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A crise brasileira é muito grave. Essa crise, por exemplo, levou a uma situação inusitada nessas últimas eleições com a vitória até certo ponto surpreendente do candidato Jair Bolsonaro. Jair Bolsonaro claramente foi uma espécie de outsider que soube muito bem unificar um conjunto de forças políticas que souberam aproveitar todo desgaste dos governos do PT depois de seus longos anos no Palácio do Planalto, onde, inclusive, tivemos a culminância de uma crise econômica nos anos de 2015 e 2016 que tornaram a vida do brasileiro ainda mais difícil.
E essa coalizão de forças capitaneada por Jair Bolsonaro foi vitoriosa eleitoralmente. A grande questão agora são os desafios que se colocam para esse governo. Sabemos que esse conjunto de forças carecia de um mínimo de unidade e, principalmente, um diagnóstico adequado para enfrentar os gravíssimos problemas que temos. Problemas como nação, nós somos um país ainda extremamente dependente, temos um passivo resultado de uma abolição que foi formal da escravatura, mas não incorporou milhões de brasileiros ao nosso processo dito civilizatório e, ao mesmo tempo, temos todas as carências de uma democracia mambembe, onde nem todos os direitos são iguais a todos e muito menos as obrigações.
Temos problemas, portanto, de toda ordem. Sabemos que esse governo Bolsonaro iria bater cabeça. Hoje mesmo, o jornal O Globo aponta em sua manchete principal que Bolsonaro reuniu Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni, seus dois principais assessores, para afinar o discurso, tudo isso por conta da bateção de cabeça em torno de questões fundamentais para a política econômica. Na semana passada, esses assessores andaram divergindo publicamente, inclusive do próprio presidente da República. Se essa reunião vai resolver alguma coisa, não sabemos, mas há algo muito sintomático em curso: é a crise de segurança no Ceará.
Aliás, problema da segurança não é apenas no Ceará, é generalizado em todo o país. Agora mesmo acabou de se encerrar aqui no Rio de Janeiro uma intervenção militar federal na área da segurança cujos resultados são bastante questionáveis. Agora, no Ceará, temos pelo sexto dia consecutivo uma onda de violência que inclui incêndio a ônibus, ataque a pessoas e até mesmo explosão em pontes. Esperávamos que justamente nessa área da segurança pública, com todo discurso que Bolsonaro tem principalmente com assessoria direta do Ministério da Justiça de Sérgio Moro, haveria algum tipo de intervenção espetacular para mostrar a que veio o novo governo, mas qual o quê, a crise no Ceará mostra que os problemas brasileiros são muito mais complexos que o mero discurso ideológico que procura, por exemplo, estigmatizar os vermelhos, o PT ou o que quer que seja.
Precisamos enfrentar os problemas estruturais brasileiros, sabemos que a equipe de Bolsonaro não tem nem competência e nem vontade de fazer esse enfrentamento. Significaria aqui no Brasil assumir a necessidade de termos uma política de independência econômica, de incorporação da massa de miseráveis e pobres na nossa vida civilizatória e, principalmente, passar por termos de fato um regime republicano democrático digno desse nome, mas as preocupações daqueles que comandam o governo Bolsonaro são os negócios. Mesmo em torno desses negócios, as divergências são abissais.
Por isso, infelizmente, nossa avaliação é que a crise irá se aprofundar e justamente por esse lado econômico, onde as pessoas estão penando com falta de empregos, de renda e, principalmente com toda essa situação agravada pela própria crise do Estado que se revela não somente nessa incapacidade em garantir segurança pública, mas especialmente em atender a população com serviços que sejam dignos na área da educação, da saúde, dos transportes, do saneamento. Portanto, a crise brasileira, infelizmente, somos obrigados a admitir, irá se aprofundar e é nesse sentido que hoje no programa iremos discutir os mecanismos que a classe trabalhadora dispõe para reagir a esse processo muito grave que tem no governo central um vetor importante do agravamento das próprias condições dessa crise. É isso que nos preocupa e é isso que hoje iremos, com nossos entrevistados, procurar esclarecer e encontrar caminhos de resistência, mas também propositivos, alternativos a esses sintomas gravíssimos da crise brasileira.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: