estado brasileiro, é evidente que caminhamos no sentido inverso daquilo que concebemos com uma democracia verdadeira e, nesse sentido, estamos muito preocupados.

Queremos que haja um amplo movimento democrático em defesa da soberania nacional, em defesa do combate às desigualdades, em defesa da própria democracia, esses são pilares fundamentais da vida que o Faixa Livre procurou construir na sua relação de imprensa junto aos nossos ouvintes e, nesse momento, percebemos que tanto a questão da soberania nacional, como o problema do combate às desigualdades, bem como a defesa da democracia sob o ponto de vista dos de baixo, dos trabalhadores, da grande maioria do povo, todas essas questões estão em risco.

Nesse sentido, o Faixa Livre vai reafirmar seu compromisso com esses postulados e esperamos que o conjunto da imprensa e, particularmente, a imprensa alternativa se some a esse esforço. Precisamos estar vigilantes, discutindo permanentemente um conjunto de ataques que se dirige contra a soberania nacional, a democracia sob o ponto de vista dos trabalhadores e a própria ideia de se debater a desigualdade, no país campeão da desigualdade no mundo. Por isso, chamamos todos vocês, ouvintes, que estejamos neste ano de 2019 muito juntos, de mãos dadas, e atentos a tudo aquilo que acontece ao nosso redor nas políticas de resistência, nas políticas alternativas para superarmos mais uma quadra histórica que, tenho certeza, temos de deixar para trás, mas para isso é necessário muita clareza de como agir e como resistir a uma ofensiva que, nós sabemos, será para valer.

Ouça o comentário de Paulo Passarinho: