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A luta dos trabalhadores pela conquista e manutenção de direitos consagrados encontra na História diversas formas de expressão, mas talvez a mais eficiente seja a greve. Os brasileiros, mais uma vez, tomam posse desta trincheira no próximo dia 14 para protestar contra os desmandos da gestão de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Convocada pelas principais centrais sindicais do país, a greve geral tem como mote principal a alteração das regras de aposentadoria encampada pela equipe econômica de Paulo Guedes. Propagandeada como ‘nova Previdência’, a reforma dissolve a seguridade social e ameaça a subsistência da população em sua fase mais vulnerável da vida.
Contudo, a pauta de reivindicações é extensa. Para debater os preparativos para a mobilização, o Faixa Livre convidou o dirigente da Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas) Gualberto Tinoco, o Pitéu, a assessora da comunicação da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-RJ) Maria Eduarda Fernandes, a Duda, e o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Sintsama-RJ) e presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil do Rio de Janeiro (CTB-RJ) Paulo Sérgio Farias.
A última vez que uma paralisação nacional com motivação política se deu no Brasil aconteceu em abril de 2017, quando trabalhadores bradavam contra a mesma medida, mas no governo de Michel Temer. A data para a realização dos atos deste mês foi definida no dia 20 de fevereiro pelas representações profissionais e anunciada no Dia do Trabalho.
“É possível construir uma grande greve geral. Queremos dobrar o número de trabalhadores parados do que conseguimos em 2017 para tentar sensibilizar os patrões, que só se sensibilizam quando você efetivamente mexe no bolso. Se não, essa turma vai entregar o país e transformá-lo em uma colônia pior ainda do que já é”, afirmou Pitéu.
O empenho das centrais sindicais para a construção da greve geral é grande. Os dirigentes têm realizado encontros de preparação não apenas nas grandes capitais, mas especialmente nas cidades do interior do Brasil, onde há dificuldade em conscientizar as pessoas.
“A pauta da soberania nacional e das empresas públicas estatais é fundamental, não pode sair de cena” – Duda
A atenção dos diretores tem se voltado para desfazer a pregação imposta pelo governo e pela grande mídia sobre os reais motivos da reforma, colocada como a salvação para a crise econômica e social que afeta o país.
“É importante que tenhamos muita atenção no discurso porque se a gente ouvir o que eles estão falando agora, dizem que a palavra reforma está na nossa boca, falam em uma nova Previdência, o que de fato está correto porque eles querem acabar com a lógica de uma Previdência social e solidária e entrar com a lógica da capitalização, da individualização, e a única pessoa que é desonerada é o patrão. A gente precisa focar nisso”, lembrou Duda.
A assessora de comunicação da CUT-RJ se refere à proposta de capitalização em substituição ao sistema de repartição. No texto em discussão no Congresso, os trabalhadores passariam a contribuir com sua própria aposentadoria, eximindo os empregadores e o governo de suas parcelas de responsabilidade no financiamento da Previdência pública.
“Esse governo foi eleito na base da fake news, mas não é um governo fake, ele sabe muito bem o que está fazendo, a quem serve” – Paulo Sérgio Farias
Os preparativos para os protestos não se resumem a assembleias nas sedes dos sindicatos. A movimentação se dá também com a distribuição de panfletos, instalação de faixas e outdoors nas vias de maior fluxo e reuniões descentralizadas para explicar os efeitos maléficos das medidas do ex-capitão do Exército.
“Hoje há uma percepção da população de que foi enganada e que o que está em curso no Brasil é um projeto contra o povo. Essa reforma não é uma reforma, é simplesmente um projeto para entregar a Previdência Social pública, o sistema de seguridade na mão dos bancos, mas quero enfatizar que há uma ampliação da capacidade de entender o momento de todos os setores da esquerda, as centrais sindicais, todos os movimentos, os partidos do campo progressista, até setores do centro, de que está em curso a entrega do Brasil”, pontuou Farias.
Um dos desafios para a construção do movimento grevista é superar o monopólio da mídia dominante. Os grandes veículos de imprensa sequer citam a ocorrência dos atos do dia 14, o que dificulta a proliferação da informação nas regiões mais afastadas.
“Estamos fazendo o maior esforço e penso que há alguma dificuldade de comunicação porque não temos espaço na mídia tradicional. Esses meios de comunicação são concessões públicas e deveriam abrir espaço para o contraditório. Hoje vinha pela manhã no caminho para a rádio e ouvia um programa tradicional o quanto aqueles apresentadores estão vibrando com a decisão do STF [sobre as privatizações sem aval do Congresso], como se consorciados fossem. Não houve nenhuma voz dissonante”, alertou o presidente da CTB-RJ.
A Suprema Corte, aliás, não se manifesta sobre a parcialidade na cobertura dos veículos de comunicação em relação à reforma da Previdência. Apesar de concordarem sobre a necessidade de uma provocação ao STF a respeito do tema, os dirigentes sindicais não creem na efetividade da demanda, dada a inclinação dos ministros.
“É uma greve que questiona a política, os meios de comunicação, a justiça, o parlamento, e faz com que o trabalhador entenda que é necessário efetivamente tomar os rumos do país para garantir o futuro” – Pitéu
“Essa não é a estratégia mais sensível para nós, gastar uma energia junto ao Estado que temos visto não ser favorável à classe trabalhadora. Melhor gastar energia no diálogo com os trabalhadores que com o Supremo, não só de tempo, mas energia financeira. Tudo tem um custo, e o custo com outdoors e cartazes me parece mais acertado do que o custo com o Supremo, que nunca jogou a nosso favor”, salientou Duda.
A atuação do Judiciário pode influenciar até mesmo a realização das manifestações do dia 14. A legislação prevê que os grevistas mantenham pelo menos 30% dos profissionais dos serviços essenciais, como saúde, em atividade. Apesar disso, há o entendimento de que os magistrados Brasil afora podem determinar a desmobilização geral dos atos.
“Invariavelmente vemos decisões da Justiça do Trabalho contra os trabalhadores, e é um paradoxo. Após a reforma trabalhista, a Justiça do Trabalho foi violentamente atacada e há setores demandando as centrais para defender a Justiça do Trabalho. Nos associamos a essa luta na defesa porque nos interessa que a proteção ao mundo do trabalho seja constituída de um regimento democrático, mas é fundamentalmente proteger o trabalhador da sanha do patrão”, avaliou o secretário do Sintsama.
Um dos setores primordiais para o sucesso da greve, o de transportes, vem anunciando adesão contínua ao movimento. Sindicatos de metroviários, ferroviários e rodoviários já firmaram em reunião a participação dos profissionais em diversas regiões. Na classe política, há apoio maciço de parlamentares de partidos progressistas aos atos.
“No dia 5 de maio tivemos uma reunião, em São Paulo, com a Frente Parlamentar Mista dos Transportes, e os trabalhadores publicaram um manifesto em apoio à greve, isso facilita o estado de coisas. É fundamental parar o metrô, mas ele não pode parar sozinho, tem de parar o ônibus. É fundamental parar o ônibus, mas também tem de parar as barcas”, ressaltou Pitéu.
Ouça o debate na íntegra:
Debate em 07.06.2019