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Ontem, no nosso editorial, eu comentei as provocações do governo Bolsonaro e, principalmente, mencionava a nomeação de um racista, podemos assim dizer, para a Fundação Palmares, bem como a prisão dos ecologistas em Alter do Chão. O problema é que esse capítulo das provocações vai de vento em popa. Ontem tivemos a nomeação de um maestro para a presidência da Funarte, um maestro que relaciona rock ao satanismo e fala outras barbaridades.
Os jornais de hoje trazem muitas das suas frases inacreditáveis, isso tudo depois da nomeação daquele diretor de teatro que ocupava uma direção na Funarte e agora é, nada mais, nada menos, o secretário de Cultura. É um diretor de teatro que recentemente insultou a atriz Fernanda Montenegro, talvez considerada uma das nossas maiores artistas brasileiras, uma pessoa absolutamente reconhecida pelo seu trabalho no mundo inteiro, mas o cidadão não poupou adjetivos absolutamente desrespeitosos para caracterizar e tentar difamar nossa principal atriz.
As questões são muito graves que estão em curso porque, a rigor, estamos assistindo uma escalada de retrocessos gravíssimos, mas é o nosso povo pobre que mais sofre nesse momento. É lógico que o ataque à cultura, aos artistas, hoje teremos a oportunidade de conversar com alguns deles aqui no programa, com cineastas, escritores, com o cartunista Latuff, todos a respeito dessa onda obscura que toca o nosso país, mas quero me referir principalmente a essa tragédia de Paraisópolis.
Tragédia não, isso é um crime planejado pela polícia. Há muito tempo a Polícia vem se dedicando de maneira muito violenta e repressiva à relação com as comunidades pobres e com as atividades que ainda preservam um pouco da nossa juventude, e aí me refiro aos polêmicos bailes funk.
Muita gente não gosta, acha uma manifestação artística grosseira e que precisaria ser alterada, mas isso, evidentemente, somente poderá ser conseguido se tivermos outro tratamento para nossa juventude, e deixemos que a juventude escolha o seu divertimento, aquilo que ela pode encontrar como lazer em áreas muito pobres, que são totalmente abandonadas pelo Estado no sentido de serviço de qualidade para sua população, mas que, ao mesmo tempo, é objeto desse ódio permanente da polícia, e esse ódio evidentemente é estimulado.
Ontem mesmo o senhor Doria, governador de São Paulo, negou qualquer culpa da PM, apesar das imagens que todos nós estamos acompanhando pela televisão, e disse que os policiais serão preservados em meio àquela campanha do Bolsonaro que está em curso a favor do tal excludente de ilicitude, o mecanismo que visa dar carta branca aos policiais para continuar essa matança. A bandeira não é somente do Bolsonaro, é desse ex-juiz Sergio Moro, que também defende esse tipo de barbaridade. Onde essa gente quer chegar?
Realmente o objetivo será eliminar os nossos jovens? Um Estado que não garante educação de qualidade, creches adequadas para as mães desses jovens e, ao mesmo tempo, os trata da forma mais brutal possível conforme essas imagens retratam muito bem? Até onde iremos segurar essa situação e, principalmente, até onde iremos continuar dando respaldo a governantes que nutrem ódio pela nossa juventude pobre, nossa juventude preta, nossos juventude que precisaria de outro tipo de tratamento por parte do Estado, mas não, o que se quer é cada vez mais mortes, repressão e esse incentivo à violência, à proteção dessas ações criminosas da polícia e o desvario que observamos desses policiais que, na sua esmagadora maioria, também vem das classes populares, mas não têm o menor constrangimento em atacar os seus irmãos.
É a ideologia do ódio que está embalando as nossas forças policiais a partir do incentivo dessa gente que ocupa postos de comando dos governos tanto no estado de São Paulo, como em Brasília. O problema é que essa moda pegou, temos vários governadores, inclusive aqui no Rio de Janeiro, que tocam por esse mesmo tom. É o tom da morte, da injustiça, da violência, é o tom que devemos derrotar porque, se não, o que está em jogo é o nosso próprio futuro.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: