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Editorial – 03.03.2020

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Hoje será realizada uma sessão do Congresso Nacional para definir a questão relativa à execução das emendas parlamentares, o Orçamento desse ano, o chamado Orçamento impositivo. É uma novidade que foi criada inclusive por Emenda Constitucional, a de número 100, e que abriu também um pretexto para uma polêmica entre os congressistas e o Palácio do Planalto, tudo em torno da forma como essas emendas parlamentares serão executadas.

 

A rigor, há uma disputa em torno de R$ 30 bilhões que são fruto de emendas produzidas pelo próprio relator da matéria, e isso criou uma insatisfação no Palácio do Planalto. Insatisfação essa que, até certo ponto, conforme deixei claro no nosso comentário de ontem, foi um pretexto para se desviar a atenção a respeito justamente de um problema que precisa ser esclarecido e onde a oposição precisa enfrentar com mais vigor, me parece, as posições que são de interesse do Palácio do Planalto.

 

Evidentemente isso não se encontra em torno da questão orçamentária, se encontra em torno das relações da família Bolsonaro com as milícias aqui do Rio de Janeiro e, particularmente, com esse ex-capitão do Bope que foi executado pela polícia baiana em condições absolutamente não esclarecidas e que, na prática, inviabilizou um depoimento que poderia ser muito importante para esclarecimento, em primeiro lugar, das ações do chamado ‘Escritório do crime’ aqui no Rio, apontado pela própria polícia como sendo comandado pelo ex-capitão do Bope, o Adriano da Nóbrega.

 

Poderia também esclarecer questões relativas ao chamado processo de rachadinha do gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, hoje senador da República, e que tem sido objeto de investigação também aqui na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro. O Fabrício Queiroz, esse misterioso assessor do Flávio Bolsonaro, amigo de Jair Bolsonaro, era quem organizava a tal da caixinha e parece que o Adriano da Nóbrega participava também dessa história, até porque a sua ex-mulher e sua mãe participavam do gabinete do Flávio Bolsonaro possivelmente, essa é a suspeita, como funcionárias fantasmas.

 

Tudo isso foi jogado para debaixo do tapete a partir de uma outra situação inusitada que foi aquele motim da polícia lá no Ceará. Ou seja, no meio de todo este bafafá que deveria ser esclarecido, surgiu a polêmica sobre a execução dessas emendas parlamentares a partir, inclusive, de um áudio que foi vazado do general Augusto Heleno, que claramente desrespeitava o Congresso. Aí virou um bafafá, todo mundo muito ultrajado com as ameaças à democracia, como se essas ameaças não estivessem em curso no país desde o início daquele polêmico processo que levou ao impedimento da Dilma.

 

Desde então, na verdade, é o Congresso, o Supremo Tribunal Federal, até mesmo o alto comando do Exército que têm, de alguma maneira, dado as cartas e definido os caminhos da tal democracia brasileira. Essa, portanto, é uma questão que talvez possa ser desfeita hoje porque, tudo indica, haverá um acordo. Ontem o presidente do Senado já se reuniu com Jair Bolsonaro e tudo indica que aquela dita batalha que, inclusive, serviu de pretexto para essa convocação de um ato dos bolsonaristas no próximo dia 15 vai, na verdade, encontrar o seu destino.

 

Tudo indica que a grande função dessa polêmica, que me parece a oposição caiu, foi justamente desviar o assunto daquilo que seria o mais importante, o esclarecimento dessas relações da família Bolsonaro com os grupos de milícias aqui do Rio de Janeiro, tendo à frente esse suspeitíssimo ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, executado pela polícia baiana no momento onde a sua captura poderia esclarecer muitas dessas questões que até hoje não são respondidas pela polícia ou pelas autoridades brasileiras.

 

Ouça o comentário de Paulo Passarinho:

 

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