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Vejam como são as coisas, hoje iremos aqui discutir no programa essa prevalência de militares ocupando cargos principalmente de segundo e terceiro escalões do Governo Federal. Até aí, confesso que não vejo nenhum problema, cada governo escolhe os quadros mais adequados para tocarem seu projeto, e esse é o problema, qual é o projeto do governo Bolsonaro? Parece que é vender tudo, fazer o tal do desmanche do Estado nacional para aproveitar uma palavra já utilizada pelo general Mourão, o vice-presidente de Bolsonaro.
Essa história, portanto, compromete a cúpula militar. Muita gente gosta, inclusive no campo progressista, digamos assim, de observar uma certa influência nacionalista no meio dos nossos generais. Eu gostaria de acreditar nisso, mas todos os indícios nos mostram o contrário, Bolsonaro inclusive já fez elogios públicos ao ex-comandante do Exército Villas Bôas, que era apresentado por muitos desses progressistas que apostam nos militares como um militar confiável. Pois bem, ficou claro, inclusive na solenidade onde foi dada posse ao novo comandante do Exército, que Villas Bôas foi um quadro importantíssimo na articulação que acabou por levar Bolsonaro ao Palácio do Planalto e com esse projeto liberal privatista.
É evidente que esse projeto irá novamente comprometer os militares com um destino nacional que é muito questionável, o destino nacional que nos alinha a Washington e sacrifica todos os instrumentos que foram construídos principalmente ao longo do século XX, instrumentos de busca de um mínimo de soberania nacional para o nosso projeto que deve ser construído de desenvolvimento, mas isso parece que vai ficando pra trás.
A tônica agora são novamente as privatizações e ontem ficou muito claro isso em uma fala do senhor Salim Mattar em um colóquio promovido pelo Credit Suisse para investidores, leia-se especuladores. A matéria inclusive é do jornal Valor Econômico, jornal voltado para os negócios e assinada pelas jornalistas Nathália Larghi e Talita Moreira, e dá conta do seguinte: o objetivo do governo Bolsonaro é privatizar a maior parte das estatais e preservar apenas a Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica.
Contudo, na ótica do senhor Salim Mattar, essas estatais, as maiores, ficariam magrinhas sob o comando do governo Bolsonaro, ou seja, a ideia é operar algo que já está em curso na Petrobras com toda força desde a administração de Aldemir Bendine ainda no governo Dilma: vender subsidiárias, vender partes da empresa e isso afetando evidentemente todo complexo do sistema que, por exemplo, essas estatais, verdadeiras holdings, representam. E com isso evidentemente afetando a capacidade de geração de caixa das empresas e prejudicando inclusive alguns dos projetos mais ambiciosos.
É um verdadeiro suicídio, e tudo isso sob o comando desse senhor Salim Mattar que, veja bem, é proprietário daquela concessionária, uma empresa de aluguel de automóveis, a Localiza, mas a curiosidade é que ele é um tremendo sonegador. A Localiza, empresa controlada por ele, aparece na lista da dívida ativa da União com pendências que totalizam quase R$ 20 milhões. Essa é a tal eficiência do empresariado privado, os empreendedores desse capitalismo selvagem brasileiro.
É esse cidadão que está à frente justamente dessa dita Secretaria de Desestatização ligada ao Ministério da Economia, ao senhor Paulo Guedes. Isso mostra muito bem como estamos mal entregues e meu questionamento é justamente sobre essa vinculação absolutamente estreita da cúpula das Forças Armadas com um projeto entreguista dos financistas, tendo à frente hoje no governo o Paulo Guedes.
É uma verdadeira irresponsabilidade, sem contar essas ligações que precisam ser esclarecidas da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro, particularmente com a milícia lá de Rio das Pedras que, coincidentemente, também é acusada de ser organizadora de um tal escritório do crime que aceita encomenda de assassinatos por aluguel, essa que é a grande questão. Entre esses assassinatos encomendados encontra-se inclusive a execução da vereadora Marielle Franco.
Portanto, a cúpula das Forças Armadas cada vez mais se compromete com o governo Bolsonaro que sob o ponto de vista político está comprometido com um projeto antinacional, antipopular, que é esse projeto popular liberal privatista e, por outro lado, comprometido evidentemente com o presidente da República cuja família está intimamente relacionada com um bando de criminosos.
Francamente, eu esperava outro comportamento da cúpula das Forças Armadas e espero que haja uma mudança de comportamento desses militares. Há muita responsabilidade, nesse momento, depositada, e com razão, nesses militares que ocupam os postos do governo Bolsonaro. Os militares têm uma fama de eficiência, uma fama que eu acho que é questionável a respeito de serem incorruptíveis, mas afinal de contas temos de apostar nessas ditas virtudes.
O problema é que a própria trajetória de Bolsonaro, as características desse governo que vem sendo montado, não nos permitem nenhum tipo de otimismo, e nesse sentido nossa preocupação é muito grande. Gostaríamos na verdade que essa cúpula das Forças Armadas se afastasse completamente dessa aventura liberal privatista e, principalmente, de uma família que precisa esclarecer seus laços com esse bando de criminosos de Rio das Pedras.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: