Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:

Debate: Qual é o caminho da oposição?

Compartilhe:
debate_14_11_18_1170x530

As recém-encerradas eleições estabeleceram um novo panorama político no país. O avanço dos partidos de ideologia conservadora nos costumes e liberal na economia evidenciou às legendas progressistas a necessidade de autocrítica e uma pergunta se impõe: qual é o caminho da oposição?

 

Para debater o tema, o programa Faixa Livre convidou o sociólogo Léo Lince, o professor de filosofia Luiz Carlos Oliveira e Silva, o cientista político do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio Luis Fernandes e o diretor de projetos do Instituto de Brasilidades Patrick Fontaine.

 

As contradições na base de apoio do futuro governo Bolsonaro foram alvo de análise de Patrick, lembrando a necessidade de diálogo entre os atores para que as políticas possam ser postas em prática.

 

“Ninguém sabe muito bem para onde Bolsonaro vai conduzir o Brasil. Por um lado temos Paulo Guedes, um privatista nato, mas por outro temos o contrapeso de um conselho de militares que também dão sustentação ao governo e tem uma visão um pouco distinta desse processo, que entendem que um grupo de empresas públicas estratégicas precisa ser preservado. Vai haver um meio termo entre essas duas posições”, disse o diretor do Instituto de Brasilidades.

“O que pode estar em curso é uma revolução ‘reacionária’, porque atinge todas as três esferas da sociabilidade: economia, política e ideologia” – Luiz Carlos Oliveira e Silva

Dentre os discursos contraditórios no eixo bolsonarista, Paulo Passarinho lembrou a declaração do General Mourão, vice-presidente eleito, citando a possibilidade de privatização da BR Distribuidora. Além do fator Paulo Guedes, o cientista político Luis Fernandes destacou outros dois fatores que contribuíram para a vitória do ex-capitão do Exército.

 

“Há uma espécie de base religiosa fundamentalista que reagiu contra o que ela concebeu como exageros na promoção de direitos civis que teriam afetado valores tradicionais cristãos que se expressam fortemente no combate da ideologia de gênero, promoção de iniciativas como escola sem partido, e outra base é um complexo que combina a área de defesa e segurança pública que se expressou não apenas na composição do governo, para além de uma forte representação nas bancadas federais e estaduais eleitas pelo partido do Bolsonaro”, pontuou.

 

Um panorama concebido no Estado Novo e que vem se deteriorando com as políticas impostas desde o início da ditadura civil-militar, com risco de definitivo esvaziamento na próxima gestão, foi alvo de observação de Luiz Carlos Oliveira e Silva.

 

“O que há de mais consistente é um processo de desmonte do Brasil moderno que foi concebido pelo projeto Vargas, encontrou em Jango um momento de afirmação e aprofundamento, e foi derrotado. Com a chamada redemocratização, esse projeto, contraditoriamente ao que parecia, ganha um incentivo muito forte, sobretudo na área econômica, a desconstrução do Brasil moderno varguista vem unificando a plutocracia. Isso começa com Collor, se aprofunda com Fernando Henrique, apresenta uma espécie de congelamento nos governos Lula e Temer é o terceiro mandato dos tucanos. Bolsonaro tem tudo para ser o quarto mandato, completando essa ideia de desmonte econômico”, avaliou o professor.

“Sem uma estratégia de retomada a partir da figura do Estado, não temos perspectiva de obtermos taxas de crescimento acima de 1,5%, 2% nos próximos anos” – Patrick Fontaine

O sociólogo Leo Lince alertou para o avanço nos últimos anos de um movimento global simbolizado no Brasil pela candidatura do deputado federal do PSL.

 

“Desde 2013, vivemos uma conjuntura que mudou seu eixo, marcado pelo que Gramsci chamava de interregno, é um período de fim de ciclos e não temos os elementos de uma nova realidade possível construída a partir de consensos democráticos e de mobilização efetiva da base social. O eleitorado brasileiro deu um salto no escuro. Vamos experimentar um governo de ultradireita que de certa forma é a expressão clara desse período monstruoso do interregno”, decretou.

 

O alinhamento ideológico de Jair Bolsonaro ao presidente dos Estados Unidos Donald Trump representa também um importante movimento do imperialismo estadunidense para arrefecer o crescimento de outra nação, como analisou Patrick:

 

“Nesse século é inevitável que a China ultrapasse os Estados Unidos como potência hegemônica mundial. O que os EUA tentam fazer frente a esse avanço é fragmentar suas estruturas de aliança. A China vem a algum tempo articulando um bloco de apoio ao seu processo de crescimento e tentando incluir o Brasil a esse processo, com o Brics. O Brasil é um ponto chave dessa estratégia dos EUA”. No entanto, Luis Fernandes vê com preocupação o posicionamento brasileiro.

 

“Não acho que tivemos um alinhamento excessivo com a China através dos Brics nos governos anteriores. Apostou-se numa multipolarização e na diversificação das suas relações e políticas internacionais. Acho que isso corresponde aos interesses nacionais, e não se alinhar com uma força que está em decadência”, ressaltou o cientista político.

“Houve uma eleição atípica, com uma polarização entre um mito e uma ideia, em torno de rechaço ao voto” – Léo Lince

Segundo Luiz Carlos Oliveira e Silva, a tentativa de conter o desmonte de políticas sociais e o recrudescimento do cenário em geral que se configura passa pela construção de um bloco político que defenda os direitos consagrados pela Constituição de 1988.

 

“A hegemonia no campo progressista está em disputa. Esse movimento do Ciro [Gomes] em disputar com o PT é positivo porque tende a trazer a discussão de projetos políticos, o que talvez seja um dos maiores déficits da esquerda. O PSOL se fortaleceu, mas não a ponto de pleitear o protagonismo nesse campo. Sou contra a proposta de uma frente antifascista, estaria aquém das nossas necessidades, e uma frente socialista estaria além. Uma frente claramente antiliberal, nacionalista, comprometida com os interesses populares e democráticos, e tentar fazer com que nossa oposição ao Bolsonaro não seja apenas reativa, mas afirmativa na medida em que apresente à população uma alternativa à crise econômica, política e social”, disse.

“O sistema de representação que acompanhou a transição democrática implodiu no país” – Luis Fernandes

Para Léo Lince, é necessária a montagem, em curto prazo, de redes de proteção aos mais vulneráveis em face aos possíveis ataques daqueles que se encorajam à barbárie introjetada no discurso de Bolsonaro. O sociólogo pontua que a construção no campo progressista deve ir além da institucionalidade.

 

“É fundamental entender que, provavelmente, para estabelecer mecanismos de resistência, a ideia de uma frente que articule partidos, movimentos sociais e personalidades. Os partidos estarão subsumidos nessa lógica, assim como foi no período da ditadura. A ideia das chamadas estruturas intermediárias de poder, que têm ramificação na sociedade, terão papel importantíssimo na montagem desse tipo de posição”, encerrou.

 

Ouça abaixo a íntegra do debate.

 

Debate em 14.11.2018

Deixe seu comentário:

Apoie o Faixa Livre:

Apoie o Faixa Livre:

Baixe nosso App

Baixe nosso App

Programas anteriores