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Foram apresentadas ontem no Palácio do Planalto as peças publicitárias que irão embalar a propaganda a respeito do chamado pacote anticrime. Essa campanha tem como objetivo procurar viabilizar uma das prioridades do governo Bolsonaro e do Sérgio Moro, que é justamente essa nova legislação que, entre outras coisas, acaba concedendo uma espécie de licença para matar para policiais.
É aquela história onde se um policial estiver sob escusável medo, surpresa ou violenta emoção, pode ser admitido que ele use de uma arma para matar aquele que julgar como suspeito. Esse tipo de procedimento por parte da polícia, na prática já está em curso. Temos vários exemplos aqui no Rio de Janeiro de cidadãos que foram alvejados por suspeitas por parte da polícia, suspeitas inclusive absolutamente infundadas. Gente com furadeira ou com guarda-chuvas na mão pode acabar sendo objeto dessa ação policial.
Agora o que se pretende é dar mais respaldo legal para esse tipo de arbitrariedade, isso em um momento onde a violência vai crescendo de forma inédita aqui no nosso país e, particularmente, no Rio de Janeiro. Aquela área, por exemplo, do morro da Pedreira, morro da Lagartixa, nas redondezas da antiga Fazenda Botafogo, há mais de 24 horas encontra-se sob situação de guerra, pelo menos para boa parte da imprensa especializada que cobre esses problemas da criminalidade.
Ontem também a polícia finalmente agiu no sentido de prender os suspeitos por ocultar as armas que levaram à execução da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes, um crime que precisa ser elucidado. O tempo vai passando e evidentemente as condições para esse esclarecimento fundamental vão ficando para trás. Esperamos que a polícia consiga evoluir, assim como foi ontem também que surgiram essas denúncias de membros da PM que teriam invadido o hospital que atendeu a menina Agatha, esses policiais procuravam resgatar, esconder, na verdade, fragmentos da bala que atingiu a menina e a matou.
Essa é a polícia que temos, esse é o governo que temos, essas são as prioridades. O governo pretende gastar R$ 10 milhões para a propaganda desse pacote anticrime, enquanto a população vai sofrendo as piores consequências de um processo que não é evidentemente apenas criminal, é um processo que é embalado pela crise econômica, crise social, pelo abandono secular de milhões de brasileiros que, infelizmente, ainda hoje têm o reflexo nas suas vidas da herança da escravidão. Essa é a realidade do Brasil.
Não será com violência, com esse tipo de ministro da Justiça ou presidente da República que vamos enfrentar os problemas estruturais da sociedade brasileira, que precisa de uma verdadeira revolução no sentido de conferir para a imensa maioria da população plenas condições de vida, de trabalho, de acordo com as imensas riquezas que o nosso país tem. O divórcio entre essa possibilidade real de uma vida boa para todos os brasileiros e a realidade que a gente vive se encontra justamente em instituições carcomidas, como a própria Polícia Militar, e em governantes absolutamente irresponsáveis e sem o menor sentido da noção de nação brasileira conforme estamos assistindo hoje com os integrantes do Palácio do Planalto e dos Ministérios que compõem a Esplanada.
É uma verdadeira tragédia, mas as lições que a história vai nos deixando poderá fazer com que a gente desperte para uma realidade inevitável. Precisamos fazer com que o Brasil encontre o seu futuro e isso vai se dar exatamente nas lutas do presente.
Ouça o comentário de Paulo Passarinho: