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A organização dos trabalhadores no mundo historicamente já foi responsável pela defesa dos interesses da maioria da população contra a exploração de uma burguesia capitalista ávida por lucros. No Brasil, não é diferente, e a luta de classes se acirra ainda mais com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Neste cenário, o 1º de maio torna-se, mais uma vez, um marco na disputa pela hegemonia popular.
O programa Faixa Livre reuniu representantes de algumas das principais centrais sindicais do país para debater o verdadeiro sentido do Dia do Trabalho diante de um quadro de desmonte imposto pela administração pública e as mobilizações que se darão em todos os estados nesta data.
Na mesa, estiveram presentes o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro da Central Única dos Trabalhadores (Contraf-CUT) Marcello Azevedo, o dirigente da Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas) Gualberto Tinoco, o Pitéu, e o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Sintsama-RJ) e presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil do Rio de Janeiro (CTB-RJ) Paulo Sérgio Farias.
Nos últimos anos, iniciativas como a flexibilização da legislação trabalhista e a aprovação da terceirização irrestrita das atividades fim pela gestão de Michel Temer, prometidas para ampliar o número de vagas no mercado, precarizaram as relações entre empregadores e profissionais e elevaram o desemprego a níveis recordes.
Já no início de seu governo, o ex-capitão do Exército deu mostras de que iria potencializar o processo iniciado por seu antecessor ao extinguir o Ministério do Trabalho, criado por Getúlio Vargas na década de 1930.
“O governo Bolsonaro parece uma praga de gafanhoto, onde passa destrói tudo. Como diz o Lula, é um bando de malucos que tem como lógica fazer a pilhagem do Estado e dos direitos dos trabalhadores”, ironizou Marcello.
Além de encerrar com a Pasta que estabelece políticas públicas de fomento à criação de empregos, o político do PSL ameaçou acabar com a Justiça do Trabalho e estabeleceu como inimigo o sindicalismo do país.
“Os partidos políticos têm se preocupado mais em resolver os interesses dos patrões. É necessário que agora se apropriem da pauta da classe trabalhadora como ela é” – Gualberto Tinoco
As iniciativas para diminuir a força das entidades que fazem a representação dos profissionais no Brasil foram iniciadas pela reforma trabalhista de Temer, onde se excluiu a obrigatoriedade de cobrança do imposto sindical. Já Bolsonaro editou a Medida Provisória 873, onde estabelece que as contribuições financeiras para os sindicatos não poderão mais ser descontadas diretamente dos salários.
“É uma pauta antinacional e temos de organizar o conjunto da classe trabalhadora para esse enfrentamento. O público alvo do ataque do Bolsonaro também são as entidades sindicais pois somos nós que vamos fazer a resistência a todo esse processo desmonte dos direitos no país”, prosseguiu o dirigente da CUT.
As movimentações contra o atual presidente começaram antes mesmo da posse, em um ato convocado pelas centrais sindicais em novembro passado. Este ano, duas atividades já foram realizadas pelos trabalhadores contra a proposta de reforma da Previdência da equipe comandada pelo ministro da Economia Paulo Guedes.
“A esquerda carece de aparelhos hegemônicos, nós não temos a imprensa, não temos visibilidade, sofremos um bloqueio brutal da mídia de ‘Deus’ e da mídia do Plim-Plim, mas a mídia em geral tem nos bloqueados em todos os espaços” – Marcello Azevedo
“A classe trabalhadora está reagindo, se mobilizando e é possível agora a gente apontar a partir do dia 1º de maio uma data para a greve geral justamente por causa do crescimento da mobilização e daquela expectativa que se tinha no governo da maioria da classe trabalhadora que votou no Bolsonaro. Essa expectativa com cento e poucos dias está desmontada, as pessoas não têm nenhuma esperança de que esse governo vá fazer alguma coisa”, avaliou Pitéu.
Atualmente alguns analistas observam uma dificuldade do campo progressista em organizar a luta por direitos da parcela da população mais pobre. Uma das críticas se dá por conta de uma suposta falta de alinhamento entre a política institucional e os movimentos sindicais.
Para muitos, as estruturas partidárias defendem seus projetos de poder, priorizando a disputa por vagas no parlamento e a manutenção de cargos remunerados à mobilização das forças ligadas aos grupos representativos da sociedade civil. A teoria não foi defendida pelo presidente da CTB, apesar de reconhecer a inatividade do trabalho de base durante as gestões petistas.
“Cometemos alguns erros, de certa forma deixamos de lado a disputa de narrativa nos governos populares que tivemos de 2002 a 2016, de fazer com que os trabalhadores viessem a defender suas conquistas, de utilizar os instrumentos que tínhamos para elevar a consciência dos trabalhadores, mas penso que os partidos políticos do campo de esquerda hoje compreendem a importância de estar em uma frente ampla no sentido de defender fundamentalmente a democracia que está em perigo”, citou Paulo.
Já Marcello Azevedo culpa por um lado a escassez de empregos formais e a consequente dificuldade de financiamento dos sindicatos para a ausência de uma ação mais organizada. Por outro, cita a interferência dos governos de Lula e Dilma.
“Hoje no Brasil temos apenas um terço dos trabalhadores com carteira assinada, o restante está na informalidade ou desempregado. Isso atinge o movimento sindical de forma brutal. Acho também que havia contradições fundamentais à governabilidade do presidencialismo de coalizão, mas são contradições que vivem qualquer organização de esquerda que chega ao governo. Como não tem mais governo, não deveriam existir essas contradições, acho que o PT tem esse desafio”, destacou.
“O movimento sindical corporativista na sua essência vem de longa data, e penso que não mudará para os próximos 100 anos” – Paulo Sérgio Farias
A revisão nas regras das aposentadorias, imposta como condição para que o país volte a crescer com a ‘economia’ de cerca de R$ 1 trilhão dos cofres público em 10 anos, pode deixar cidades brasileiras à míngua.
“Ao contrário do que estão dizendo, mais de 4 mil municípios no Brasil passaram a ter problemas muito sérios porque dependem em grande parte dos recursos que os trabalhadores têm oriundos da Previdência, da aposentadoria. A reforma não vai resolver problemas, vai criá-los. Deveríamos estar com outra pauta, precisamos gerar emprego”, lembrou o secretário-geral do Sintsama.
Pela primeira vez as centrais sindicais chegaram a um acordo para a realização de um ato unificado no Dia do Trabalho. Em São Paulo, o evento realizado por Força Sindical e CUT acontecerá no Vale do Anhangabaú.
No Rio de Janeiro, o local da mobilização será a Praça Mauá. Os dirigentes tentaram organizar os festejos para a Quinta da Boa Vista, local tradicional de encontro da classe trabalhadora fluminense, no entanto o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) proibiu por conta do incêndio que atingiu o Museu Nacional no ano passado.
O membro do CSP-Conlutas destacou o caráter mundial da luta dos trabalhadores por igualdade, lembrando os atos semanais na França dos chamados ‘coletes amarelos’.
“Não é um caso isolado. O Brasil não estaria fora porque há um ataque do capitalismo aos direitos dos trabalhadores, da forma de produção e distribuição de riqueza em todo planeta. Esse 1º de maio para nós tem essa marca e acho que teremos boas surpresas amanhã com uma concentração de trabalhadores mesmo em um local que conspira contra nós que é a Praça Mauá”, encerrou.
Ouça o debate na íntegra:
Debate em 30.04.2019