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Antes de falarmos sobre o quadro da política nacional, que se agravou nos últimos dias, eu preciso fazer um registro sobre as manifestações que tomaram conta dos Estados Unidos nos últimos dias por conta do assassinato do segurança George Floyd, negro, por um policial branco em Minneapolis, cidade que fica no estado de Minnesota, região centro-oeste do país.
Milhares de pessoas deixaram de lado as preocupações com o coronavírus e foram às ruas colocar para fora sua indignação com o racismo estrutural que faz parte da realidade do lugar há décadas, refletido especialmente na ação das forças de segurança. São cada vez mais comuns os episódios em que policiais brancos agridem pessoas negras, não raro levando à morte.
É preciso registrar que maioria absoluta dos atos, que já começam a se espalhar pela Europa, ocorre em clima de paz, mas em algumas ocasiões as ruas estadunidenses foram transformadas em verdadeiras praças de guerra, com carros da polícia sendo incendiados e algumas lojas saqueadas.
A revolta acumulada e incentivada pelo presidente Donald Trump, que anseia uma guerra civil que motive o cancelamento das eleições presidenciais deste ano, onde ele muito provavelmente será derrotado, nada mais é que a exacerbação de um sentimento de igualdade plantado por ícones da luta contra o racismo como Martin Luther King Jr. Como dizem os manifestantes nos Estados Unidos, vidas negras importam.
Enquanto isso, aqui no Brasil, os discursos do presidente Jair Bolsonaro, de seus filhos e apoiadores em ameaça à ordem democrática subiram de tom nos últimos dias. O ex-capitão do Exército voltou a atacar a imprensa, dizendo que “dezenas de fake news” são produzidas diariamente contra ele, sugeriu que as críticas de veículos de comunicação cessariam caso o governo negociasse bilhões de reais em propaganda e avisou que “tudo aponta para uma crise”, ao citar as ações do Judiciário contra sua gestão.
As posturas ameaçadoras do chefe do Executivo provocaram uma série de reações no último fim de semana. A já tradicional horda bolsonarista esteve mais uma vez na Praça dos Três Poderes ontem, sendo cumprimentada pelo presidente. O curioso é que esse movimento pró-Bolsonaro prega um suposto direito à democracia com faixas pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. As contradições desse pessoal vão longe.
Só que, dessa vez, também houve protesto contra o ex-capitão do Exército, em São Paulo, inclusive com um momento de confronto entre grupos antagônicos na Avenida Paulista. Dá para entender porque Bolsonaro quer armar os seus apoiadores. Além dos atos de rua incentivados pelo mandatário em meio a uma pandemia, alguns movimentos suprapartidários se posicionaram em defesa da democracia.
Um deles, o ‘Estamos Juntos’, que reúne cerca de 300 apoiadores, entre figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, o petista Fernando Haddad, o governador do Maranhão Flávio Dino, do PCdoB, bem como artistas de diferentes matizes ideológicas, como Fernanda Montenegro, Luciano Huck, Caetano Veloso, Lobão, e Paulo Coelho, publicaram um texto em forma de anúncio em jornais de grande circulação do país no sábado. O título do manifesto é “Somos muitos”, e eu passo agora à sua leitura. Diz o texto:
“Somos cidadãs, cidadãos, empresas, organizações e instituições brasileiras e fazemos parte da maioria que defende a vida, a liberdade e a democracia.
Somos a maioria e exigimos que nossos representantes e lideranças políticas exerçam com afinco e dignidade seu papel diante da devastadora crise sanitária, política e econômica que atravessa o país.
Somos a maioria de brasileiras e brasileiros que apoia a independência dos poderes da República e clamamos que lideranças partidárias, prefeitos, governadores, vereadores, deputados, senadores, procuradores e juízes assumam a responsabilidade de unir a pátria e resgatar nossa identidade como nação.
Somos mais de dois terços da população do Brasil e invocamos que partidos, seus líderes e candidatos agora deixem de lado projetos individuais de poder em favor de um projeto comum de país.
Somos muitos, estamos juntos, e formamos uma frente ampla e diversa, suprapartidária, que valoriza a política e trabalha para que a sociedade responda de maneira mais madura, consciente e eficaz aos crimes e desmandos de qualquer governo.
Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum. Esquerda, centro e direita unidos para defender a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia.
Defendemos uma administração pública reverente à Constituição, audaz no combate à corrupção e à desigualdade, verdadeiramente comprometida com a educação, a segurança e a saúde da população. Defendemos um país mais desenvolvido, mais feliz e mais justo.
Temos ideias e opiniões diferentes, mas comungamos dos mesmos princípios éticos e democráticos. Queremos combater o ódio e a apatia com afeto, informação, união e esperança.
Vamos juntos sonhar e fazer um Brasil que nos traga de volta a alegria e o orgulho de ser brasileiro”.
Ouça o comentário de Anderson Gomes: